O aniversário do poeta Jesus

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Por Edyr Augusto Proença

João e Violeta iam sempre visitar meus pais. Levavam Pedro, seu filho, que mexia em tudo. Eu ainda não me interessava muito pela conversa. Adiante, comecei a ter idéia da dimensão daquele homem que estava na minha casa. Seus títulos, livros traduzidos e lançados internacionalmente, sem nunca deixar o foco em sua terra, a Amazônia e suas encantarias. Foi o último Secretario de Cultura que a cidade de Belém já teve. Depois dele, o nada. Foi Secretário de Educação do Estado e deveria ser muito mais, mas a cidade é cruel e auto destrutiva. Gosto de chama-lo de João. Mas todos o conhecem como Jesus, ou, mais respeitosamente, Paes Loureiro. Orgulhoso, cioso de seus títulos? Nada disso, justo o contrário. João é autor de letra de samba enredo do Quem São Eles, maravilhosa, como sempre. E desfila na ala de compositores. Mais popular que isso…

É parceiro de outros compositores paraenses, com vários discos gravados. Talvez por essa naturalidade, essa facilidade de acesso à sua pessoa, eu tenha tido a insolência, a audácia de pedir-lhe que escrevesse uma introdução ao meu primeiro livro com poemas. Máxima audácia. Um garoto, influenciado pela poesia marginal, pedindo a um dos melhores poetas brasileiros em todos os tempos, uma introdução ao seu trabalho de estréia. Até hoje me dou conta de sua generosidade, que acredito, é sua maior qualidade. Sou muito honrado por isso. Foi meu professor de Ética na Ufpa. Amado e idolatrado por quem desfruta de seus ensinamentos.

Às vezes penso que basta dar um tema qualquer, “copo”, por exemplo, e ficar ali me deliciando horas e horas ouvindo-o discorrer sobre aquilo. Fala pausado, explicado, tornando o que poderia parecer difícil, extremamente fácil. Quando nos encontramos, conversamos como velhos amigos que somos, claro, eu disfarçando a imensa admiração que tenho pela pessoa e pela obra. Privilegiando sua aldeia, alcançou o mundo. Sigo o mesmo caminho em meus livros e o brilhareco que tenho tido.

Na Livraria Fox, ponto de encontro, com apoio da Empíreo, realizamos a Feira Literária do Pará, evento totalmente independente, para divulgar a Literatura feita em nosso Estado. João esteve lá, seja apresentando autores como Adalcinda Camarão, seja como Patrono do evento, uma mínima homenagem a alguém tão grande. E no entanto vejo este homem, cabelos e barba branca, andando pelas ruas de Batista Campos, anônimo, aparentemente só, mas na verdade, acompanhado por um cortejo de seres encantados, deuses, lendas que o seguem em proteção ou, quem sabe, protegidos. No que estará pensando? Na última vitória do Remo ou mergulhado em sua riqueza mental, desenvolvendo um poema que pediu um passeio antes de ser concluído?

Poetas têm idade? Não, claro. A obra é eterna. Mas há uma contagem de tempo, a ser vir muito mais a pessoas comuns, como nós, não aos poetas. Assim, informo que João de Jesus Paes Loureiro está completando 80 gloriosos anos. Vou beija-lo. Vou abraça-lo. Vou reverencia-lo como merece. Vou refletir sobre a força da humildade, daquele que sabe o seu tamanho e está seguro disso. E assim, abre seus braços generosos para o mundo, para a Amazônia, sua floresta, sua gente, matintas, botos acolhendo a todos. Feliz aniversario, João.

(publicado em O Diário do Pará, coluna Cesta em 21.06.19)

Contra o Peru, Tite revive tensão de Dunga

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Neste mês, Tite completou três anos à frente da seleção brasileira. E depois de começar essa trajetória com uma resposta rápida, de bom futebol e ótimos resultados, o técnico agora encontra um cenário de maior pressão. Muito parecido com o que seu antecessor, Dunga, encarou na Copa América Centenário, em 2016, quando também chegou à rodada final da fase de grupos precisando somar pontos contra o Peru. O novo encontro dos países está marcado para as 16h de hoje, na Arena Corinthians, em São Paulo, no fechamento do Grupo A da Copa América.

Pesava sobre Dunga a fracassada campanha na Copa América de 2015, com eliminação nas quartas de final para o Paraguai, e o início ruim nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018. Esse desgaste custou a demissão do técnico. Tite foi o escolhido para tentar mudar a imagem da seleção brasileira e, a princípio, foi muito bem-sucedido.

O time passou a jogar um futebol mas bonito, ganhou jogos importantes e terminou as Eliminatórias em primeiro, com ótima campanha. O técnico chegou ao Mundial na Rússia com apenas uma derrota, em um amistoso contra a Argentina na Austrália, e era visto como um salvador. Havia até uma série de memes para pedi-lo como presidente do Brasil.

Só que todo esse clima de paz construído com méritos ruiu após a eliminação para a Bélgica nas quartas de final da Copa. Tite começou a ser pressionado para não convocar mais jogadores marcados por derrotas grandes da seleção, como Paulinho, Fernandinho e Willian, não conseguiu mais emplacar boas atuações nos amistosos e ainda sofreu com um empate contra o fraco Panamá.

A forma como abraçou e conduziu paternalmente os problemas envolvendo Neymar nos últimos meses também serviu de munição para os críticos. O corte do atacante ajudou a tirar um pouco desse peso de Tite, que enfim fez o Brasil ser mais leve e ofensivo no amistoso contra Honduras e na estreia da Copa América contra a Bolívia.

Ainda assim, a seleção tem convivido com a frieza e a insatisfação dos torcedores. Vaias apareceram contra os bolivianos no Morumbi e, principalmente, no empate por 0 a 0 com a Venezuela em Salvador, na última terça-feira. O público crê em obrigação do Brasil pelo título em casa e o fracasso na Copa ainda ecoa.

Agora, assim como com Dunga em 2016, a seleção chega à última rodada da fase de grupos da Copa América precisando de apenas um empate para se classificar às quartas de final. E de novo com os peruanos no caminho, agora com um time bem mais cascudo e confiante. O Brasil, é verdade, também é melhor do que há três anos, mas a pressão é a mesma.

Para que uma eliminação precoce aconteça de novo, não basta só perder do Peru. Seria preciso que a Venezuela vencesse a Bolívia, também no Grupo A, para derrubar o Brasil para a terceira posição. Ainda assim, uma combinação de resultados nas outras chaves seria necessária, já que os dois melhores terceiros colocados também avançam às quartas. E, passadas duas rodadas, nenhum outro terceiro chegou a quatro pontos.

Local: Arena Corinthians, em São Paulo (SP)

Data/Hora: 22 de junho de 2019, às 16h

Árbitro: Fernando Rapallini (Argentina) Assistentes: Hernán Maidana (Argentina) e Eduardo Cardozo (Paraguai) VAR: Andres Rojas (Colômbia)

BRASIL: Alisson, Daniel Alves, Marquinhos, Thiago Silva e Filipe Luís; Casemiro, Arthur e Philippe Coutinho; Richarlison (Gabriel Jesus), David Neres (Everton) e Roberto Firmino. Técnico: Tite.

PERU: Pedro Gallese, Luis Advíncula, Miguel Araujo, Luis Abram e Miguel Trauco; Renato Tapía, Yoshimar Yotún, Andy Polo, Christian Cueva e Jefferson Farfán; Paolo Guerrero. Técnico: Ricardo Gareca.

Rock na madrugada – Creedence Clearwater Revival, Side O’ the Road

A noite de glorificação dos Ramones

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Devidamente caracterizado para a ocasião, Eddie Vedder fez a saudação aos Ramones na festa de introdução do grupo punk no Rock’n’Roll Hall of Fame, no dia 18 de março de 2002, no hotel Waldorf Astoria, em Nova York. Amigo dos integrantes da banda, Vedder trabalhou como roadie dos Ramones antes de se tornar vocalista do Pearl Jam.

O reconhecimento aos pais do punk teve como ponto alto o discurso de Vedder. CJ Ramone, sentado na plateia e fora da programação oficial da organização, foi citado pelo cantor do Pearl Jam. No papel de fã, Vedder reconheceu a relevância de CJ, sua influência para os fãs de hardcore e puxou a fila nos aplausos ao músico.

ROCK HALL, NEW YORK, USA

Johnny Ramone, de braços cruzados, parecia desconfortável com a situação. Ele, aliás, ao final do discurso citou o ex-presidente americano George W. Bush enquanto Dee Dee, caricato como sempre, agradeceu a si mesmo.

Já o ex-baterista e produtor Tommy Ramone, único membro fundador ainda vivo, destacou a importância que este tipo de homenagem tinha para o já falecido vocalista Joey Ramone. Reafirmou o quanto eles gostavam uns dos outros apesar das muitas brigas. Depois da festa, os casais Johnny & Linda Ramone, Eddie & Jill Vedder, Kirk Hammett e amigos se reuniram para um jantar fechado.

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A frase do dia

“O chefe da máfia estatal, o “trombadinha da elite do atraso”, Sérgio Moro, que opera com meios milicianos: fraude, mentira, chantagem e extorsão, foi exposto. A hora da verdade chegou: retomamos a civilidade ou a máfia se apropria de vez do Estado. Qual o seu lado?”. 

Jessé Souza, escritor e sociólogo

Crimes contra jornalistas, radialistas e blogueiros aumentam 30% no Brasil em 2018

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Graves violações contra comunicadores, como jornalistas, radialistas e blogueiros, aumentaram cerca de 30% em 2018 se comparado com o ano anterior no Brasil, de acordo com relatório divulgado pela organização internacional Artigo 19.

Segundo o estudo “Violações à liberdade de expressão”, foram registrados 35 graves violações, sendo 26 ameaças de morte, quatro homicídios, quatro tentativas de homicídio e um sequestro no ano passado. Em 2017, a Artigo 19 registrou 27 casos.

O ano de 2018 repetiu o número registrado em 2012 e 2015, anos com a maior quantidade de casos. É a sétima vez que a organização publica esse relatório. A Artigo 19 é uma organização internacional de direitos humanos que atua na defesa e promoção da liberdade de expressão e do acesso à informação pública.

As informações apuradas no relatório dizem respeito somente às graves ocorrências. No entanto, também são monitoradas outras formas menos graves de violações, que servem de subsídio para o levantamento.

Segundo o estudo, o ano de 2018 foi internacionalmente reconhecido como violento para jornalistas. No Brasil, o perfil mais vulnerável é o do comunicador que atua em cidades pequenas, 19 casos (54%).

Os jornalistas foram os mais atingidos por graves violações em 2018, correspondendo a 17 casos (49%), sendo a maioria dos casos de ameaças de morte, em 14 ocorrências. Em segundo lugar, aparecem os radialistas, com 12 casos (34%), o maior número já registrado pela Artigo 19 de violações contra essa categoria.

Dos quatro assassinatos, dois casos foram de radialistas, um em Goiás, outro do Pará. Relatório do Ministério Público mostrou que, entre 1995 e 2018, 64 jornalistas, profissionais de imprensa e comunicadores foram mortos no exercício da profissão no Brasil.

Dos 35 comunicadores, 27 relataram ter sofrido algum tipo de violação anterior, como agressões verbais, intimidação, processos judiciais dentre outras. Dez contaram já ter recebido ameaças de morte em razão de sua atuação.

O relatório também identificou 5 casos de atentados a redações ou sedes de veículos em 2018. Em alguns casos, blogueiros e outros comunicadores trabalham em suas casas.

Em 2018, houve 11 casos de violações online, quando alguma ferramenta online serviu de meio para a veiculação de ameaça de morte, como aplicativos de mensagens, mídias sociais ou e-mails. Oito jornalistas foram alvos online. O relatório chama atenção para as subnotificações, já que muitos jornalistas não relatam essas ameaças.

Onde ocorrem as violações

A região Nordeste segue com o maior número de graves violações, com 13 casos, seguida pelo Sudeste, 8 casos, onde está a maior parte dos veículos de comunicação do Brasil, e 7 no Norte, dentre eles dois assassinatos.

São Paulo continua como o estado com mais casos, 5, repetindo o número de 2016 e 2017. Em seguida, aparecem Bahia e Paraíba, com 4 casos cada.

Apesar de as cidades pequenas concentrarem o maior número dos casos, houve crescimento nos registros ocorridos em cidades grandes (com mais de 500 mil habitantes): de 2 para 8 violações.

Quem comete?

Dentre as pessoas que mais cometem as violações estão políticos, policiais e agentes públicos em todos os anos levantados pelo relatório: 18 (51%) foram cometidas por agentes do estado, das quais 15 tiveram políticos por trás.

Os comunicadores são mais perseguidos após fazerem denúncias: 26 dos casos apurados (74%). A organização também chama a atenção para o alto número de casos em que os autores não se encaixam em nenhum perfil específico. “Trata-se do que uma das vítimas apontou com preocupação: a ascensão do cidadão comum como agressor. Alguns desses casos possuem um autor específico responsável pela ameaça, enquanto em outros há uma variedade de agressores”, diz o relatório.

“Outro traço dos ataques online é o ataque à figura pessoal da comunicadora ou comunicador. Dentre todos os tipos de motivação aqui listados, notamos ofensas e ataques direcionados à pessoa, não apenas ao conteúdo de sua produção. Este nível de personalização da agressão é preocupante, em especial quando a fronteira entre perfil pessoal e profissional de comunicadores em redes sociais muitas vezes não existe”, completa.

A principal motivação segue sendo a realização de denúncias, o que se nota em 26 dos casos apurados (74%).

“Os casos de graves violações em 2018 demonstram dois aspectos do cenário de violência. Primeiro, se reforçam as tendências históricas de ataques de pessoas poderosas, especialmente políticos, contra comunicadores em cidades pequenas que realizam denúncias contra ações realizadas por essas pessoas. Em segundo lugar, fica evidente um cenário que já vinha se desenhando nos últimos anos: os ataques online contra comunicadores têm se intensificado e impactado a vida e o trabalho de comunicadores inclusive fora da esfera virtual, de modo que novos desafios no enfrentamento da violência são colocados”, afirma Thiago Firbida, assessor de Proteção e Segurança da Artigo 19 e responsável pelo relatório. (Publicado no G1)

IstoÉ ou QuantoÉ?

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Por Kiko Nogueira, no DCM

A Istoé fez uma matéria no padrão IstoÉ para defender o ministro Sergio Moro.

O autor é o veterano jornalista Germano Oliveira, assessor informal da República de Curitiba, autor do famoso post de janeiro de 2018 comemorando a condenação de Lula com outros colegas.

“Essa turma eh da pesada e se reuniu hoje na sede do TRF4, em Porto Alegre, quando os desembargadores condenaram Lula por 3 a 0 a 12 anos e 1 mês de cadeia. Ainda da psra confiar na Justiça”, escreveu nas redes.

Segundo a peça de propaganda, os diálogos são “fruto da violação de celulares de autoridades brasileiras”, que é a versão oficial lavajatista. Carluxo poderia assinar a coisa tranquilamente.

A conta Xadrez Verbal, do Twitter, fez um bom trabalho desmontando a porcaria toda:

Uma hipótese comentada é a do uso do Telegram para desktop, ou ainda um vazamento interno. 

Aí diz que “jornalista Glenn Greenwald, dono do site The Intercept Brasil”. Não, Greenwald é editor, o dono do Intercept é Pierre Omidyar, fundador do eBay. 

É um erro tão grosseiro quanto dizer que o William Bonner é o dono da Globo.

Segue: “Em 2013, Snowden se aproximou dos irmãos bilionários Nikolai e Pavel Durov”. Não, Snowden, já asilado na Rússia, recebeu uma oferta de emprego por Pavel Durov como manobra publicitária. Eles nunca trabalharam juntos. 

Novamente, o “Pelé dos hackers” teria sido contratado pela merreca de 300 mil dólares “em bitcoins (a moeda virtual)”. Sim, “A” moeda virtual, caro internauta.

“O dinheiro teria circulado pelo Panamá antes de chegar a Anapa, na Rússia, onde foi transformado em rublos”. (…)

Aí vem a ideia de que os irmãos Durov, fundadores do Telegram, estariam apoiando Greenwald por “motivações puramente ideológicas. Adeptos do islã, eles teriam ficado enfurecidos com a proverbial predileção do presidente Jair Bolsonaro por Israel”.

Não há nenhum indício de que algum dos irmãos seja muçulmano tirando o fato de serem residentes de Dubai (uma cidade com 85% da população de origem estrangeira).

O matemático Nikolai se dizia ateu e Pavel frequentemente fazia trollagens sobre o pastafari, a religião paródia do Monstro do Espaguete Voador. Além disso, o Instagram de Pavel não é o mais adequado ao pudor religioso. 

Aí Germano Oliveira diz “Não custa lembrar que Greenwald e Snowden foram parceiros num trabalho desenvolvido em 2013” e que, por isso, “Greenwald se refugiou no Brasil, casando-se com o brasileiro David Miranda”. 

Tudo errado. Greenwald está com Miranda desde 2005. Teve matéria com a casa deles na Caras até! 

O texto continua ligando os vazamentos a “hackers profissionais” até fazer uma ligação com uma operação da PF, chamada Chabu, que prendeu integrantes da PF.

Por vazarem dados INTERNOS da polícia, não por saíram hackeando as pessoas, é uma ligação sem pé nem cabeça. Termina falando numa conexão Brasil-Rússia-Dubai que mais parece vôo da Emirates do que jornalismo.

Para complementar e ficar mais fácil para quem ler essa thread. 

O hacker citado é um dos mais famosos do mundo, é um “alvo fácil” pra acusar e 300 mil dólares é muito dinheiro pra mim e pra você; para contratar alguém que deu um golpe de mais de 20 milhões de dólares? Ainda mais para hackear pessoas importantes? Não é um valor razoável

Sobre rublos: russos não confiam no rublo, uma moeda fraca, poupam em dólar ou em euro sempre que podem. Faria ainda menos sentido um hacker usar rublos. 

Além disso, notem que a matéria não possui nenhuma aspa, nenhuma declaração, nada. Ou frases do Moro perante o Senado e o único nome citado é “Sob a coordenação do diretor-geral Maurício Valeixo, a PF acredita ter se aproximado dos hackers”. 

Oras, claro que é sob coordenação de Maurício Valeixo, ele é chefe da PF. 

É isso. Pode ter hackers? Sim. Podem ser hackers russos? Sim. Os irmãos Durov podem ter se tornado “muçulmanos malvadões”? Vai saber.

A matéria tem algo de concreto? Não. Tem um monte de erros? Sim.

Possui nenhuma aspa, nenhuma declaração, nada. Ou frases do Moro perante o Senado e o único nome citado é “Sob a coordenação do diretor-geral Maurício Valeixo, a PF acredita ter se aproximado dos hackers”.

A marcha do tiro no pé

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“Jesus mirou quem mesmo com uma arma? Não consigo lembrar.e ele ria assim, qdo pegava uma arma imaginária? Quem Jesus considerava inferior a ele, a ponto de mirar pra baixo? Jesus atirava no próprio pé, ou no pé do próximo, a quem ele amava como a ele mesmo?? Tô confusa…”.

Zélia Duncan, cantora, no Twitter

Em maré baixa, Fernando Torres anuncia aposentadoria aos 35 anos

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O atacante espanhol Fernando Torres anunciou hoje, através de suas redes sociais, a aposentadoria do futebol após 18 anos de carreira. “Chegou o momento de pôr um ponto final à minha carreira”, disse Torres, que estava no Sagan Tosu, do Japão, em um vídeo de um minuto de duração divulgado através do seu perfil no Twitter.

Após uma série de imagens que refletem seus “apaixonantes 18 anos” de carreira, com passagens pelo Atlético de Madri, Liverpool, Chelsea e Milan, Torres afirmou que no próximo domingo dará uma entrevista coletiva onde vai informar todos os detalhes de sua decisão.

Fernando Torres, de 35 anos, chegou ao Japão em julho de 2018, com um contrato de ano e meio, onde tinha previsão de permanecer até dezembro, com a opção de renovar por mais uma temporada. Pelo clube japonês, “El Niño” Torres disputou 28 partidas, marcando somente três gols. O Sagan Tosu atualmente é o lanterna da J-League.

Natural de Fuenlabrada (Madri), Torres começou jogar futebol em equipes da sua cidade. Na temporada 1994-95, ele entrou nas categorias de base do Atlético de Madri. Pela seleção espanhola, Fernando Torres conquistou o bicampeonato da Eurocopa (2008 e 2012) e a Copa do Mundo de 2010, disputada na África do Sul. (Do UOL)

O governo mais ideológico da história?

Por Rudolfo Lago

Talvez para todo o sempre – mas certamente até aqui -, o modelo que segue administrando nossa correlação de forças política ainda é o criado após o fim da ditadura de Getúlio Vargas em 1945. Naquele momento, e até o golpe militar de 1964, fomos regidos por um triunvirato formado por PSD, PTB e UDN. A UDN era o partido conservador, de direita, surgido com a ascensão da classe média urbana e de seus profissionais liberais. O PTB era o partido trabalhista, de esquerda, que unia sindicatos e movimentos de trabalhadores, braço do getulismo. E o PSD a grande conformação de centro, que unia os caciques regionais. Brilhantemente retratado no livro da cientista política Lucia Hippolyto – “PSD, de Raposas e Reformistas” -, era o partido que garantia a governabilidade, impedia maiores arroubos e mantinha a fórmula estável.

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A ditadura militar acabou com os partidos pós-1945. Quando houve a redemocratização, surgiram novas legendas. Houve uma maior diluição, e a criação de partidos que não são absolutamente nada, não têm ideologia nenhuma e atuam como parasitas a sugar a seiva de quem quer que chegue ao poder. Mas, por trás dessa geleia, parece sobreviver o espírito do triunvirato PSD, PTB e UDN. A UDN está em todas essas conformações de direita. Não por acaso, num momento em que a direita ascende, há gente aí inclusive tentando ressuscitar a sigla. O PTB está no espírito trabalhista dos nossos principais partidos de esquerda. O PDT como herdeiro original, o PT tentando inicialmente fazer um contraponto ao antigo trabalhismo, para, na prática, não ser lá tão diferente.

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Mas é principalmente o PSD que parece estar no cerne do espírito da busca da coalizão para a manutenção da governabilidade. E, aqui, não falamos necessariamente da coalizão distorcida. Da governabilidade mantida a partir do toma-lá-dá-cá, do fisiologismo, do “É dando que se recebe”. Mas da coalizão saudável. Da necessidade de concertação diante dessa multidão de partidos, numa sociedade multifacetada.

Até a eleição de Jânio Quadros, o PSD deu um jeito de manter a governabilidade apesar dos arroubos da direita extremada doida para dar um golpe. Quando Jânio se elegeu, imprevisível, o arranjo de concertação foi pro vinagre, e deu no que deu.

Não são poucos agora os que sentem um cheiro de Jânio no ar. Além do grau de imprevisibilidade parecido, soma-se agora a extrema casca ideológica do núcleo duro no poder. Possivelmente, temos hoje o governo mais ideológico da nossa história – incluídos aí os governos das ditaduras. O que tem feito bater na trave todas as tentativas de moderação vindas do centro. O resultado não poderia ser outro: instabilidade crônica.

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Os episódios das demissões do general Santos Cruz da Secretaria de Governo e de Joaquim Levy da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) são fortes exemplos disso. Na campanha, Bolsonaro elegeu-se com o discurso da necessidade de retirar da vida das pessoas a influência ideológica. Afirma que isso acontece nas escolas, que é assim nas universidades, etc. Mas, na melhor das hipóteses, o presidente apenas trocou uma ideologia por outra. Na pior, e que está se mostrando mais provável, introduziu na nossa rotina uma ideologia forte como nunca antes se viu.

O fato de Joaquim Levy ter sido ministro da Fazenda de Dilma Rousseff é um exemplo claro de que ideias mais conservadoras podiam habitar no universo anterior. Essa, aliás, foi a grande crítica que então se fez a Levy e a Dilma: ela passou a campanha dizendo que não havia crise, e botou um cara para fazer o choque fiscal da maneira mais conservadora possível na economia. Levy não foi parar como um clandestino na equipe de Paulo Guedes. Levy sempre foi muito mais próximo ao pensamento de economistas como Guedes do que da turma da esquerda.

Mas Levy cai somente por causa dessa sua vinculação passada. Porque Bolsonaro sonhou com uma devassa nas contas do BNDES, que mostraria monstruosas irregularidades cometidas com o nosso dinheiro. Levy não entregou a tal devassa. Agora, veremos se não fez isso por alguma lealdade aos antigos patrões ou porque não encontrou mesmo nada de tão grave assim. Levy sai do governo elogiado por Rodrigo Maia e outras figuras do centro.

Já Santos Cruz era junto com Hamilton Mourão o retrato de uma moderação militar que ninguém esperava muito antes da eleição. Era ele quem evitava na Secretaria de Governo que imperasse uma relação radical, que elegesse a imprensa como inimiga, só falasse com blogs amigos e jogasse o equilíbrio às favas. Ou seja: uma radicalização a um grau extremo de algo que os governos petistas ensaiaram, principalmente nos seus últimos momentos: imprensa como inimiga e ajuda aos blogs amigos.

Assim como aconteceu com o imprevisível e bagunçado Jânio, o centro faz agora ensaios de afastamento. Ou de ser afastado, o que neste momento parece ser a leitura mais correta. Na manhã desta terça-feira, faziam na Câmara do Rio uma homenagem a Mourão, e Carlos Bolsonaro deixou a sessão em protesto.

Na época de Jânio, o afastamento do centro representado pelo PSD desequilibrou a fórmula e permitiu a ascensão dos radicais, de um lado e de outro. O que levou ao golpe militar e a ausência de democracia por vinte anos nas nossas vidas.

Deus queira que nada de parecido aconteça agora. Mas o Brasil certamente não são os 15% mais radicais que aplaudem os posts incompreensíveis de Carlos Bolsonaro ou que riem das piadas escatológicas de Olavo de Carvalho. Se é verdade que o país precisa das reformas estruturantes, como a da Previdência, a aprovação delas passa pelo centro. Pelo PSD diluído hoje no Congresso e comandado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia. A fórmula que nos mantém estáveis permanece a mesma. (Transcrito de Os Divergentes)