Por Gerson Nogueira
A derrota de ontem não foi tão surpreendente como certas reações da torcida fazem crer. Sabia-se que o jogo em Juazeiro do Norte seria dificílimo, não apenas pelo poderio técnico do adversário. A verdade é que o Paissandu, que desfrutou de condições privilegiadas para definir a vaga no primeiro jogo, viajou ao Ceará em clima de fim de festa. Além dos três desfalques (Pikachu, Fábio Sanches e Kiros), o time não parecia tão compromissado com o objetivo de ir à final da Série C.
Uma incompreendida declaração do volante Vânderson, logo depois da conquista do acesso, deu a senha quanto ao estado de espírito de um grupo que (mesmo com salários atrasados) havia brigado bravamente pela classificação à Série B. Vânderson minimizou a importância do título do torneio, opinião que era compartilhada por muitos dentro do elenco.
E não se pode criticar esse posicionamento, pois o acesso foi o grande prêmio. O título de campeão tem lá seu significado, mas é bem menos importante do que escapar do inferno da Série C após seis anos de martírios.
Para um time que correu risco de rebaixamento, classificou-se para a segunda fase na conta do chá e superou imensas dificuldades (internas, principalmente) para voltar à Série B, a derrota de ontem soa como fato de pequena monta.
Apesar de tudo, pode-se dizer que o gol cearense logo nos primeiros minutos contribuiu para aumentar o desânimo do Paissandu, que errava muito na defesa e não conseguia estabelecer ligação entre meio-campo e ataque. Era evidente o prejuízo causado pela ausência de Pikachu nas jogadas ofensivas pela direita. Leandrinho, mesmo esforçado, não apoiava com a mesma eficácia.
Vibrante e empolgado, o Icasa tomava todas as iniciativas e, com isso, envolvia a marcação com triangulações rápidas, puxadas pelo hábil Carlinhos. Além do gol surgido de um terrível cochilo da zaga paraense, os donos da casa ainda desperdiçaram três boas oportunidades de liquidar a fatura ainda na primeira etapa – duas delas salvas pelo bom goleiro João Ricardo. Lento e confuso nas articulações, o Paissandu chegou ao ataque apenas duas vezes, mas sem chegar a assustar.
O recomeço do jogo permitiu por alguns momentos a expectativa de um gol que garantisse o empate – e a classificação à grande decisão. Ocorre que a expulsão de Marcus Vinícius e o pênalti discutível selaram de vez o destino do Paissandu na partida.
Logo depois, a infantil expulsão de Ricardo Capanema, que xingou o árbitro, comprometeria qualquer tentativa de reação. Nos instantes finais, o golaço de Potiguar fez ver que, com um pouco mais de esforço e sem tantos desfalques, o Paissandu teria tido melhor sorte.
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Reformulação necessária
Quem acompanhou a trajetória do Paissandu na Série C com olhos pragmáticos deve ter observado o jogo com o Icasa mirando na Série B 2013. Sob certo ponto de vista, o acesso foi quase um milagre diante da caótica estrutura administrativa e de tantos passos errados na contratação de atletas. Apesar de dispor de alguns bons valores – Pikachu, Potiguar, Fábio Sanches, Gaibu –, o elenco atual tem carências imensas.
As laterais não contavam com reservas à altura. A proteção da zaga só contava de verdade com Vânderson. No meio-de-campo, foi gritante a ausência de um verdadeiro maestro para envergar a camisa 10. O ataque viveu de espasmos de Kiros e alguns bons momentos de Rafael Oliveira.
Para fazer boa figura na Segundona, o Paissandu terá que reformular o elenco já a partir do próximo mês, aproveitando depois o Campeonato Paraense – que começa a 15 de janeiro – para entrosar o time. A desclassificação, de certa forma, ajudará Lecheva a antecipar o início da preparação para a próxima temporada.
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Remo, entre a dúvida e o caos
A situação no Remo segue aflitiva e confusa. Com um bom técnico contratado, a diretoria se esforça para estruturar um elenco à altura de suas possibilidades financeiras, o que é tarefa difícil. Mas o principal problema permanece no comando. Sérgio Cabeça, fragilizado politicamente pela mais recente condenação, ainda insiste – nas internas – com a ideia da reeleição, hipótese que desagrada até os mais próximos aliados.
Por outro lado, a oposição não se consolidou em torno da candidatura de Roberto Macedo, vista com desconfiança pela estreita ligação com o ex-presidente Amaro Klautau, cujo principal projeto era vender o estádio Evandro Almeida. O risco de reapresentação dessa ideia infeliz preocupa até quem se opõe ao grupo de Cabeça.
O possível fechamento de acordo com quatro patrocinadores é festejado por Cabeça como trunfo capaz de assegurar-lhe um segundo mandato. Há controvérsias.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 23)