Por Gerson Nogueira
Um grupo respeitável de grandes clubes brasileiros ameaça não disputar a tradicional Copa São Paulo de futebol júnior se o São Paulo participar. É a primeira vez que isso ocorre em competição importante no país. Pelo menos, nunca se teve notícia de algo semelhante.
O manifesto dos clubes tem um motivo: o São Paulo é visto como um emérito aliciador de jovens valores formados pelos outros clubes. Além de investir nas divisões de base, mantendo um centro especial de treinamento em Cotia (interior paulista), o clube notabilizou-se por garimpar bons jogadores que surgem em outras agremiações.
Oscar, armador revelado pelo Internacional e cooptado pelo Tricolor paulista, é talvez o caso mais emblemático. Ele só retornou ao clube gaúcho após tumultuada batalha judicial, que proporcionou desgaste e desperdício de dinheiro, além de atrapalhar a carreira do jogador. Em seguida, Oscar foi transacionado pelo Inter com o Chelsea.
Os valores movimentados no negócio ajudam a explicar a preocupação dos clubes em preservar suas promessas. Além dos quatro grandes do Rio, a lista inclui Cruzeiro e Atlético-MG, Internacional, Coritiba, Goiás e Vitória, todos conhecidos pelo zelo e tradição na formação de craques. Ontem, o Corinthians juntou-se ao protesto, quebrando o que parecia um pacto informal dos representantes paulistas.
No documento, os clubes condicionam sua participação na Copinha à exclusão do São Paulo. O imbróglio se formou e a organização do evento ainda não se manifestou. A principal consequência disso até agora é o reaquecimento de um debate que se mantinha amortecido, embora sempre tenha rondado o universo do futebol.
É importante observar, porém, que não só o São Paulo age sorrateiramente para tirar jovens craques de outras agremiações. Hipocrisias à parte, quase todos os demais clubes da Série A adotam a mesma prática, embora sem constância e método. A pressão se exerce de forma ainda mais clara quando envolve equipes mais humildes. Se a discussão servir para ordenar esse mercado negro, o protesto já terá valido a pena.
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A (quase) redenção de um técnico
Quando Ney Franco saiu escorraçado do São Paulo e responsabilizado diretamente pela má campanha inicial do time no Campeonato Brasileiro – afirmações do maior ídolo do clube, Rogério Ceni – ficou aquele imenso ponto de interrogação no ar. Teria Franco, de fato, culpa pela degringolada que o Tricolor experimenta? Fez as escolhas erradas nas contratações e optou por um sistema de jogo retrógrado?
Franco, em sua defesa, criticou a excessiva influência de Rogério na gestão do clube. Sempre é bom entender que, no São Paulo, há quem veja com bons olhos e até defenda essa interferência do herói de tantas jornadas. O técnico tocou, porém, num ponto crucial: o peso que o papel do goleiro e capitão tem no dia a dia do elenco, influindo (para o bem ou para o mal) com seu posicionamento. Mete-se em tudo, ensaiou dizer Franco.
Como muitos sabem, o tempo é senhor da razão. O São Paulo chamou Muricy Ramalho de volta, ensaiou uma reação e voltou a tropeçar. Aos poucos, em silêncio, Franco iniciou a reconstrução de sua carreira. A demissão de um grande clube da forma como ocorreu é quase sempre arrasadora no competitivo mercado nacional de técnicos.
Assumiu o Vitória, que vinha em queda livre rumo ao rebaixamento, flertando com o Z4. Ao longo das últimas seis rodadas, venceu três partidas, empatou duas e perdeu uma. Com isso, alavancou a recuperação do rubro-negro baiano, que fechou a última rodada colado no G4. Sem nenhuma contratação de vulto, apenas com mexidas de posicionamento e trocas no time titular.
O exemplo de Franco confirma a máxima de que o futebol não pode viver das primeiras impressões. O óbvio costuma ser atropelado pelos fatos.
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Direto do blog
“Sou bicolor e vi o jogo. Não moro em Belém há tempos. Fiquei honrado em ver daqui do Rio que, apesar de tudo, ainda somos apaixonados por futebol. Só nos falta uma gestão decente! Hoje vi no meu trabalho torcedores cariocas reclamando da hostilidade da torcida remista com o Flamengo e pediram respeito. Definitivamente eles se acham o centro do universo. Mas nesse nosso Norte tão distante pra eles, nós é que somos a estrela guia! Quando me perguntam aqui qual meu time eu respondo com a boca cheia: PAYSANDU! Assim deveriam se mostrar todos os paraenses. Se nossos times não são fortes no campo eles são no coração. Vida longa a Re x Pa!”.
De Alexandre Fonseca, orgulhoso da pujança da torcida paraense.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 04)