Máscaras em série

Por Mario Sergio Conti

Pode procurar; não há mais ponto e vírgula. Ele sumiu como as reticências, fila jururu de três pontinhos que prolongavam uma impressão ambígua e induziam a leitora a concluí-la, ainda que o escritor soubesse muito bem aonde queria levá-la… Desapareceu junto com o ponto de exclamação, dedo em riste ameaçador que ninguém mais aponta!

O ponto e vírgula, o de exclamação e as reticências, no entanto, configuram a linguagem oral, são a sua música — a pontuação marca pausas, inflexões, ênfases, acelera ou retarda a elocução. Agora é hora de soprar a trombeta de outro sinal gráfico, a serpente que se contrai e se concentra, toma impulso, dá um bote e indaga à leitora: por que a pontuação mudou? Tenho uma hipótese, responde ela.

O ponto e vírgula sumiu primeiro aqui, na imprensa. Ao almejar um público amplo e de educação desnivelada, o jornal privilegiou a comunicação rápida do imediato — e parou de empregá-lo. Isso não se deu por ignorância da norma que orienta o seu uso. À parte as exceções que são o néctar dos gramáticos, a regra é singela: o ponto e vírgula sinaliza uma pausa menor que a do ponto final e maior do que a da vírgula. A sua abolição emudeceu um compasso, em proveito do rumor contínuo do resfolegante trator que nivela as complicações da vida real.

Nas revistas, cujo tempo de fruição é mais dilatado que o do jornal diário, o ponto e vírgula veio também a sucumbir à generalização do desuso; restando as vírgulas. Numa delas, “The New Yorker”, o seu fundador, Harold Ross, era um fanático da virgulação. Fosse brasileiro, deveria se chamar Virgulino. Ele achava que as vírgulas são holofotes, esclarecem o escrito. A ponto de botar uma na frase “Depois do jantar, os homens foram para a sala de estar”. Um leitor achou a interrupção abusiva e, em alto e bom som, estrilou: por que a vírgula?! Foi-lhe dito que a vírgula dava tempo aos homens de afastar a cadeira e ficar de pé depois do jantar.

A “New Yorker” ainda virgula adoidada; vem até de ponto e vírgula. Mas nada que se equipare à redação entrecortada, aos solavancos dos anos de Harold Ross, no início do século passado, quando as vírgulas esclareciam, mas truncavam, reportagens; artigos; resenhas; perfis; peças de humor, até.

A rarefação dos sinais de pontuação não foi apenas aquilo que, black bloc das antigas, Eike Batista chamaria de concessão da imprensa ao mercado. A rarefação diz o que ocorreu na sociedade: se não há mais jantares onde os homens se retiram para fumar charuto e beber brandy numa sala aconchegante, a elegante vírgula de Ross perde sentido. Em tempos de lufa-lufa e restaurante a quilo, onde ninguém se ergue da cadeira com polidez, a vírgula inútil enfeita a petulância — os bons modos de quem teve berço — do redator, que a põe no texto como um cravo no smoking.

Imprensa é isso mesmo: redução. Não cabe, numa notícia de pé de página, remontar à vida pregressa e à situação material do motorista e do pedestre de um atropelamento no Aterro. A brutalidade da pontuação sem matizes corresponde à fúria veloz e desatenta da vida de hoje. Pau nele, no ponto e vírgula, como treinamento para os desastres da realidade.

Com a arte, a figura muda. Ela existe para captar o confuso e expressar o inexprimível, a trombada entre o indivíduo e a sociedade. É o que buscam três romances nacionais recentes, “A maçã dourada”, de Michel Laub; “Noites de alface”, de Vanessa Barbara; e “O drible”, de Sérgio Rodrigues. No conteúdo, o que os une é a violência contemporânea: massacre e suicídios no livro de Laub; assassinato e ocultação de cadáver no de Barbara; suicídio e incriminação no de Rodrigues. Na forma, nenhum deles emprega ponto e vírgula e parênteses (concha que encapsula outro sentido), o que leva a serpente a atacar de novo: por quê?

Sendo a pergunta absurda, não há resposta. Note-se contudo que o modernismo limpou a prosa artística do trololó beletrista, e os três autores a ele se filiam. E que eles, por serem jornalistas, talvez tenham levado para a ficção algo do reducionismo da imprensa. Como não há utilitarismo em arte, o uso nulo ou amiúde do ponto e vírgula não conduz a obras-primas — nem ao socialismo, como gostaria Eike Batista…

O que vale no romance é a expressão do autor. Desde que ele seja um artista, una conteúdo e forma num todo inextricável. Senão, poderá apelar para emoticons como os do título. Essas carinhas fofas — sirenes do kitsch, uivos da breguice — não dão música à emoção. Elas difundem máscaras em série, com as quais o indivíduo automático se anula na cidade onde todos têm o mesmo rosto. Já os sinais de pontuação, em vez de harmonizar da linguagem escrita, são cílios e ciscos que desenham a mudez conformada 🙂

Ou dão uma piscada 😉

Sub-20: diretoria planeja majorar ingresso

A diretoria do Remo planeja aumentar o preço dos ingressos para o jogo contra o Criciúma, pelas quartas-de-final da Copa Brasil sub-20, na próxima quarta-feira. Precipitação e ganância. O preço de R$ 10,00 deveria ser mantido, deixando qualquer reajuste para uma eventual semifinal. O importante a essa altura, mais que a arrecadação, é lotar o Mangueirão para incentivar os garotos.

Remo vence e já está nas semifinais da Taça Brasil

Futsal - Remo - FabricioO Remo segue com 100% de aproveitamento na disputa da VII Taça Brasil Correios de Futsal Sub-17 Masculino – Divisão Especial. O terceiro adversário batido foi o Santa Cruz, que foi derrotado por 2 a 0, na cidade de Teresópolis, Rio de Janeiro. Com o resultado, os remistas estão classificados para as semifinais, com uma rodada de antecedência. Logo aos 2 minutos, Fabrício fez boa jogada individual e tocou na saída do goleiro, abrindo o placar para o Leão. A vitória foi consolidada no segundo tempo, aos 9 minutos, com Fabrício aproveitando a má utilização do goleiro-linha por parte dos pernambucanos e fazendo mais um. Na próxima rodada, nesta quinta-feira, os paraenses encerram a fase de classificação diante do Ágape/-CE, a partir das 18h. Já o Santa Cruz vai tentar carimbar seu passaporte diante do Casa de España/Botafogo (RJ), às 19h30. (Com informações de MMSports) 

Leãozinho joga bem, mas permite virada do Tigre

Depois de realizar boa partida, o Clube do Remo acabou permitindo a virada do Criciúma e saiu do estádio Heriberto Hulse com a derrota de 3 a 2 no jogo de ida das quartas-de-final da Copa do Brasil sub-20, na noite desta quarta-feira. Leãozinho e Tigre jogam de novo na próxima quarta-feira (23), às 20h30, no estádio Jornalista Edgar Proença. O Criciúma tem a vantagem do empate e o Remo precisa da vitória por qualquer escore. Com boa movimentação no começo da partida, o Remo teve duas boas chances, com Rodrigo e Nadson, mas foi o Criciúma que abriu o marcador aos 14 minutos, através do atacante Bruno Lopes.

O Leãozinho não acusou o golpe e continuou atacando. Aos 19 minutos, em cobrança de escanteio por Rodrigo, o atacante Guilherme escorou para as redes. Seis minutos depois, o mesmo Guilherme recebeu livre de marcação e fez o segundo gol. O Criciúma perdeu o meia Crispim, aos 28 minutos, por agressão ao volante Nadson. Apesar de inferiorizado, o time catarinense chegou ao empate dois minutos depois, em cabeceio do zagueiro Fernando.

Com um jogador a mais, o Remo voltou para o segundo tempo a toda força, em busca do desempate. Em menos de um minuto, duas chances desperdiçadas, com Rodrigo e Sílvio. Aos 11 minutos, porém, o Remo perdeu a vantagem numérica. Gabriel recebeu o segundo amarelo e foi expulso. A partir daí, o jogo ficou aberto, com oportunidades criadas pelos dois times. A virada do Tigre viria aos 41 minutos, quando Vitor cruzou na área e Marcelinho desviou para o fundo da meta de Jader. 3 a 2.

Longa vida à Constituição de 88!

Por Wanderley Guilherme dos Santos

08276365Em 6 de outubro de 1988 começaram as críticas à Carta constitucional brasileira, promulgada no dia anterior. Desde então se sucederam os comentários ácidos, jocosos, desmoralizadores e reivindicantes. Entre outras, a reivindicação de que seja alterada, ou melhor, substituída. É possível que nos seminários dos profissionais do Direito a matéria seja discutida com mais propriedade argumentativa do que se costuma encontrar nas discussões plebéias. Não é o que ocorre na vida pública. Assim como o tema da reforma política, qualquer orador extrai palmas da audiência quando torce o nariz ao mencionar, sem maiores explicações, a Constituição que “está aí”. De minha parte, data vênia, quero dizer que ainda bem.

Digo ainda que me aparece como exemplo de loquacidade leviana acusar a Constituição de prolixidade, atribuindo-se a esta as eventuais dificuldades governativas do País. Em comparação simples com os demais países da América do Sul, os 250 artigos da Carta de 88 não parecem especialmente desproporcionais face aos 380 artigos da constituição colombiana, os 350 da venezuelana ou mesmo os 332 da constituição do Uruguay. Mais ou menos da mesma extensão que a brasileira encontram-se a do Paraguai, com 239 artigos, a da Bolívia, com 234, e a do Peru, com 206 artigos.

Comparativamente enxutas são as constituições da Argentina (129 artigos) e do Chile (119 artigos). Não consta da história do continente, todavia, que as secularidades tribulações de todos eles tenham sido ou possam ser atribuídas à extensão de suas constituições.

Imperfeitas todas são, neste e nos países dos demais continentes, posto que os documentos envelhecem, embora com mais vagar do que seus autores. Para isso estão aí as práticas de emendas constitucionais e eventuais revisões. E também não é incomum que governantes responsabilizem as Constituições, ou partes delas, pelas dificuldades que, não raro igualmente, se devem à reduzida habilidade de que dispõem.

Não cabem dúvidas de que os constituintes de 86 teceram um documento dando ampla cobertura de direitos a todos os segmentos da nação, algo inteiramente inédito na história constitucional do Brasil. Previram a inauguração e consolidação de instituições originais, senão na letra, seguramente na efetivação delas. Se legisla pela metade em vários aspectos – por exemplo, ao consagrar o direito de votar, mas não de ser votado aos analfabetos – , introduz inovações que representam um salto nas relações entre as repartições estatais e o cidadão comum. A Ouvidoria Pública é uma delas.

Com origem na Suécia do século XIX, os ouvidores públicos serviam de intermediários entre o poder real ou republicano e os cidadãos com respeito ao funcionamento das repartições do Estado. É bem verdade que a efetivação do instrumento de controle do poder público levou décadas para se tornar efetivo nos países que primeiro adotaram a inovação social, assim como também no Brasil, desde o Império. Importa registrar que surge hoje como recurso de crescente eficácia dos brasileiros, indicada pelos números anuais de reclamações de pessoas comuns ou das instituições que as representam. Foram, em 2012, 5.616 demandas contra 1.043 em 2009. Do total, mais de 50% vieram do público externo das repartições públicas (2.764 solicitações), das quais, por sua vez, mais de 50% tiveram cidadãos comuns como autores (1.777). Uma informação extremamente importante encontra-se no fato de mais de 55% das demandas foram transmitidas pela internet. Tanto quanto a relevância da ferramenta, vale sublinhar que a população desprovida de acesso a ela tem, obviamente, menos oportunidades de se valer da Ouvidoria.

A Ouvidoria é um exemplo singular do argumento geral com que defendo a vitalidade da Constituição de 88, ao mesmo tempo em que enfatizo que as deficiências constitucionais do País não estão na senectude de sua Carta, mas na insuficiência de sua implantação no território nacional. Seu amplo catálogo de direitos e os segmentos sociais reconhecidos e protegidos em sua dignidade não consistem, ainda, em mais do que promessas constitucionais, sem validade real no mundo dos homens comuns. O Brasil não é um País de constitucionalidade provecta ou desueta, mas de constitucionalidade incompleta. A Carta não vale em todos os rincões da nação. Assim como precisa de mais médicos, o Brasil precisa de mais Constituição, efetiva, vigente no dia a dia das pessoas onde quer que vivam.

Com um quarto de século de existência, a Constituição de 88 já viu poucas e boas, tendo a todas absorvido e a elas sobrevivido. Que tenha longa vida!