Por Gerson Nogueira
Melhor jogador do Campeonato Brasileiro, Walter é também o mais surpreendente atleta em atividade no país. Inteiramente fora dos padrões da boa forma física, consagra-se como goleador do Goiás na competição e responsável direto pelo ótimo posicionamento da equipe. Coleciona elogios com a mesma facilidade com que desperta dúvidas quanto à condição atlética.
Comparado a outros atacantes igualmente conhecidos pela briga com a balança, como Adriano e Ronaldo, o que mais se ouve a respeito de Walter é a pergunta: será que ele seria um jogador mais completo se estivesse no peso ideal? No Internacional, no Porto e no Cruzeiro a questão era recorrente e o constrangimento gerado pelas cobranças ajudou a afugentá-lo desses clubes. Azar o deles.
No Goiás, para onde só se transferiu quando se desencantou com o Cruzeiro, recebeu o apoio, a compreensão e os cuidados para poder jogar em alto nível. E aproveitou para responder aos questionamentos sobre seu peso. Não negou fogo. Artilheiro e campeão na Série B 2012, artilheiro e campeão estadual de 2013, novamente goleador na Copa do Brasil e na Série A.
Aposta de risco do técnico Enderson Moreira, que construiu o atual time do Goiás, Walter chegou desvalorizado e de crista baixa. Aprendeu a entender como funciona o clube, menos povoado de xiitas como Inter e Cruzeiro, mas só engrenou porque teve a total confiança do treinador.
Não que isso tivesse lhe sido negado antes. O uruguaio Fossati, que o dirigiu no Colorado em 2009, até hoje não economiza elogios ao atacante. Vê em Walter um legítimo boleiro de rua, forjado nos mesmos rincões populares que legaram ao mundo craques como Ronaldo e Romário. Sob sua orientação, o indomável atacante viveu até um bom momento no Inter, mas foi punido por gestos obscenos num jogo disputado em Buenos Aires e caiu em desgraça no clube.
As origens de Walter talvez expliquem sua longa peleja para se manter em forma. Por onde passou foi vigiado de perto por nutricionistas e preparadores físicos, mas jamais conseguiu perder a silhueta parruda, que os colorados comparavam de imediato com o velho ídolo Claudiomiro.
Pernambucano de nascimento, torcedor do Sport desde pequenininho, o jogador enfrentou dramas familiares na infância, estudou pouco e cresceu convivendo com a pindaíba financeira. Teve a bem-aventurança de se descobrir bom de bola e de bola ele de fato entende muito.
Como tantos outros craques brasileiros de história humilde, ele se especializou em fundamentos que distinguem os bons dos apenas razoáveis. Chuta muitíssimo bem, sabe passar, protege bem a bola como pivô e tem perfeita adequação de seu porte à velocidade que o jogo exige.
Nas numerosas reportagens que a TV e os jornais começaram a produzir sobre ele, salta aos olhos a simplicidade e certa ingenuidade que lembra o jeitão de Garrincha. Como o eterno Alegria do Povo, Walter parece desconfortável diante da necessidade de emitir opiniões, mas é preciso e certeiro quando descreve seu ofício.
Há quem fale em oportunidade na Seleção Brasileira. Há quem não arrisque previsões ante o histórico de desacertos. Há quem simplesmente aprecie seus gols e lances de grande futebolista. Estou nesse último time.
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Surge uma terceira via à FPF
O engenheiro civil e desportista Ulisses Sereni encabeça a chapa “Futebol de Primeira”, inscrita para disputar as eleições da Federação Paraense de Futebol. Apoiado por gente jovem e cheia de ideias, Sereni nutre a esperança de que ligas e clubes assimilam suas intenções. Seus candidatos a vice-presidentes são Dan Levy e Ricardo Gluck Paul. Das chapas lançadas até agora é a que mais demonstra disposição de romper com as práticas arcaicas que têm atrapalhado o futebol paraense nos últimos anos.
Os vices partilham com Ulisses o sentimento de que o futebol paraense exige mudanças urgentes e se propõem a fazer uma administração com transparência, gestão participativa e profissionalismo. Após o lançamento da chapa, ontem à noite, Ulisses vai sair em busca de novos parceiros e colaboradores para fortalecer sua campanha. Visitas a vários municípios já estão programadas.
As principais propostas da chapa: mudar o estatuto da FPF; instituir o cargo de embaixador da FPF na capital e no interior; e promover junto à CBF a volta da Copa Norte, com vaga na Sul-Americana.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 25)