Por Gerson Nogueira
Foi o lance mais bonito do campeonato até agora. Nem mesmo os gols de Seedorf e Alex chegam perto. Mesmo que a máquina de difundir dúvidas da TV tenha tentado estragar a festa, não há quem possa ficar indiferente à beleza plástica da jogada. Bola transportada com esmero desde as cercanias da área até um chapéu clássico sobre o beque e, de emendada, o tiro seco, forte e letal. Ao goleiro, estático sobre a linha fatal, só restou apreciar o espetáculo.
Everton Ribeiro, nome de contabilista ou vendedor de seguros, assinou a obra-prima da temporada. Pode até ser superado no restante do torneio, mas as características do gol que marcou sobre o Flamengo são únicas, inimitáveis. Tem lugar cativo na galeria dos gols mais bonitos da história do Campeonato Brasileiro e certamente vai disputar (com chances reais) o Prêmio Puskas, que a Fifa promove todo ano.
Gols como aquele de quarta-feira à noite sobrevivem ao tempo, estarão vivos na memória de todos mesmo depois de uma hecatombe. São capazes de quase devolver a esperança na arte como parte do jogo, como peça capital no grande negócio em que o futebol se transformou.
Nelson Rodrigues batizaria a jogada de interplanetária e com certeza veria em Everton Ribeiro um gênio da raça, nem que fosse por algumas frações de segundo. Um gol transforma um homem, eleva a estatura de um jogador. Quem era Josimar até marcar aqueles golaços na Copa do México, em 1986? Não passava de um reles lateral, ciscador e indisciplinado. Depois daqueles momentos de enlevo, viu sua carreira decolar rumo ao topo. Mais que o bom Josimar, que se perdeu pelos descaminhos da profissão, há o exemplo fulgurante de Ronaldinho Gaúcho.
Menino ainda, Gaúcho construiu jogada parecida com a de Everton Ribeiro. Era um jogo sem maior glamour pela Copa América de 1999 contra a Venezuela. Em arrancada área adentro, após passe de Cafu, ele aplicou um chapéu no primeiro marcador, levou de calcanhar diante de outro adversário e tocou na saída do goleiro. Foi o quinto gol brasileiro e, a partir dali, Ronaldinho estava pronto para conquistar o mundo.
Não se sabe o que acontecerá a Everton Ribeiro. Na verdade, ninguém sabe o que acontecerá daqui a instantes, mas arrisco dizer que o meia cruzeirense terá muito a lucrar com o seu golaço. A carreira pode estancar pelo caminho, como a de tanta gente, mas ele sempre poderá sacar a fotografia, abrir o Youtube ou exibir o DVD do lance iluminado. A isto se chama glória, senhores.
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Torcedor lança proposta inusitada
Meu amigo Cláudio Santos, desportista em tempo integral e técnico do Columbia de Val-de-Cans nas horas vagas, preocupa-se com o enfraquecimento do futebol regional e tem ideias para enfrentar isso. “No intuito de fazer o futebol paraense voltar a crescer, e pensando que isso só seja possível com Remo e Paissandu estando disputando competições nacionais e se destacando, venho colocar algumas coisas que poderiam ser mudadas, já no Parazão 2014, como abaixo especificadas”, diz.
Cláudio avalia que a Copa do Brasil atual ajuda times médios a fazerem caixa e ganharem visibilidade no país. Entende que a Série D é um prejuízo para times médios, mas pode ser fundamental para o Remo se soerguer. Com base nisso, propõe um amplo acordo (excluindo Paissandu e Águia, já garantidos nas séries B e C) entre os clubes antes da disputa do Campeonato Paraense.
“Dos seis times, à exceção do Remo, todos (cinco) assinariam um documento público abrindo mão de disputar a Série D. Ao mesmo tempo, o Remo assinaria outro documento abrindo mão da Copa do Brasil, enquanto estivesse sem série, mesmo entrando pelo ranking, sendo campeão, ou vice”, sugere Cláudio.
“A FPF se comprometeria a buscar, junto à CBF, adversário de peso para que os times médios ganhem dinheiro na Copa BR. Como ganhou o Independente, jogando contra o São Paulo. Quando à Série D, a CBF não aceita convites, mas aceita um clube no caso de desistências dos demais. Isso seria perfeitamente possível”, acrescenta.
A ideia, original e inusitada, esbarra nas ambições naturais e legítimas de cada clube, principalmente os emergentes (ou médios). O sucesso de Independente, Cametá e Paragominas permitem que os dirigentes interioranos sonhem com oportunidades melhores que a chance de um jogo rentável na Copa do Brasil.
Por outro lado, o claro objetivo de dar uma força ao Remo, em face das tentativas frustradas de chegar à Série D, é seguramente o maior dos obstáculos à efetivação da ideia. Os próprios azulinos talvez rejeitassem um acordão que deixaria o clube na incômoda condição de coitadinho e devedor junto às demais agremiações.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 25)