Por Gerson Nogueira
Parecia até repeteco do estranho ambiente da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2010. Dunga quase esganando um gandula e depois, ao final do jogo, distribuindo xingamentos contra todo mundo. Quem não soubesse do resultado imaginaria que o time do técnico furibundo tivesse sido derrotado. Ledo engano. O Internacional havia acabado de empatar com o Botafogo aos 49 minutos do segundo tempo de um jogo empolgante, mas duríssimo.
Era momento para extravasar a tensão pulando ou mesmo gritando de alegria. Jamais açoitando verbalmente as pessoas próximas. As imagens mostram que até os jogadores do próprio Inter ficaram assustados com a agressividade do treinador.
Fiz referência à Copa da África do Sul porque, ao longo do período de preparação e mesmo durante a primeira fase da competição, o clima nos treinos do escrete eram marcados por silêncios prolongados enquanto os jogadores se exercitavam e resmungos furiosos quando começava a entrevista coletiva.
Dunga, antes mesmo da tristemente famosa explosão final com o apresentador Alex Escobar, já vinha treinando como distribuir coices sobre qualquer um que se aventurasse a contrariar sua lógica ranheta. Dominado por uma espécie de messianismo brucutu, o técnico usava todas as entrevistas para expressar sua contrariedade com repórteres, como se fossemos culpados pelas pouco convincentes apresentações do escrete.
Reinava, até mesmo entre os profissionais de comunicação da CBF, certa apreensão quando chegava o momento de Dunga, por determinação formal da Fifa, falar com a imprensa. Era um exercício de tolerância da parte dos jornalistas. Era necessário medir palavras antes de falar com o destemperado treinador, em contraste com as contínuas demonstrações de civilidade de seus demais colegas de ofício.
Da pior maneira possível, a derrota frente à Holanda pôs um fim ao ciclo de Dunga na Seleção, frustrando seu sonho de levantar como técnico a taça do mundo e impor segunda vitória sobre seus críticos. Um de seus mais devotos apóstolos, volante Felipe Melo, acabaria como algoz involuntário do próprio time.
Havia esquecido um pouco essa fase carrancuda de Dunga à frente da Seleção quando, de repente, ressurge com toda a intensidade na tela da TV, na quinta-feira à noite. Primeiro, o técnico do Inter se exasperou com a ação dos gandulas do Botafogo, supostamente rápidos demais na reposição de bolas – como se isso fosse um delito.
Em determinado momento, com o Inter em vantagem no placar, saltou sobre um dos garotos, a quem agarrou pelo braço vociferando palavrões que os microfones captavam. Enquanto o gandula descia para o túnel, com expressão assustada, Dunga era contido pelo quarto árbitro. Chegou a esbarrar com os punhos no rosto deste e só após muita insistência voltou ao seu lugar junto ao gramado.
Até hoje não consegui entender como um profissional dedicado ao futebol pode ser tão aborrecido. Para técnicos de times de primeira linha, o ofício inclui o ônus das cobranças pesadas, mas reserva o bônus do reconhecimento e dos salários diferenciados.
De qualquer maneira, imagina-se que quem abraça a carreira está vacinado quanto ao lado menos glamuroso e apto a encarar todas as situações. Dunga, pela vasta experiência como jogador e treinador, não tem mais o direito de sair espanando brasa diante de incidentes normais do jogo. Já era tempo de entender que civilidade e bons modos são obrigações de todo cidadão – dentro ou fora das quatro linhas.
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Leãozinho enfrenta osso duro
A notícia de que o Remo enfrentará o Vitória, campeão brasileiro sub-20, na Copa Brasil da categoria, traz preocupação e um grande alento para os azulinos. Significa, acima de tudo, a chance de faturar uma boa arrecadação no jogo de idade, programado para 4 de setembro, no Baenão. O lado preocupante é o fato de a equipe remista, que acaba de conquistar o torneio nortista, estar tecnicamente abaixo do representante baiano.
No geral, porém, o Leão tem mais é que festejar mais essa chance de entrar em atividade na longa espera pelo recomeço das atividades profissionais.
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A data é comemorada aqui e em Baião. Meu pai José aniversaria hoje, no esplendor dos 83 anos. Que Deus o guarde sempre!
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 18)
