Por Gerson Nogueira
É verdade que a era Shaktar como referência da Seleção parece ter ficado no passado, fato extremamente auspicioso, mas a primeira convocação de Felipão tem alguns pontos preocupantes. Incluir Julio César, Hulk, Leandro Castan e Luís Fabiano entre os melhores jogadores do país é, mais do que piada, uma tremenda aposta de risco. Cabe lembrar sempre, por precaução, que estamos a um ano e cinco meses da Copa e o período de brincadeiras já deveria ter acabado sob a gestão de Mano Menezes.
Até a contestada convocação de Ronaldinho Gaúcho ainda pode ser compreendida, pela boa atuação no Brasileiro 2012. Só não pode vir com a aura de comandante dessa nova família Scolari, pois os riscos redobrariam tremendamente. Está claro que Gaúcho precisa sentir-se desafiado, como ocorreu após a pálida passagem pelo Flamengo.
Felipão, escorado nos conselhos de Carlos Alberto Parreira, parece estar buscando satisfazer a gregos e baianos. Só incorre no erro de achar que os nomes mais famosos podem resolver os problemas da Seleção. A geração de Gaúcho, Julio César, Luís Fabiano, Kaká e Lúcio já chegou ao limite máximo. Não apenas pela idade. O problema é que a geração envelheceu mal, uns castigados por lesões e outros por evidente decadência técnica.
No máximo, e olhe lá, podem funcionar como suportes para o elenco, pela inegável experiência. Felipão, porém, parece com a cabeça ainda em 2002, quando alguns jogadores conseguiram concretizar uma virada magistral na carreira. Ronaldo Fenômeno ressurgiu das cinzas e Rivaldo finalmente deslanchou com a camisa do escrete. Marcos, que havia tido uma temporada negativa em 2001, assumiu a titularidade e tornou-se, com justiça, um dos heróis do penta.
Ocorre que o futebol mudou bastante ao longo da década e o Brasil sofreu ao longo das últimas duas Copas justamente por não se aperceber disso. Em 2006, no Mundial da Alemanha, quando Parreira jogou todas as fichas no quadrado mágico – Ronaldo, Gaúcho, Kaká e Adriano – e se deu mal, ficou evidente a falha estratégica de acreditar que talentos variados, mas com motivações diferentes, poderiam levar à glória.
Quatro anos depois, na África do Sul, Dunga fracassou porque projetou uma renovação, mas caiu na contradição de se agarrar a alguns veteranos da Copa anterior (Kaká, Lúcio, Juan, Julio César), menosprezando jovens valores que já despontavam no horizonte (Neymar e Ganso). Acreditou, acima de tudo, no fervor religioso dos boleiros sob seu comando, como se catecismo ganhasse jogo. Os frangos de Julio César provaram o contrário.
Felipão, que é menos sereno que Parreira e tão turrão quanto Duga, tende a transformar o escrete – e os clubes que dirige – em família. Deu certo uma vez, mas nada garante que esse espírito será alcançado e que, em caso positivo, garanta o êxito numa Copa disputada pela pressão quase insuportável de uma torcida fanática por futebol.
Apesar dessas escolhas, Felipão é indiscutivelmente o melhor nome para comandar a Seleção. Até por exclusão. Nenhum outro treinador teria couro suficientemente grosso para aguentar as tormentas de um Mundial que se desenha atípico para os brasileiros. Precisa, porém, rever conceitos. O mais sério deles diz respeito à jovialidade que o futebol exige. A preparação física e a necessidade de velocidade e força fazem com que todos os esportes coletivos sejam dominados pelos jovens. É fato.
Nossos principais adversários estão focados nisso. Argentina, Espanha, Argentina e Itália têm times titulares cada vez mais renovados. A lista inaugural de Felipão tem Neymar, Lucas, Oscar, Paulinho, Adriano e Filipe Luís. Ainda é pouco. De qualquer forma, é importante que a jovem guarda seja protagonista, e não coadjuvante.
———————————————————–
Revelação vai estagiar na Europa
O agente Carlos Eduardo Peixe, que há alguns trabalha com os clubes paraenses (foi quem levou Tiago Cametá), está prestes a confirmar um estágio do meia-atacante Rodrigo, do Remo, num grande clube europeu. Dispõe de duas opções para o jogador. Peixe, estabelecido em Santos, avalia que os garotos precisam se adaptar à cultura futebolística da Europa, destino almejado por quase todos. Rodrigo se destacou na recente Copa S. Paulo e foi incorporado ao elenco de profissionais pelo técnico Flávio Araújo.
———————————————————–
A escolha mais sensata
Há um critério vigente no país que adota sorteios para a escolha de árbitros. Para o clássico de sábado, a comissão de arbitragem, com a anuência dos clubes, optou pela indicação de Dewson Freitas, o melhor árbitro paraense em atividade. Foi a decisão mais acertada, levando em conta a importância do jogo. Ao mesmo tempo, representa o reconhecimento ao trabalho desenvolvido por Dewson, que é aspirante ao quadro da Fifa e nos últimos anos apitou jogos das divisões nacionais mais importantes.
———————————————————–
Ramos e o boné do Sport
O meia Eduardo Ramos, que pode desfalcar o Paissandu no clássico – abrindo caminho para a entrada de Iarley –, viveu situação difícil quando atuava no futebol pernambucano, devido à rivalidade das torcidas. Defendia o Náutico e resolveu botar fogo em boné do Sport. A provocação criou um tremendo bafafá e atraiu a ira dos torcedores rubro-negros. Recebeu muitas ameaças e praticamente inviabilizou sua permanência no Recife.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quarta-feira, 23)