POR GERSON NOGUEIRA
A atuação do Papão contra o Parauapebas cumpriu parcialmente o ritual de expectativas da torcida, que estava ansiosa para ver em ação os novos contratados. Deu para observar oito deles – Maicon Silva, Fernando Timbó, Cáceres, Danilo Pires, Renan, Peu, Moisés e Mike. A exibição dos novatos foi valiosa, não por influenciar na vitória de 1 a 0, arrancada no sufoco, já na bacia das almas, mas pela maneira como os jogadores se comportaram.
Mesmo levando em conta o curto período de preparação do elenco, que só está sendo completado agora com a chegada do lateral esquerdo Mateus Miller (que defendeu o Remo em 2015), cedido ao clube pelo Palmeiras, o fato é que a apresentação foi aprovada pelos mais de 14 mil torcedores que lotaram a Curuzu.
O torcedor está aprendendo a avaliar com equilíbrio e comedimento as condições de um time. Mesmo aqueles mais fundamentalistas, que esperam e cobram resultados imediatos, sabem que no começo de temporada é impossível ver um time jogando plenamente, executando jogadas elaboradas e achando o caminho do gol com facilidade.
A primeira parte do jogo foi quase um treino de luxo, tamanha a lentidão na saída do time ao ataque e nas dificuldades que os jogadores encontravam para trocar passes. Raros foram os lançamentos mais longos, refletindo a insegurança normal dos estreantes.
Dos reforços que começaram jogando, o lateral direito Maicon foi um dos mais acionados e, por tabela, o que mais errou também. Cruzamentos longos ou curtos demais chegaram a impacientar a torcida na primeira etapa. No segundo tempo, tornou-se ala ofensivo e rendeu bastante.
Na outra lateral, Timbó foi pouco à frente e acabou se expondo menos, por isso teve falhas mínimas. No meio-campo, Danilo Pires e Cáceres entraram no segundo tempo, com aproveitamento discreto, mas deixando entrever qualidades importantes para uma equipe informação, principalmente Pires, que entrou com personalidade e mostrou atitude.
Moisés se destacou pela presença na frente e pelos deslocamentos constantes. Tipo do jogador que não sossega e, com isso, leva muita preocupação aos zagueiros. Foi o que deixou melhor impressão.
Renan entrou nos instantes finais e ia fazendo um gol de cabeça, lance salvo pelo goleiro Bruno. Um pouco lento, Peu teve alguns bons momentos. Disparou um belo chute de fora da área no 1º tempo e deu um bom cabeceio na etapa final. Mike se encolheu muito, aceitou a marcação e foi o de desempenho mais fraco entre todos os novos legionários bicolores.
De toda sorte, o comportamento do time pode ser considerado satisfatório, pois a defesa praticamente não correu riscos – um chute apenas, muito bem defendido por Marcão – e o ataque buscou incessantemente chegar ao gol, embora com as previsíveis dificuldades ocasionadas pela pouca familiaridade quanto a estilos e características dos jogadores.
Óbvio, também, que é preciso conter os disparates. Acreditar em presepadas como comunicação gestual e distribuição espacial calculada, como no vôlei, é embarcar nas lorotas próprias de teóricos da neurolinguística calcada na hipotenusa com base no conceito dos parâmetros de Sebastião Lazaroni. Ou seja, nada vezes nada. Futebol é simples, dispensa complexidades vazias.
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Adenilson, escolha óbvia para comandar meiúca do Leão
Como era do conhecimento prévio até das pedras do cais, Adenilson será titular no meio-campo do Remo, amanhã, em Tucuruí, contra o Independente. Ney da Matta vai entregar a ele a incumbência de organizar o time para superar os donos da casa. Caso jogue o que jogou em 45 minutos na estreia, diante do Bragantino, o Remo terá muito a lucrar com sua presença em campo.
Adenilson clareou as coisas. Tornou simples o que estava complicado. A bola não chegava nos homens de frente e os laterais não eram convidados a participar do jogo. Bastou ele entrar para o Remo se tornar rápido pelos lados e agressivo nas ações de ataque.
Além disso, ainda abriu caminho para a vitória com um calibrado chute de esquerda, evidenciando o talento para arremates de média distância, tão em falta no Evandro Almeida desde tempos longínquos.
Com Adenilson na armação de jogadas, resta saber como o ataque será armado. O mais provável é que Marcelo permaneça como o número 9, tendo Elielton e Felipe Marques pelos lados.
Nas laterais, Levy segue firme pela direita, tomando como referência sua grande atuação no segundo tempo do jogo contra o Braga, quando passou apoiar o ataque com determinação e marcou um bonito gol. Esquerdinha precisa ganhar mais familiaridade com o próprio esquema de Ney da Matta para render acima do que mostrou domingo.
O setor que mais carece de cuidados é o defensivo. Zagueiros muito lentos e volantes excessivamente preocupados com a marcação, sem mostrar talento para distribuir o jogo e até para dar passes simples. Caso queira ir longe na competição, Da Matta terá que corrigir essas deficiências, com treinamentos ou mudando as peças.
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Sair à francesa nem sempre é o melhor caminho
O afastamento de Rodrigo Andrade, momentos antes do jogo, por razões de ordem física e comportamento inadequado, segundo a nota da assessoria do PSC, deixa claro que o jogador parece mesmo a fim de provocar sua saída do clube. Coincidência ou não, a punição veio no mesmo dia em que a Traffic desistiu oficialmente do processo que movia contra o Papão para obter a liberação do atleta. Frustração¿ Propostas tentadoras¿ Ninguém sabe. O certo é que Rodrigo tem contrato a cumprir e não pode descuidar de suas responsabilidades. Simples.
(Coluna publicada no Bola desta sexta-feira, 19)