Klose, maior goleador das Copas, vai à Rússia como treinador de atacantes

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Quando a Copa do Mundo começar, nos gramados da Rússia, em meados de junho, o futebol não poderá ver em ação um jogador que inscreveu seu nome nos anais da história: Miroslav Klose. O atacante marcou o seu 16º gol em Copas na caminhada para o título alemão no evento de 2014, e superou ninguém menos que o brasileiro Ronaldo Fenômeno. Klose decidiu finalmente descalçar as chuteiras em 2016, com 137 jogos internacionais – nos quais marcou 71 gols -, 24 partidas de Copa do Mundo e vários títulos e distinções individuais.

Apesar disso, Klose estará presente na Rússia aos 39 anos como integrante da comissão técnica da seleção alemã, que defenderá o título. Seu objetivo é contribuir para melhorar ainda mais o desempenho de seus sucessores em potencial, como Timo Werner. O FIFA.com falou com este excepcional atacante já se aposentou sobre suas memórias da Copa do Mundo, o evento que acontecerá na Rússia e seu fabuloso recorde.

Miroslav, você participou de quatro copas mundiais realizadas em quatro continentes diferentes. Descreva o que significa para um jogador de futebol jogar uma Copa do Mundo.
Miroslav Klose – Uma Copa do Mundo é sempre algo especial e indescritível. E se, no final, você acabar levantando o troféu, é simplesmente incrível. Sinto-me feliz porque ganhamos a Copa de 2014, porque sempre ficamos na fase final. Em 2002, chegamos à final e, nos dois mundiais seguintes, caímos nas semifinais.

A Alemanha é sempre uma seleção temível em torneios. O que é clichê ou verdade nesta declaração?
MK – Nós, pela seleção alemã, sempre nos sentimos como uma verdadeira equipe em todos os campeonatos. Isso é algo que sempre nos levou longe. Esse espírito, essa dinâmica, não brotam apenas durante o torneio, mas são gestados em preparação.

A Alemanha pode defender o título em 2018?
MK – Estamos dispostos a ir longe, mas devemos conjurar esse espírito de equipe. A Alemanha tem ótimos talentos e jogadores fantásticos com excelente qualidade, mas você deve aparecer no tribunal no momento certo. Eu sempre tive esse senso coletivo em mente. Para mim, a equipe é a prioridade absoluta. Quando todos os jogadores atuam no seu melhor, toda a equipe se beneficia disso.

Poderia haver surpresas?
MK – Em todas as Copas do Mundo, há uma seleção que você vê que joga bem e, a partir daí, começa a crescer. Isso pode até levá-la a vencer grandes rivais.

Quais jogadores deixarão sua marca na Copa do Mundo?
MK – Quase sempre são iguais, estrelas como Cristiano Ronaldo e Lionel Messi. Claro, cada equipe tem um punhado de jogadores especiais. Eles podem não ser os nomes que todos sabem, mas eles são tremendamente importantes para suas respectivas seleções. É algo que você tem que saber como apreciar e reconhecer.

O que você espera do torneio na Rússia em geral?
MK – Será muito especial. Já vivemos na Copa das Confederações. A atmosfera nos estádios era boa, com uma multidão de fãs vibrando. Será uma fantástica Copa do Mundo.

Vamos falar agora sobre você, que é o maior goleador da Copa do Mundo. Você está ciente de que é um ícone?
MK – Não me vejo como um ícone, mas reconheço que é algo incrível. 16 gols… Parece um sonho. Em qualquer caso, devo agradecer aos meus colegas, porque sem eles nunca teria conseguido.

Será que esse recorde será quebrado?
MK – Existem excelentes jogadores, por isso é muito provável que eles superem a minha marca um dia. Mas vou deixar-me surpreender. Ficarei feliz com quem recebe. Eu não quero me apegar a esse registro.

Ele marcou seu 16º gol contra o Brasil no Brasil, na inesquecível semifinal 1-7…
MK – Foi ótimo. Muitas vezes me perguntam por que eu precisava de duas tentativas nesse lance. Na primeira, o goleiro brasileiro fez uma boa defesa. Após o rebote, eu finalizei. Foi uma partida muito especial. Joguei bem no Brasil e aproveitei as chances de nosso objetivo muito bem. Toda a equipe foi sensacional.

Qual é a sua melhor lembrança de uma Copa do Mundo?
MK – A conquista do título em 2014, é claro. Ainda guardo muitas imagens na memória. Especialmente quando eu tive o troféu nas minhas mãos. Experimentei esse sentimento novamente no sorteio para a fase de grupos [Rússia 2018]. Mas eu não sou um daqueles que ficam se remoendo e querem voltar para o campo. Há também muitos outros momentos, como a minha primeira Copa, em 2002, na qual chegamos à final. Ou o primeiro jogo do grupo contra a Arábia Saudita, que retorna este ano à Copa do Mundo. Seu capitão, então [Sami Al Jaber], com quem eu tive que passar pelo controle antidoping, também estava presente no sorteio final em Moscou. É inevitável que as histórias, imagens e memórias venham à mente.

Atualmente, é treinador de atacantes na seleção alemã. Como é o futuro ideal em 2018?
MK – Pessoalmente, para mim sempre gostei de jogadores como Diego Forlán, por exemplo. Ele era um avançado completo, algo muito importante hoje em dia. Lewandowski, por outro lado, tem algo especial, tem um pouco de cada um, bem como uma infinidade de qualidades. E é preciso saber como se adaptar continuamente, porque às vezes você enfrenta defesas de três, quatro ou cinco homens. Você tem que variar a maneira como você joga e, quanto mais qualidades você tiver, mais imprevisível será. Já não é suficiente apenas finalizar bem na cabeça e disparar com a direita.

Mesut Özil, seu companheiro há tantos anos, dedicou essas palavras quando você se aposentou: “Obrigado por seus objetivos, Miro. Agora você é uma lenda”. Qual é a sua opinião sobre o jogador do Arsenal?
MK – Eu joguei muitos torneios com ele. Tem algo muito especial, muita leveza. Além disso, os jogadores canhotos sempre foram interessantes para mim. Eles rodam de forma diferente. Para um atacante, é importante ter alguém como ele atrás dele, porque é capaz de filtrar a bola, atrair adversários e habilitar espaços e que leia o jogo muito bem. O futebol está cada vez mais rápido e, muitas vezes, tudo depende de quão rápido você corre com seus pés, o que passa pela sua cabeça. É isso que distingue um bom jogador de futebol. E ele tem tudo. Muitos não se atrevem ou, mesmo vendo o espaço, reagem tarde.

Existe um jogador que pode ser comparado?
MK – Acho que Johan Micoud, Werder Bremen, que também tinha grande agilidade mental. Ele foi um dos melhores jogadores com quem joguei.

(Do FIFA.com)

Ainda de olho na Copa, Diego Souza chega ao S. Paulo pedindo reforço

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Apresentado como reforço do São Paulo durante a tarde desta quinta-feira, Diego Souza herdou a camisa 9 após a saída de Lucas Pratto ao River Plate. Com a numeração de centroavante, o versátil jogador torce por um acerto entre Tricolor e o meia-atacante Gustavo Scarpa, de quem espera receber ajuda para marcar gols pelo novo clube.

Ex-companheiros de Fluminense, em 2016, Diego Souza e Scarpa podem reeditar a parceria caso o São Paulo entre em acordo com o Tricolor das Laranjeiras. Ciente do caso na Justiça envolvendo clube e jogador, a diretoria são-paulina espera concretizar uma negociação amigável, com a retirada da ação movida pelo atleta.

“Não tive nenhum contato com o Scarpa, até porque fiquei pouco tempo na minha volta ao Fluminense. É um grande jogador, como eu preciso fazer gol, sem dúvida nenhuma é um cara que me ajudaria bastante”, afirmou o atleta.

Durante a entrevista coletiva, Diego Souza não escondeu que o seu principal objetivo com a troca do Sport pelo São Paulo é aumentar a visibilidade em relação ao técnico Tite e disputar a Copa do Mundo pela Seleção Brasileira.

“Continuo sonhando e acreditando. Fui convocado algumas vezes no ano passado e isso me deixa motivado e esperançoso de poder fazer parte do grupo. Tenho que estar bem, fazendo gols, porque só assim posso conquistar não só a torcida, mas uma vaga na Seleção Brasileira”, projetou o meia-atacante, que treina no CT da Barra Funda desde a última terça-feira.

“Infelizmente teve a contusão do Gabriel Jesus – não sei se ele estará à disposição nos próximos amistosos -, se não tiver, terei mais uma chance. E, estando dentro dos amistosos, é dar meu melhor e mostrar que tenho condições de estar no grupo”, acrescentou. (Da Gazeta Esportiva)

Conviver em grupo é conviver consigo

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POR CLARISSA FERREIRA, no Sul21

Nos últimos dias tive a oportunidade de conviver com amigos e pessoas que admiro, seja pela forma com que se relacionam com o mundo ou como se comunicam com ele. Concluo que estar em grupo é um grande aprendizado sobre si. Tal fato fez refletir como a sociedade atual – modelo fogão de apenas uma boca – nos fazem desconectados em demasia das demais pessoas, do convívio diário com o coletivo e como isto leva diretamente ao afastamento de nós mesmos. Viver em grupo é reação momentânea, não admite ensaio tampouco aguçada reflexão. Apenas ações fluidas, que se tornam espontâneas pela pessoalidade das relações.

Como uma vivência artística entre pares – muito maior do que a palavra férias seria capaz de abarcar – viver em grupo no litoral do Uruguai por cerca de dez dias trouxe novos insights. A experiência teve ares de um congresso, uma oficina ou de uma reciclagem artística-terapêutica. Ter a oportunidade de discutir sobre estética, mercado e criação, surte efeito grande no saldo das novas ideais, assim como contar sobre seus planos ou como foi seu ano renova os créditos para o que vem. A convivência diária ainda nos permite a intimidade, uma libertação para o campo das ideais que quando expressas livremente nos tornam poetas, filósofos, teóricos ou como em muita das vezes, comediantes.

Neste contexto, a canção foi e é a ferramenta de expressão predominante, o que acredito que tenha contribuído muito para a imersão em si através dos outros. Versos melodicamente montados e amontoados que contam histórias, declaram tratados, opinam, se expõem, falam de pessoas, sobre pessoas e para pessoas – acabam por tocá-las e transformá-las. A autoria levada a sério como algo que nutre o ouvido e dá sentido. Tocada pelo que o que significa culturalmente a função ritualística das rodas de música e seu poder de levar à introspecção e reflexão, minha caneta tornou-se um para-raio ou uma antena para captar as aprendizagens que o caminho mostrou. Sou levada a pensar sobre o som e o ritmo das palavras, sobre a função da introdução na canção como um lapso de tempo que pede atenção, do refrão que une vozes – no que toca e o que me toca.

Aprendizados teóricos sociológicos recebem explicações práticas e empíricas também neste contexto. O encontro de diversos indivíduos na grande maioria atuantes do meio artístico, localizados em diversos continentes, faz pensar como realmente o mundo configura-se em micro estruturas, micro sociedades, que se constroem como uma rede que liga diferentes pontos, envolvidas por mesmos paradigmas, e mesmas escolhas estéticas. Neste contexto as questões de identidade são sutilmente exibidas, por mais que esta identidade transnacional seja a predominante. Os sotaques, repertórios reconhecidos, piadas compreendidas por seus comuns compatriotas, aos “Fora Temer” que nos unem como nação, e códigos sonoros que demonstram significado são ações que remetem a pensar quem somos, em nosso território – geograficamente e metaforicamente falando.

Chegamos ao fim da viagem. Voltamos a nossas caixas, nossas verdades individuais sobre os outros e sobre nós. Que saibamos levar um pouco de coletividade para a cidade. Que consigamos sintonizar por osmose nas boas inspirações, ouvir e ver – contemplar. Aproveitar e observar as pessoas, os lugares, a vida – como a nós. Pessoas são espelhos da nossa subjetividade. Acho que no fim somos todos a mesma coisa.

(*) Clarissa Ferreira é violinista, doutoranda em Etnomusicologia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, professora substituta do curso de Música Popular da UFRGS e autora do blog Gauchismo Líquido. Treina poesia em prosa (êta loca brincando com as palavras), faz uso de referências vastas, de Guattari à Jout Jout, e aprende muito enquanto escreve.

(Foto: Guilherme Santos/Sul21)