Manifestações pioraram o Brasil

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Por Miguel do Rosário

É duro constatar, mas acho que as manifestações pioraram o Brasil. Ficamos mais conservadores, mais violentos, mais condescendentes com saques e depredações. A direita ficou mais próxima de voltar ao poder. O Brasil não melhorou em nada. Por isso a mídia está tão eufórica com as manifestações, chamando-as de pacíficas mesmo que seus carros estejam sendo incendiados, as fachadas de seus prédios depredadas, seus repórteres obrigados a cobrir os eventos do alto de helicópteros ou de cima de prédios.

Nem em situações de guerra, vimos repórteres tão precavidos com sua segurança. Mas as manifestações continuam sendo descritas como ~pacíficas~ e o vandalismo como coisa de uma minoria ou de ~infiltrados~.

Não são infiltrados. Eles fazem companhia aos manifestantes desde o início das passeatas. Gritam com eles, fazem sua ~segurança~ e expulsam aqueles que não consideram ~adequados~ à estética do protesto: movimentos sociais, sindicatos, partidos, etc. Quando o protesto chega ao fim, a testosterona da playboyzada acostumada a filmes de destruição e videogames violentos fala mais alto e todos partem para o quebra-quebra. E no dia seguinte, ~intelectuais~ justificam os saques dizendo que os saqueadores “nos representam, são os únicos que nos representam”, conforme disse Francisco Bosco.

Enquanto isso, os homens de “bem” dizem que apoiam as manifestações, que o Brasil precisa mudar. Mas ninguém percebe que o pacto democrático implica em que as mudanças devem ser discutidas com toda a sociedade, e realizadas mediante instrumentos democráticos e pacíficos.Até porque, em caso contrário, voltamos à barbárie em que aqueles que falam mais alto, tem mais músculos e são ricos o suficiente para pagar bons advogados, serão os todo-poderosos das manifestações e da política.

Por mais que os instrumentos democráticos sejam demorados, são os mais seguros, prudentes, e que nos afastam de situações de guerra social. Adotaremos modelos de guerra civil da África sub-saahariana?

Se as depredações são justificadas, o que vem em seguida? Assassinatos e linchamentos dos donos dessas lojas? Restarauntes serão invadidos por ~manifestantes~ enfurecidos e seus clientes espancados? Aí ninguém mais vem ao Brasil, ninguém mais investe em nosso país, o desemprego aumenta, e tudo desanda. A economia precisa de estabilidade e um mínimo de paz social para se desenvolver.

Algumas revoluções são lindas, mas só quando absolutamente necessárias e inevitáveis. Revolução conduzida por jovens mascarados de classe média alta, filhos da elite mais reacionária do país, ninguém merece.

Temos assistido um ataque às instituições e aos valores democráticos. Em tempos de simulacro e midiatização de tudo, as pessoas assistem ao quebra-quebra como quem vêem filmes. Mas milhões estão sofrendo transtornos. As polícias estão sendo pressionadas psicologicamente muito além do limite razoável. No Leblon, assistimos vídeos (eu assisti) com centenas de playboys humilhando um PM que passava pelo meio da multidão. Quem mora em grande cidade, já viu esta cena antes.

Hà alguma coisa estranha no ar. Não queria ser paranóico. Mas neste momento de delírio coletivo, talvez seja a hora de sê-lo. E vamos tentar chamar as pessoas à razão.

As pessoas estão desenvolvendo um ódio irracional à política e aos políticos. Qual a razão do ódio súbito a Sergio Cabral? Porque “privatizou” o Maracanã? Porque está tocando as obras da Copa? Ora, não dá para entender. Num lugar protestam porque o Estado gastou com a construção de um estádio, no outro porque entregou ao setor privado. O Leblon anti-Cabral sempre foi o lugar que mais concentra defensores da privatização, e não do Maracanã, mas de empresas estratégicas, como Petrobrás, Banco do Brasil e Vale do Rio Foce. O Leblon carioca votou em Serra.

Entendo perfeitamente que não gostem de Cabral. Mas se organizem para eleger outro candidato. O que estamos vendo é a emergência da velha classe média favorável a soluções de força, e irritada com os resultados de eleições limpas.

28 comentários em “Manifestações pioraram o Brasil

  1. As manifestações não pioraram o Brasil. Elas só mostraram que o Brasil nunca foi aquela festa midiática que se fazia antes, nestes últimos 11 anos. Esse Brasil de agora, é o mesmo Brasil de antes.

    Quanto ao vandalismo, e outras ações criminosas que ocorrem durante e após as manifestações, trata-se, no mínimo, de incompetência do próprio poder público. Ora, cumpria à polícia identificar os vândalos e demais criminosos e prendê-los. E à Justiça mantê-los ali, presos. Será que os poderes constituídos não são capaz de fazer isso? Ou tudo não passa de estratégia para descredibilizar as manifestações, se não for coisa pior?

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  2. Antonio, o Brasil é o mesmo sim, mas não em sua totalidade. Quanto ao texto, concordo com ele em parte. As manifestações mostraram o seguinte: há amplos setores com uma insatisfação que é procedente, outros setores consideráveis estão aproveitando o momento para mostrarem suas verdadeiras faces (ódio de classe, nacionalismo reacionário, preconceito contra minorias, ojeriza a partidos de esquerda e movimentos sociais). Esse é o panorama.

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  3. Gérson, não gosto das suas colocações sobre futebol, acho vc primeiro torcedor do remo depois cronista esportivo, mas suas colocações políticas são perfeitas, acho tb q estão armando pra direita (PSDB) voltar ao poder, não por competência da mesmo, mas por imposição da mídia. Será q vamos dnovo ter q engolir a Globo ditando em quem o povo votar (vide caso da edição do debate Collor x Lula)?

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  4. Viram que o cientista social que vinha estudando as manifestações, acompanhando-as, foi seqüestrado, no Rio, e deram o recado a ele, de que parasse de escrever ?!

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  5. O autor deste texto que ora comentamos pra mim é um destes que está se aproveitando do clima de insatisfação geral para jogar uma cortina de fumaça no cerne da questão para focar no subsidiário, no periférico, no “centrífugo”. Quanto ao que ficou demonstrado com as manifestações, faço uma leitura semelhante. Mas, pra mim, a ojeriza aos partidos não se restringe à apelidada esquerda, e decorre de pares tipo lulla/sarnei/maluf etc, etc, etc. Além do peleguismos de determinadas centrais sindicais e a falta de compromisso social de determinados organismos como a une, por exemplo.

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  6. A ameaça de morte ao sociólogo que criticou a PM no Rio

    Enviado por luisnassif, sab, 20/07/2013 – 11:55

    Sugerido por jns

    Do O Dia

    Sociólogo que criticou a PM do Rio é ameaçado de morte

    Paulo Baía disse que ‘Polícia Militar viu o crime acontecendo e não agiu’ no Leblon

    Hilka Telles

    Rio – Numa investida que remete a ações praticadas nos tempos da ditadura, quatro homens armados e encapuzados sequestraram o sociólogo, cientista político e ex-secretário estadual de Direitos Humanos Paulo Baía, ontem de manhã, apenas para dar um recado: “Não dê mais nenhuma entrevista e não cite a Polícia Militar de forma alguma, senão será a última entrevista que o senhor dará”.

    O “atentado ao estado democrático de direito”, como definiu o procurador-geral do Ministério Público, Marfan Vieira, com quem Baía se encontrou no início da tarde, foi praticado por um homem negro, um branco e dois pardos, que usavam roupas de moleton com capuz, máscaras de esqui e óculos escuros.

    Segundo ele, o motivo da ameaça foi reportagem publicada nesta sexta-feira em ‘O Globo’, na qual Baía afirma que, na manifestação no Leblon de quarta-feira, “a polícia viu o crime acontecendo e não agiu” e que “ o recado da polícia foi o seguinte: agora vou dar porrada em todo mundo.”

    Baía foi sequestrado às 7h30m, quando fazia sua caminhada habitual no Aterro, na altura da Rua Buarque de Macedo. Ele foi abordado por dois homens, que mostraram as armas na cintura e o puseram no banco de trás de um Nissan preto sem placa, com vidros fumê. Imagens de câmeras da CET-Rio e de prédios próximos serão requisitadas pela polícia e pelo Ministério Público.

    “Foram poucos minutos. Falaram e se calaram, mas percebi que eram bem articulados. Fizeram o retorno e me deixaram em frente à Biblioteca Nacional. Antes de eu sair do carro, só disseram mais uma coisa: “O recado está dado”. Ele diz que nunca recebeu qualquer ameaça e não pretende andar com seguranças.

    No fim da tarde, Baía foi ao encontro da chefe de Polícia Civil, Martha Rocha. “O atentado não foi só contra mim. Foi contra a imprensa e a liberdade de expressão também”. Baía diz não saber de quem partiu a decisão de intimidá-lo.

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  7. Antonio, acredite, a rejeição aos partidos políticos é a maior das cortinas de fumaça das manifestações. Cria-se o fato político, mas encobre-se as reais intenções dos setores conservadores. A tática é muita similar às de regimes totalitários do século XX. O discurso é o da destronação de todos os partidos políticos, valendo-se de um descontentamento que é apropriado por grupos (até truculentos) e pela imprensa (também um partido, ora vejam) como sendo amplo mas que sabe-se é aparente, pois está é a única forma de legitimar ações (quem sabe à margem do ordenamento político e das leis vigentes) contra o principal alvo dos setores conservadores: partidos de esquerda, organizações de trabalhadores (alinhados ou não com o governo), movimentos populares e minorias. É preciso ser contra todos para atingir apenas alguns. É o sonho das elites do retorno ao porrete, da imposição de uma tirânica democracia dos mais fortes (pois ela já é a dos mais fortes) ou mesmo de uma ditadura conservadora. Por isso setores da esquerda moderada, de centro, acusam PSTU, PSOL e movimentos sociais integrantes do campo político à esquerda de “irresponsáveis”, pois estes aderiram às manifestações (aliás, nelas sempre estiveram). Espero estar enganado, mas por ora está sendo chocado o ovo da serpente.

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  8. Sou da teoria da conspiração: Com tantas Câmeras e cobertura da televisão, fotógrafos inclusive de setores da própria polícia, e mesmo assim não conseguem identificar os mascarados.É no mínimo incompetência para não dizer suspeito. Como dizia o Chico Buarque nos idos de 1970 “chame o ladrão, chame o ladrão”…
    A quem interessa o vandalismo? Uma resposta eu tenho certeza: Ao povo é que não é.

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  9. Cabral não quer ordenar que a polícia reprima os vândalos, para evitar que sua imagem seja ainda mais desgastada. Se ele mandar reprimir, vai pegar muito mal a ele.

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  10. Política é como futebol. Nunca vi os mais apaixonados mudarem de partido, mas os “artistas” não perdem tempo pra enganar ora aqui, ora ali, como os jogadores. Pra mim basta dizer que não faltam motivos para o povo protestar há muitos e muitos e muitos anos. O resto é interpretação.

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  11. O Brasil já surgiu piorado caro anônimo. Queres uma pequena lista dos que pioraram o país antes dos petistas? Lá vai:

    1. Dom Pedro II
    2. Intendências militares (a tal Espada republicana)
    3. Getúlio no Estado Novo
    4. Ditadores Militares (não merecem nem ter seus nomes proferidos ante o retrocesso que representaram).
    5. Sarney
    6. Collor
    7. Fernando Henrique Cardoso.

    E aí meu caro, alguém acima é de sua predileção?

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  12. Os últimos meses não foram fácies para o Clube do Remo. Após perder a final do segundo turno para o Paragominas e, consequentemente, a vaga na Série D do Brasileiro, o Leão Azul paraense passou por um verdadeiro turbilhão de acontecimentos negativos. Saída de jogadores, salários atrasados de atletas e funcionários, dívidas trabalhistas, cofres vazios e até a renúncia do presidente Sérgio Cabeça, alegando problemas de saúde.

    Zeca Pirão, que era o vice, assumiu o clube e comandou uma verdadeira faxina, com a nomeação de novos diretores que antes faziam parte da oposição. Agora, para deixar as nuvens negras de vez para trás, o clube organiza, para a manhã desta quarta-feira, um tradicional banho de cheiro do Ver-o-Peso nas instalações do estádio Evandro Almeida.

    A programação começa às 10h desta quarta, sob o comando de Dona Cheirosinha. Serão mais de 30 litros de água com 21 ervas, entre as quais “Afasta-te de Mim”, “Sai desgraça”, “Manda embora”, “Cão Chupando Manga”, “Mau Olhado” e “Espanta Inveja”
    .

    KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

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  13. Concordo com o texto…. Quem piorou o brasil foi a ditadura e a direita que quer voltar de qq jeito…. O governo do pt tirou milhoes da linha da pobreza e isso incomoda os burgueses e preconceituosos que querem escravos para seus filhinhos de papai…

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  14. Daniel, respeito sua opinião, mas os fatos, a realidade concreta da vida, apontam noutra direção. É a polícia que não está cumprindo o seu papel. São os partidos que não estão cumprindo o seu papel, são os governos federal, estaduais e municipais que não estão cumprindo o seu papel.

    Em conseqüência, todos os serviços essenciais de que a população é extremamente necessitada estão absolutamente sucateados, com destaque para a educação, saúde e segurança. Com efeito, a maioria da população está sofrendo. Sofrem os ricos, os pobres, os mais ou menos. Só quem está se dando bem, são aqueles que já estavam se dando bem desde sempre, e aqueles que assumiram o poder nestes últimos 11 anos. Aliás, estes últimos asseguram o maná dos primeiros e vice-versa. Nem os “beneficiários” das bolsas escapam dos prejuízos. De muito pouco adianta as bolsas, diante dos problemas nos setores da segurança e da saúde, só para citar dois exemplos.

    E rejeitar partido político e sindicatos pelegos nas manifestações é democrático, é assegurado pela Constituição. É a livre manifestação do pensamento. Se os partidos e os pelegos querem fazer manifestação que organizem as suas próprias e não venham se aproveitar das manifestações de quem não aguenta mais as armações e omissões.

    E como os Vândalos são mascarados, quem garante que eles não integram os rejeitados partidos/centrais pelegas ou os próprios quadros das polícias? Será que é por isso que a polícia não cumpre a simples missão de os identificar e prender?

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  15. Antonio, concordo com você em 75% do que escrevestes. A péssima qualidade dos serviços públicos, a pesada carga tributária, a corrupção política e a débil contra-partida do estado brasileiro, dentre outras fragilidades, devem ser sim denunciados e, por óbvio, são todas motivos extremamente procedentes de descontentamento. Contudo não podemos associar o dito apartidarismo (na verdade o anti-partidarismo) à insatisfação com todos os partidos. Em São Paulo (e em menor grau em Belém), quiseram fazer calar e baixar as bandeiras de movimentos sociais, associações de classe, sindicatos (não pelegos, em sua maioria) e partidos políticos, todos de oposição ao governo federal e que nunca governaram o país. Ademais, quem via de regra está (e esteve) sempre nas ruas? O PSDB? O PMDB? O DEM? Além disso, muitos grupos e muitos manifestantes que levantam de forma canina a bandeira do “apartidarismo” são filiados a partidos e organizações de caráter não progressista. O MPL, em São Paulo, é composto por membros de partidos políticos de esquerda e apoiou as manifestações dos mesmos em suas passeatas, haja vista que a redução das passagens e o próprio passe-livre é proposta destas agremiações. Será que outros grupos de interesses, digamos, menos nobres, não se apropriaram de muitas manifestações para destilar suas reais vilanias, em que pese o descontentamento geral?

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  16. Assim, rejeitar partidos, sindicatos e quejandos é sim democrático, concordo. Agora impedir com truculência suas livres manifestações, garantidas pela constituição, não soa democrático, há de se convir.

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  17. Malcher, a truculência a que te referes é obra dos vândalos, dos mascarados, enfim, dos infiltrados. Isto é, daqueles que estão na manifestação, a mando, exclusivamente para tumultuá-la, para gerar elementos para que ela possa ser desqualificada depois pelos governistas de ofício, pelos situacionistas profissionais como o autor deste post que estamos comentando parece querer se transformar.

    No mais, da parte dos manifestantes genuínos, o que há é mera condenação verbal, são coros convidando a militância contratada a se retirar de onde não são bem vindos, são vaias demonstrando a insatisfação contra a atitude aproveitadora, parasitária e pirateira desta turma, onde alguns sempre foram militantes, combativos e que de repente assumiram um postura francamente oposta, governista, amestrada.

    Enfim, os verdadeiros manifestantes rejeitaram democraticamente os aproveitadores, numa atitude bem menos veemente do que aquelas adotadas há um pouco mais de uma década passada nos piquetes contra os fura-greve, os enfraquecedores dos movimentos dos trabalhadores, os pelegos de então.

    A propósito, seguindo o link sugerido pelo Harold, estive lá na fonte, onde encontrei uma infinidade de comentários políticos, dos quais posso qualificar este aí de cima muito destoante, eis que se dedica exclusivamente a desqualificar o movimento, chegando ao ponto de dizer que o país piorou durante este mês de manifestações, ou que as manifestações não melhoraram o país em nada. Como se o resultado que se esperasse de manifestações fosse o de num átimo conseguir reverter o quadro secular de desgoverno de má vontade política. Pois sim, quem deveria ter iniciado a reversão era o governo que ele defende, nestes 11 anos que já está no poder e ainda não o fez, tendo ficado a maior parte deste tempo a fabricar notícias de um país mais justo, mais feliz, mais festivo. E a outra a garantir a permanência no poder e nas benesses que ele trás, mediante troca de favores com os históricos e tradicionais parasitas do poder.

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