
Por Gerson Nogueira
O que leva um time a cair no despenhadeiro a cada gol tomado? Quem conseguir uma resposta para esse enigma terá desvendado o mistério que envolve a derrocada do Remo no returno do Campeonato Paraense. Ontem, em Santarém, pela terceira vez consecutiva, o time desabou ao sofrer gol – no caso, o segundo do São Francisco, aos 35 minutos de bola rolando.
Como já havia acontecido anteriormente contra o Paissandu e o Paragominas, o time de Flávio Araújo acusou o impacto do gol e se desnorteou por completo. Passou a errar passes como um time de garotos e a se atrapalhar na marcação, permitindo que o São Francisco tomasse as rédeas da partida.
O ponto de desequilíbrio parece ser a insegurança que tomou conta de todos os jogadores. Não se sabe o que ocorreu internamente, mas o fato é que o Remo perdeu o bonde no último Re-Pa. As circunstâncias daquela derrota, que se desenhou depois de um gol surgido quando o jogo ainda era equilibrado, tiraram a tranquilidade e a força emocional do elenco.
No gramado do estádio Barbalhão, a crise de identidade ficou patente na volta para o segundo tempo. O São Francisco vencia por 2 a 1 e mostrava-se à vontade em campo, embora não fosse uma partida exuberante. Qual a vacina para conter um time em ascensão no jogo? Óbvio: tentar interromper o processo, através de mudança de jogadores ou de posicionamento.
O Remo não fez nenhuma das duas coisas. Entregou-se ao nervosismo. Seus zagueiros exprimiam esse sentimento, cometendo faltas desnecessárias e falhando seguidamente. Logo aos 4 minutos, em cruzamento que atravessou a área, o zagueiro Aldair cabeceou a bola na trave. Cinco minutos depois, Jefferson, o melhor do jogo, invadiu a área e foi chutar na cara do gol. Fabiano saiu com os pés e salvou.

A confusão que dominava o time não era percebida pelo técnico, que deixou o barco correr. Veio o terceiro gol, após cobrança de falta pelo lateral Levy. Como em lances anteriores, a bola passou pelos zagueiros e foi desviada pelo meia Mário Augusto.
Só então, com a derrota desenhada, o técnico resolveu partir para mudanças. Entraram Diogo Capela e Val Barreto. Saíram Carlinhos Rech e Fábio Paulista. Val pouco acrescentou, mas Capela botou ordem na meia-cancha, lançando e aparecendo para finalizações. Participou dos três lances mais agudos do Remo na etapa final. Pelo que mostrou fica ainda mais difícil entender sua condição de reserva num time tão carente de qualidade na criação.
O São Francisco, sempre seguro e superior, acabou perdendo mais duas oportunidades e Berg apareceu em campo aos 46 minutos, disparando um chute no travessão. O Leão santareno estava sem vencer há nove rodadas e conquistou seus primeiros pontos no returno. Depois do vexame, o meia Tiago Galhardo repetiu a frase do goleiro Evandro e disse que era um absurdo perder para o pior time do campeonato. Faltou completar que quem perde não tem o direito de desqualificar o vencedor. (Fotos: MÁRIO QUADROS/Bola)
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Águia guerreira mata na hora
O lado emocional parece ter tido papel decisivo também no clássico de sábado entre Tuna e Paissandu, disputado no Mangueirão. Depois de estabelecer vantagem de 2 a 0, os bicolores relaxaram e acabaram por permitir a reação cruzmaltina. Foi o segundo empate do Papão depois do Re-Pa.
É claro que a ausência de Eduardo Ramos, principal destaque do time, pesou na balança. Mas não explica como a equipe deixou escapar uma vitória que parecia líquida e certa até 42 minutos do segundo tempo. Não foi a primeira vez no campeonato que o Paissandu permitiu a um oponente tirar diferença nos instantes finais, mas desta vez exagerou na dose.
O resultado reforçou a posição da Tuna na briga por uma vaga nas semifinais e deixou o Paissandu dependente de um bom resultado contra o Santa Cruz, fora de casa.
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Paragominas confirma grande fase
O Paragominas confirmou o bom momento conquistando a segunda vitória seguida em circunstâncias desfavoráveis. Na quinta-feira havia derrotado o Remo na Arena Verde completamente alagada. Ontem, também sob forte chuva, superou o Águia no Zinho Oliveira.
As duas vitórias asseguraram ao time de Charles Guerreiro a classificação antecipada às semifinais, com excelentes possibilidades de conquistar vantagem no cruzamento. Na última rodada, enfrentará a Tuna em Paragominas e em caso de vitória ficará em primeiro lugar.
Já o Santa Cruz percorre caminho menos tranquilo. O empate em Cametá deixa a equipe sob risco de exclusão do G4 na última rodada, pois cruza com o Paissandu na última rodada.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 25)