Por Gerson Nogueira
Pode-se dizer, sem exagerar nas tintas, que o Remo renasce das cinzas através dos meninos do sub-20. De repente, o ano que se encaminhava para um final melancólico, sem expectativas maiores, ganhou outras nuances pelos pés da garotada. A Copa Norte caiu do céu para o deserto de ideias e de ânimo que dominava o estádio Evandro Almeida.
De onde menos se esperava veio um sopro de esperança, com o convite para que o clube participasse do torneio regional. Em outros tempos, caso a equipe profissional estivesse em atividade, a torcida nem tomaria conhecimento da competição. Como não há calendário oficial, todas as atenções se concentram na Copinha.
Consciente dessa oportunidade única de resgate da autoestima, o torcedor abraçou a causa. Tem comparecido a todos os jogos, estabelecendo média acima de 3 mil pessoas (pagando bônus de R$ 5,00). Na sexta-feira, um verdadeiro fenômeno: um público entusiasmado, enfrentando o calor e o desconforto de um horário anti-futebol.
A comovente adesão da torcida contagiou a diretoria, que não mediu esforços para transformar a Copa Norte no principal evento da nova gestão. Os diretores recentemente empossados têm se esmerado em corresponder à confiança do torcedor. Sabem que dependem do crédito da massa para executar um bom trabalho.
Tanto sucesso extracampo deixou em alguns momentos o futebol dos garotos em segundo plano. O Remo não tem, obviamente, um timaço. Mostra alguns bons jogadores, muitos já conhecidos, como Jaime, Ian, Gabriel e Alex Juan. Outros são mais rodados, como Jader. E alguns novos de futuro, como Guilherme, Tsunami, Nadson e Rodrigão.
A mobilização não visa unicamente conquistar a Copa Norte. É mais que isso. Se o time eventualmente não vencer a decisão deste domingo, o envolvimento coletivo já terá valido a pena, como prova de que o esforço de reconstrução é válido. E talvez o Remo estivesse precisando exatamente desta oportunidade para redescobrir valores que andavam esquecidos. Valorizar suas próprias crias, por exemplo. (Foto: MÁRIO QUADROS/Bola)
————————————————————————–
Novos horizontes para o Papão
Foi a primeira vitória de Arturzinho no comando técnico, e o jogo valeu exatamente por isso. O Paissandu voltou a ter um comportamento tumultuado, sem esquema definido e errando em excesso. Até o meio-de-campo, setor que era o mais arrumado do time, continua instável. A bola queima nos pés dos armadores e raramente chega ao endereço certo.
De qualquer maneira, o Papão de sexta-feira foi bem mais determinado e consciente de seus limites. Arriscou pouco, como sempre, mas foi preciso quando as chances de gol apareceram. Nem mesmo a ausência de cobertura eficiente na defesa foi suficiente para
É preciso reconhecer, porém, que o primeiro tempo foi admirável na medida em que o time se entregou ao compromisso de vencer. De qualquer maneira. Todas as peças funcionavam bem, até mesmo o improvisado Djalma na lateral-direita. Vontade e comprometimento eram evidentes. Virtudes que compensaram a falta de técnica.
Na etapa final, o Papão foi inteiramente envolvido pelo adversário, que só não teve melhor sorte porque também abusou dos passes errados e da má pontaria. Arturzinho teve a felicidade de obter um resultado positivo, apesar das mudanças operadas no time.
Foi um resultado excelente, que pode – dependendo da combinação de outros resultados – até tirar o time da zona do rebaixamento. Alguns pontos precisam ser destacados, como a dedicação de Djalma e o renascimento de Héliton. Vale dizer também que o posicionamento de Diego Barbosa como armador clássico no segundo tempo foi uma boa descoberta.
O triunfo suado e sofrido não obscurece as fragilidades que o time carrega desde o começo da competição. Alguns dos problemas são sistêmicos, e só terão solução quando atacados de maneira ampla. É o caso do crônico defeito na segunda bola, que o Papão perde sempre, sobrecarregando a marcação e abrindo possibilidades para o adversário. Além disso, existem situações pontuais, como nas laterais e cabeça-de-área, que dependem de resoluções práticas – e urgentes.
————————————————————————
Lembrança e gratidão
A coluna de hoje é dedicada aos meus velhos José Dias e Juca Nogueira. O segundo já não se encontra aqui, mas o primeiro continua firme e forte, a guiar meus passos com seu exemplo de vida, pautado na dedicação ao trabalho e à família. Obrigado a ambos, por tudo.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 11)
