Por Cláudio Lembo (*)
A falsa sensação de plenitude invadiu as pessoas. Todos se imaginam, tal como os super-heróis da televisão, imortais. Esquecem a finitude da vida. A inafastável presença da morte. As pessoas são “seres-para-a-morte”. Ninguém escapará deste destino biológico. Para muitos, o temor do inevitável é tanto, que, só de pensar, tremem em seu interior. No passado, em razão da fragilidade da medicina e da presença de conflitos bélicos permanentes, a morte era lembrada e utilizada como instrumento de dominação.
Houve época – como no romantismo – em que a morte era saudada como a companheira desejada. Estava sempre presente nas endemias, então constantes, como a tuberculose. Agora, os velhos desejam permanecer eternos jovens. Os jovens querem viver o presente em sua plenitude. Os adultos preocupam-se com a sobrevivência, sem quaisquer preocupações filosóficas.
Vive-se no interior de uma humanidade materializada. Não há preocupações com tudo aquilo que não é contingente. Este estado de alienação se rompe quando o medo atinge as consciências.
Este medo vai crescendo, em proporção geométrica, por todo o Brasil e de maneira muito especial em São Paulo. A morte ronda a cada cidadão, como se todos fossem objeto de uma roleta russa.
Este sentimento de medo – seguido de indignação – atingiu seu ápice, nesta última semana, na capital paulistana. Uma jovem de vinte e cinco anos, grávida de nove meses, foi brutalmente assassinada.
O agressor, autor do estúpido homicídio, um homem de vinte e dois anos, que, para roubar, atingiu com um tiro na cabeça a sua indefesa vítima. A violência contra a jovem fez surgir, no coletivo, a presença da morte.
Todos perceberam que estão sujeitos à perda da vida, a qualquer momento, na cidade onde vivem. Constataram que o Estado, concebido para oferecer segurança aos cidadãos, falha em uma das suas principais atribuições.
Rousseau, o pensador genebrino, aponta para uma verdade inegável: o pacto social tem por função a garantia da segurança pública. A vida não é apenas uma dádiva da natureza. É também uma condicionante do Estado.
Ora, se todos se sentem frágeis, porque o Estado não oferece segurança, há algo profundamente doentio na vida pública nacional. Os três entes federados devem se debruçar sobre o tema.
Ausência de segurança pública levará a uma entropia sem volta. A vida – tão cantada em prosa e verso – não vale nada nas cidades brasileiras. Apesar da ausência do culto à morte, esta venceu.
Tornou-se companheira inseparável da mais singela ação em nossas ruas. Já não se pode andar a pé. Trafegar em veiculo particular. Usar transporte coletivo.
Em qualquer lugar – inclusive no interior dos domicílios – a morte espreita e ingressa. É a bala perdida. É o tiro certeiro. A emboscada traiçoeira. Ninguém está livre de morrer pelas mãos de assassinos cruéis.
Do Estado espera-se que cumpra suas obrigações com a coletividade. Não iniba seus agentes da ação de preservar a vida dos cidadãos prestantes. Valorize suas polícias. Não desprestigie seus agentes.
A insegurança ocupou todos os espaços do pensamento de cada cidadão. A morte de uma jovem – que como último ato deu vida à filha – é símbolo amargo de uma sociedade sem rumos.
A próxima vítima já está marcada. Cairá a qualquer momento. As autoridades sequer condolências enviarão. A vida já não tem importância. A morte foi eleita senhora absoluta de nossas cidades.
(*) Advogado, professor e ex-governador de São Paulo.
Só tem um jeito, educação em tempo integral, venho defendendo aqui no blog há muito tempo, que nossas crianças apartir de 4 anos de idade, tem que ficar em tempo integral na escola, e também só começarem a trabalhar partir dos 16 anos, que a idade que geralmente levariam para terminar o 2o. Grau e irem para universidade, também as leis tem que ser duras, precisamos acabar com essas brechas que existem nas leis para beneficiar os delinqüentes.
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Lembraram do Rousseau, que maravilha! Mas o Emílio é uma criança, não se esqueçam… Se continuarmos como o Emílio, tão infantis e ingênuos, o Estado será sempre o Estado que é agora, vil e mal caráter, servil aos interesses das oligarquias que ainda sentem saudades da escravidão e das execuções públicas e esquartejamentos, miseravelmente usurpador dos direitos fundamentais. Não se iludam, o massacre do povo continuará porque a burguesia brasileira, a la Carlota Joaquina, pode debandar do país deixando para trás até o pó dos sapatos. Temos que aprender duas coisas: 1- a ter memória, para criticar e, 2- a votar, para não aceitar qualquer coisa que venha por aí.
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