Futebol e a intolerância nas redes sociais

Por Antero Greco

Umas folgas de final de ano, prejudicadas por uma crise de gastrite, me tiraram do trabalho mais do que gostaria. Os dias em casa, porém, foram bons para aquela arrumação de papéis, para acelerar leitura e para observar o que rola pelo mundo real e virtual.

E uma constatação pude fazer deste período de repouso: as redes sociais são um instrumento poderoso, e perigoso nas mãos de quem as usa para o mal. São ferramentas ótimas para manipular opinião e transformar mentiras em verdades. Graças a Deus não existiam com tal fartura na época de Goebels! O Nazismo talvez tivesse produzido estragos mais nefastos.

Há uma histeria no ar, e provocada por futebol. Não se fala da violência das prisões, materializada pelas chacinas no Maranhão. Não se reclama contra corrupção, que nos torna um país caríssimo e carente. Não se clama por mais dignidade e respeito dos cidadãos.

A indignação, veja só, surge por um jogo em que marmanjos correm atrás da bola e que deveria ser apenas diversão para quem acompanha. O inconformismo vem, supostamente, por campanha de “difamação e ódio” contra agremiação futebolística, o venerável Fluminense.

Culpados por essa onda de caça às bruxas seria a imprensa. Ou, mais especificamente, parte da imprensa esportiva, da qual faço parte. Qual o crime cometido por alguns jornalistas? O de colocar-se contra o Tribunal Esportivo, que puniu a Lusa de forma desmedida ao erro que ela cometeu. Com a perda dos pontos, a equipe caiu para a Série B e o Fluminense, por circunstâncias da classificação final do Campeonato Brasileiro, se manteve na elite.

A argumentação de profissionais com larga experiência no jornalismo não convenceu a todos – e nem haveria essa pretensão. A divergência é um dos fundamentos para a sabedoria. Só que, diante da repercussão negativa que teve o resultado dos julgamentos nos tribunais, torcedores da equipe beneficiada não tiveram coragem de assumir a bronca provocada nos demais e a repassaram para a imprensa. De um momento para outro, jornalistas de peso viraram vilões e irresponsáveis. (E admito que há oportunismo, pois torcedores de outros clubes teriam tido comportamento idêntico, se o tribunal os beneficiasse.)

Em vez de debate civilizado, começou a série de insultos, sobretudo no Facebook e no Twitter. Canalha, bandido, energúmeno, asno, idiota, imbecil, covarde, fdp, foram alguns termos repetidos ad nauseam.  Fora os comentários maldosos em blogs, os abaixo-assinados repletos de preconceitos e inverdades e as correntes xiitas que pretendem retratação dos meios de comunicação e seus profissionais que não aceitaram o veredito de um tribunal. Como se esse tribunal fosse infalível.

Critiquei, e não arredo pé, do rigor com que foi tratado o caso da Lusa. Dei minha opinião no jornal, no blog e na tevê, e me baseei em juristas. Aliás, mentes brilhantes, acostumadas aos meandros do Direito também sustentaram tese semelhante à minha. Assim como outras, igualmente respeitáveis, disseram que o tribunal estava certo. Tema, portanto, polêmico. Há controvérsias na Justiça. Caso contrário, nem seriam necessários tribunais, advogados, juízes…

Infelizmente, na fantasia doentia de gente que não consegue viver com a divergência, virei um dos inimigos do Fluminense, um incitador da intolerância e da violência, um fora da lei! E justo eu, que devolvo até centavos de troco, se me derem a mais! E dá-lhe todo momento a ler insultos e ameaças (sim, ameaças de retaliação física) de cidadãos que nunca vi e que provavelmente, se encontrasse pessoalmente, viriam conversar de maneira pelo menos comedida.

Nos próximos meses, completo 40 anos de profissão, a maior parte desse tempo na crônica esportiva. Minha história, minha carreira, meus comentários, meus textos falam por si. Jamais fui leviano, nunca seria demente de acirrar ânimos, fomentar discórdia, racismo, bairrismo, xenofobia, atos de vandalismo, linchamentos e coisas abjetas do gênero. Sou da paz, sou católico, tenho filhos, sobrinhos, genros e sei da responsabilidade da minha profissão. Não sou tosco. E defendo tratamento digno até para os que cometem crimes. Acredito no homem.

Mesmo assim, cabeças ocas deliram e creem que a imprensa esteja por trás de atos agressivos de rivais do Flu. Infelizmente, os desvairados não precisam do “estímulo” da imprensa para atacar os outros. Eles depredam, arruínam, batem, apanham em qualquer lugar e por qualquer motivo. Seja provocando um tricolor, seja pisoteando um corintiano, um atleticano, um vascaíno, um palmeirense. Para esses, sim, a solução está em algum tipo de internação – ou numa clínica psiquiátrica ou na cadeia.

Os mesmos que hoje cultivam esse ódio paranoico se dedicassem uns minutos a ler meu blog ou a manusear a coleção do “Estadão”, encontrariam muitas crônicas favoráveis ao Flu. O mesmo ocorreria se escarafunchassem as fitas do acervo da ESPN/Brasil. E não escrevi ou falei por simpatia pelo Flu ou para fazer média, mas porque era o que ditavam minha consciência, meu senso crítico. Fiz o que se exige de minha profissão. Ou seja, mantive minha independência, sempre, sem fazer campanha a favor ou contra quem quer que seja.

Se, ainda assim, há quem veja em meu comportamento um foco de calúnia e difamação, peço que vá à Justiça, me processe. Seria o primeiro processo que enfrentaria nessas décadas todas de militância no jornalismo. Mas levante dados concretos de que sou facínora, desagregador, perturbador da paz. Faça isso! Será uma grande contribuição para a sociedade.

Pois certamente a Justiça detectará quem estimula a intolerância. Uma simples “passeada” nas redes sociais servirá para desmascarar os covardes, os intolerantes, os mentirosos, os que se valem do terror para impor ideias, os que se escondem sob nomes falsos para atingir a honra de cidadãos de bem, que unicamente exercem sua profissão com transparência. Um juiz ponderado avaliará de onde parte o destempero.

Proponho por fim que os exaltados repensem sua estratégia. Radicalismo não levará a nada, só trará raiva, dor e tristeza. E os extremistas jamais tirarão meu bem maior: a liberdade de pensar. Minha consciência nunca esteve à venda.

4 comentários em “Futebol e a intolerância nas redes sociais

  1. As redes sociais, inclusive no futebol, realmente têm seus monstros. Mas, a mídia futebolística também tem os seus. A diferença é que esta tem licença pra “matar”.

    Curtir

  2. Não é a toa que sempre elogio os comentários do azulino António Oliveira. O cara até em pouca palavras diz muito, explica muito com sensatez. Eu não tenho essa failcidade de explicar em poucas palvras que ele tem. Meus textos são mais longos, mais também explicam muita coisa. Por examplo, em relação ao quse desabafo do jornalista Antero Greco, é evidente que desajustados em todos os lugares, inclusive na internet. É claro que ninguém tem o direito de ofender ninguém. Muito menos ameaçar alguém ou chantagear, principalmente, quando ofensor está escondido atrás de uma rede social. Concordo com o Greco, sse tipo de atitude é para desequlibrados, sem dúvida. Porém convenhamos, como bem colocou o Antônio, existem na imprensa alguns que com seus comentários muitas vezes tendenciosos, conseguem tirar muita gente do sério, ou deixar acabrunhado até o mais risonio e tranquilo. Nesse caso especifíco FLU/LUSA/STJD, então ja passou das medidas alguns opinadores da imprensa, através de comentários repetitivos em demasia, insistirem em passar a mão na cabeça dos dirigentes lusos, taxando-os de vítimas dos poderosos, ficam taxando os do FLU de malfeitores, viradores de mesa etc. Alto lá!!! senhores Greco e outros, respeito sua opinião que onde acha que o STJD usou de atitudes arbitrárias para punir a LUSA, mas tenho outras diferentes que também não arredo pé: Os dirigentes Lusos vacilaram feio ao deixarem o treinador escalar, sem necessidade, jogador irregular, e isso por si só ja é merecedor de punição. O FLU foi apenas o famoso litisconsorte, aliais litiscommuitasorte, rsrsr existente no meio jurídico para conseguir um direito através do vacilo do adversário. Então jamais a procura de um direito, deve ser sinonimo de poder de senhor feudal, como querem taxar o FLU. Eu especificamente, sou contra time rebaixado voltar por tapetão. Porém sou mais contra ainda clubes conseguirem benefícios de titulos, classificação usando do artifícios de lançar jogador irregular como no caso, prejudicando quem agiu corretamente. Lançar jogador irregular é tao grave quanto, comprar arbitros e fabricar resultados como fez aque Edilson Pereira de Carvalho, Então devem ser mantidos resultados desse tipo nos tribubais, mesmo que apriori, tenham sido conseguidos dentro de campo???Eu acho que não Grecco e outros a favor da LUSA. O STJD apenas fez justiça, a LUSA errou feio, e o FLU que estava na Bola da vez foi o beneficiado pela punição da LUSA. Que mal então o FLU fez para estar sendo pressionado por muita gente da imprensa pro-lusos, a ponto de fazer algumas pessoas serenas perderem as estribeiras e causar mais desajuste em quem ja é desajustado ou anormal???????????????????

    Curtir

  3. Também sou absolutamente contra manutanção de resultados conseguidos dentro de campo nos tribunais, quando esses resultados tiveram ou foram provocados por “golpes baixos” para ocorrerem dentro de campo, caso pudessem ser provados a tempo. Lembro alguns fatos passados sobre isso e me dar nuseas ao lembrar do craque Diego Maradona em entrevista depois de muitos anos, tirar o maior barato com nossa seleção e com o povo brasileiro, afirmando que na Copa 78 antes da semifinal Brasil e Argentina, forneceram água com uma espécie de rupinol, para a seleção camarinho, onde alguns atletas que consumiram a água, entraram sonolentos dentro de campo e a argentina levou a vaga. No poderoso futebol Italiano, jogador estrela sendo processado por envolvimento na máfia de fabricação de resultado. É Incrivél que até mesmo em relação a LUSA, maior envolvida, na polêmica, podemos afirmar que mereceria ser rabaixado pelos tribunais em mais 2 oportunidades: numa delas foi em 1993, quando para reverter os 5×2 que levou dos azulinos na decisão da vaga para a primeira, fez desgraceira com o time azulino no vestiario do canindé ocupado por este, provocando fumaceira, sujeira, sem água sem a menor condição de uso, pessoas da imprensa paraense agredidas, tudo para o time azulino entrar mal em campo, além de terem comprado ou pressionado arbitragem. A lusa ganhou o jogo de 2×0 e so não levou a vaga por que o placar daqui foi muito elástico. A outra foi em 2006 na segundona quando compraram descaradamente jogadores do Sport e trio de arbitragem em plena Ilha do Retiro para conseguirem o resultado aos 49 do segundo tempo que rebaixava o Papão e livrava a pele da LUSA. A sacanegem foi tanta que até o treinador Giva que acabara de subir o Sport para a primeirona, entregou o lugar logo após o juiz terminar o jogo. Agora imaginem vcs se não existisse o tribunal, ou a justiça desportiva????? certamente o futebol não existiria ou seria mesmo futebol fora da lei. rsrsrsrsr. Deus escreve certo por linhas tortas e quem sabe a lusa não está pagando hoje muitas sacanagens que a gente sabe que ela fez e muitas que não foram descobertas, mas que ela também fez!!!! reflitam quem está a favor da lusa neste caso.

    Curtir

Deixe uma resposta