POR JOSÉ IGNÁCIO WERNECK
A Federacão Inglesa de Futebol está investigando a acusação de que Roberto Firmino teria usado uma expressão racista contra o jogador Mason Holgate, do Everton, na semana passada.
O incidente ocorreu na vitória do Liverpool por 2 a 1, pela Copa da Inglaterra, e é estranho por diversos motivos.
Holgate alega que foi chamado de “nigger” por Firmino.
“Nigger”, corruptela de “negro”, é uma das expressões mais ofensivas da língua inglesa. Nos Estados Unidos o único cidadão que pode chamar um negro de “nigger” é outro negro. Se a palavra for proferida por um homem branco, amarelo ou de qualquer outra cor, é pior do que xingar a mãe.
Ora, segundo um especialista em leitura labial contratado por um jornal inglês, xingar a mãe foi exatamente o que Firmino teria feito.
O incidente aconteceu porque Holgate empurrou Firmino para fora do gramado com tal violência que Firmino foi catapultado por cima das barreiras com anúncios e caiu no meio da torcida.
Os dois vinham na disputa de um lance, ambos em velocidade, Holgate ficou frustrado por ter chegado atrasado e empurrou Firmino com as duas mãos, quando Firmino já tinha ultrapassado a linha lateral.
Firmino poderia ter se machucado seriamente, mas levantou-se, entrou de novo em campo, encarou Holgate e disse-lhe alguma coisa.
Segundo Holgate, Firmino o chamou de “nigger”. Segundo o especialista em leitura labial, Firmino teria falado em português e dito: “És maluco, seu filho da puta?”
O mais curioso em tudo isto é que Holgate sequer foi advertido com cartão amarelo, embora tivesse assumido o risco de causar ferimentos sérios em um adversário. O juiz em campo aparentemente não ouviu o que Firmino disse ou não entendeu, mas o Everton fez uma queixa, através do quarto árbitro.
A investigação da Federação Inglesa diz respeito somente às palavras que Firmino teria dito, não ao empurrão do adversário.
Ora, há na língua inglesa uma expressão popular: “sticks and stones may break my bones, but words will never hurt me”
Ao pé da letra: “paus e pedras podem quebrar meus ossos, mas palavras jamais me machucarão”.
Mas parece que, para a Federação Inglesa, é o contrário: palavras ferem mais do que atos. Firmino poderá ser suspenso entre oito e dez jogos, enquanto a Holgate nada acontecerá.
Vamos aguardar o resultado da investigação.
Há outro ponto interessante. Por acaso eu estava olhando a ficha de “Roberto Firmino, footballer”, na internet, e encontrei um ítem definindo-o como jogador de raça negra.
Quer dizer que para os ingleses um negro estaria em apuros por chamar outro negro de negro.
Países tem costumes diferentes. No Brasil se você chamar um homem de raça negra de “preto” ele se ofende. Ele se considera negro. Nos Estados Unidos é o contrário. Um homem de raça negra quer ser chamado de “black”, não de “negro” e muito menos de “nigger”.
Na verdade, só existe uma raça, a raça humana.
Entretanto, a língua portuguesa é cheia de gradações. Há o branco, descendente de europeus, o negro, descendente de africanos, o índio, povoador original das terras brasileiras, o mulato, que vem a ser o branco miscigenado com negro, o caboclo (também chamado mameluco), que vem a ser o branco com índio, e o cafuso, que vem a ser o negro com índio.
Acho que a descrição que mais se encaixaria em Firmino é a de cafuso, com maior preponderância de sangue índio do que negro.
Entretanto, para os ingleses Firmino é negro e corre o risco de ser suspenso por até dez jogos por ter chamado outro negro (na verdade, mulato, como mostram as fotos) de negro.
O adversário escapará impune pela agressão.