Um craque, muitas dúvidas

Por Gerson Nogueira

Ele foi cuidadosamente preparado ao longo de dois meses para entrar tinindo no time do São Paulo. Não como um reforço qualquer, mas como o comandante da esquadra. Maestro foi o nome idealizado pelo marketing do clube. Pois, na primeira oportunidade realmente importante, abrindo a participação na Libertadores em casa, diante de mais de 60 mil torcedores, Paulo Henrique Ganso ficou no banco de reservas. Esperou intermináveis 80 minutos para entrar, isso quando a partida já estava decidida.

O técnico Ney Franco preferiu apostar em Jadson como o organizador, aproveitando Aloísio como o atacante pela direita e Fabiano no centro do ataque e Osvaldo pela esquerda. Na formatação, não sobrou lugar para o craque paraense, mas pipocaram indagações, principalmente porque o São Paulo disparou uma goleada tranquila sobre o retrancado Bolívar, com boas atuações individuais dos homens de frente.

Diante disso, crescem as interrogações sobre o futuro de Ganso no Morumbi – e na Seleção Brasileira. Dias antes de ser barrado por Ney Franco, ele havia sido preterido na primeira convocação de Felipão no escrete. Perdeu vez para jovens tão badalados quanto ele (Oscar, Lucas) e até para um veterano, Ronaldinho Gaúcho.

Os sinais internos não favorecem. Depois do jogo contra o Bolívar, o capitão Rogério Ceni fez uma análise detalhada das atuações, falou sobre todos os jogadores e reservou um carinhoso trecho a Ganso, dizendo que ele está se enturmando e se adaptando ao time. Jeito educado de admitir que ele não está dentro, ainda está chegando. Ney Franco, momentos antes, foi mais sucinto. Referiu-se a quase todos os jogadores e, quando perguntado sobre Ganso, fez um comentário genérico.

O grande desafio de Ganso é voltar a jogar bola no nível de 2009/2010/2011, quando encantou com seu estilo clássico e cadenciado, cheio de toques sutis. É verdade que na Vila Belmiro era um coadjuvante de luxo. Escoltava o astro Neymar. Esse papel secundário, refletido em acentuadas diferenças salariais e de tratamento, apressou a saída do meia paraense.

Acontece que naquele time Neymar era a flecha e Ganso funcionava como arco. Eram régua e compasso. Entendiam-se desde os primeiros treinos entre a garotada do Santos. O sucesso crescente de Neymar, alicerçado nos passes do companheiro, serviam para referendar a qualidade de Ganso.

No São Paulo, Ganso viu-se livre da sombra projetada por Neymar, mas ficou sem outro parceiro que sirva de referência e seja beneficiário direto de seu talento para armar. Junte-se a isso o fato de ter chegado a um time que já tinha um meia-armador, Jadson, e um técnico que começava a esboçar a escalação ideal.

Enquanto Ganso buscava o melhor condicionamento, o meio-de-campo foi sendo montado e nem mesmo a saída de Lucas significou abertura para o recém-contratado. Para piorar, a cadência de Ganso não combina com a velocidade que o São Paulo passou a adotar.

Sua condição oficial de reserva foi reafirmada por Ney Franco ao anunciar o time para enfrentar o modesto Atlético Sorocaba neste sábado. Ganso tem bola para brigar por um lugar no time principal, mas, ao que parece, terá que se reinventar novamente. E precisa ser rápido porque 2014 já está bem ali.

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Cultura germânica na bola

Ao anunciar que vai substituir o técnico Jupp Heynckes por Pep Guardiola, o Bayern pôs em prática o mais estrito senso profissional germânico. Quem estranhou a atitude, quase como um gesto de aposentadoria forçada de Heynckes, desconhece o estilo alemão de lidar com questões trabalhistas. Veterano, com extensa folha de serviços prestados, Heynckes reagiu com naturalidade e compreensão.

O clube foi transparente, avisou com meses de antecedência e deu à troca um caráter absolutamente normal. Em sentido contrário, o estilo sul-americano, e particularmente o brasileiro, incluiriam quase com certeza o ritual de fritura do técnico que estivesse no comando.

O posicionamento do clube alemão deu a Guardiola a segurança para desembarcar em Munique com total autonomia para gerir um dos gigantes do futebol mundial. Não ficará responsável apenas pelo futebol profissional. Vai estar diretamente ligado às demais divisões do Bayern, da mesma forma como trabalhava no Barcelona.

Ciente das especificidades da cultura alemã, Guardiola dedica-se a aprender o idioma, a fim de poder se comunicar bem e entender melhor reações, comentários e humores de seus comandados.

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Primeiro clássico carioca

O primeiro clássico carioca põe frente a frente neste domingo Fluminense e Botafogo. O campeão brasileiro pode se dar ao luxo de escalar um time mesclado e, ainda assim, terá altas doses de competitividade. Já o Botafogo, que se atrapalhou em Moça Bonita na quinta-feira, possivelmente não terá Seedorf e ainda busca a melhor formação ofensiva. Como quase sempre nos últimos tempos, o favoritismo é tricolor.

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Bola na Torre

Iarley (PSC) é o convidado do programa neste domingo. Guilherme Guerreiro apresenta. Participações de Giuseppe Tomaso e deste escriba baionense. Começa logo depois do Pânico na Band.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 27)

15 comentários em “Um craque, muitas dúvidas

  1. É amigos, infelizmente o tempo vai passando e Ganso não vinga. Seleção tá longe, na verdade ainda tá muito abaixo de Pita, Alex e Giovanni, que se não tiveram história na seleção, marcaram época em seus clubes com estilo semelhante ao seu. Até mesmo os polêmicos e rebeldes Neto, Mário Sérgio e Marcelinho estão à sua frente, pois também sabiam tratar a bola e embalaram multidões. Temo que, vendo Libertadores e Copa das Confederações chegando, comece a bater de frente com o técnico pelo status de titular e perca de novo a tranqulidade.

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  2. Também não perdi a esperança, Claudio. Só que os outros estão aí – Oscar, Lucas, Hernanes…Até Kaká penso estar na sua frente sob o comando do Scolari, que aliás, gosta mais de “raçudo” do que de talentoso.

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  3. O treinador do São Paulo já deixou claro que Ganso não será sua primeira opção. Ele, em uma entrvista afirmou que não recomendaria a contratação de PH Ganso ao São Paulo e na semana seguinte foi anunciada a ida do paraense ao Morumbi. Esta por força da diretoria.

    Franco ficou mais peçonhento com o jogador quando se deparou com a festa feita para receber o jogador, PH Ganso. Portanto, ele que se cuide e volte logo a praticar o fino do futebol mesmo nas poucas chanses que terá, porque aí, a torcida e os que bancaram sua contratação forçarão sua presença contínua no time prencipal.

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  4. Ao contrário do que diz o título do post, não creio que existam mais dúvidas sobre o futuro do jogador. Infelizmente não vai corresponder às expectativas. Problemas graves em ambos os joelhos criam limitações demais para que um atleta consiga manter um futebol de alto nível. Quase toda a mídia paulista já desistiu dele – que diferença para os elogios rasgados de anos atrás! Hoje só restou a mídia do Pará a apoiar o atleta. Ganso repete os mesmos defeitos de outros jogadores da região que foram tentar a sorte no sul maravilha: a apatia, o retraimento, um mal relacionamento com todos os que o cercam e que dificulta sua ascensão na carreira. Foi assim também com Giovani, o Gaguinho, que mal conseguia dar entrevistas. Barrado na seleção, ao invés de tentar se impor dentro e fora de campo, calou-se, escondeu-se e desapareceu.

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    1. Ganso é craque, amigos Cláudio e Maurício. Sou fã de seu estilo, mas precisa se reinventar. Não pode jogar tão parado e alheio ao que acontece quando fica sem a bola. Ontem, deu uma melhorada, mas ainda é pouco. Ney Franco, na entrevista pós-jogo, praticamente garantiu que ele segue no banco de reservas.

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  5. Irei assistir só por causa do nosso ídolo IARLEY, ontem fez um belo gol, de calcanhar, em 15 minutos, mesmo sem ritmo e campo pesado, fez mais que o João Neto, que ” tremeu ” no clássico de ontem .. !

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  6. O Ganso tava na seleção na estreia do Mano Menezes, com o Neymar, e teve participação efetiva no jogo, com uma vitória indiscutível sobre os EUA. O meia foi muito elogiado. A queda do futebol do Ganso se deve a fatores extracampo e à moda brasileira de os treinadores inventarem retrancas e não privilegiarem a ofensividade. Curiosamente, a decadência técnica do armador paraense coincide com a do futebol brasileiro como um todo. Quando um torcedor reclama disso, surgem sofismas para bancar a opção pela defesa, como se o torcedor não soubesse o que quer ver num escrete, que é exatamente o mesmo que espera-se ver num cinema ou num circo: um espetáculo, o gol. O futebol pode ser uma arte quando conta com o imprevisto, com a criação, com o gênio, Quanta saudade do Telê. Quando o futebol fica previsível, se transforma num espaço para brucutus. No futebol, só é possível marcar a atacar se você for um segundo volante. Resultado, o mercado está cheio deles. Eis a característica mais marcante do futebol de hoje no Brasil, muita luta, pouca técnica. Nisso gosto do Neymar, que dá chapeu, põe entre as pernas etc… Não gosto de zagueiro chorão, que fica reclamando porque se acha humilhado. Foi humilhado porque não é craque. Ganso é craque, não pode ser humilhado dessa forma, por nós, seus conterrâneos.

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