Patrimônio sob proteção

Por Gerson Nogueira

Até demorou a cair a ficha, mas os deputados finalmente despertaram para a aflitiva situação dos clubes mais tradicionais do Estado. Tramita na Assembleia Legislativa um projeto de lei que declara Remo, Paissandu e Tuna patrimônios culturais de Natureza Imaterial do Estado do Pará.

De autoria do deputado Raimundo Santos, líder do PEN, o projeto é um oportuno instrumento de proteção na medida em que impede que o patrimônio dos clubes seja vendido ou permutado.

Nos últimos anos, a execução de dívidas tem colocado em risco a integridade patrimonial das agremiações. É o que ocorre neste momento com o Paissandu, ameaçado de perder a sede social da avenida Nazaré em leilão judicial para quitação de débito trabalhista com o ex-jogador Arinélson.

Há cinco anos, o Remo teve sua sede campestre leiloada pelas mesmas razões. E, em 2010, esteve a pique de perder o tradicional estádio Evandro Almeida por iniciativa pessoal do então presidente, Amaro Klautau.

Obcecado pela ideia de negociar o imóvel, AK prometia construir uma moderna arena, que nunca teve um local definido e chegou a ser projetada para o Lixão do Aurá. Apesar da ausência de garantias quanto aos itens do acordo, a transação chegou a ser autorizada (por ampla maioria) pelo Conselho Deliberativo.

AK alegava que o negócio representaria a salvação financeira do Remo e a venda só foi sustada quando os conselheiros finalmente perceberam o tamanho da lambança e a iminente perda do estádio.

Esses exemplos respaldam a iniciativa e reforçam a ideia de que os clubes precisam ser protegidos da negligência administrativa e da ganância de dirigentes inescrupulosos.

A iniciativa do projeto se baseia em lei criada em Pernambuco para beneficiar, pelos mesmos motivos, os três grandes clubes de lá – Santa Cruz, Sport e Náutico. Como é improvável que os deputados rejeitem a proposta, tornou-se apenas questão de tempo para que nossos clubes tenham menos um motivo para preocupações.

A partir daí, é provável que diminua o apetite da cartolagem em assumir o comando de clubes deficitários e problemáticos. Ainda bem.

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As emoções da bola pesada

Reaprendi a gostar de futsal – o futebol de salão velho de guerra. Tenho madrugado para ver os jogos da Copa do Mundo, disputada na Tailândia, e me surpreendi torcendo pelo escrete do técnico Pipoca e por jogadores que desconhecia. É o caso de Gabriel, Neto, Wildes, Vinícius, Fernandinho, Ari, Simi e Tiago. Claro que há o craque Falcão, astro do time e considerado um dos melhores do mundo.

A grande final acontece na manhã deste domingo, depois que o Brasil passou ontem pelos emergentes colombianos. Pelas cores dramáticas, o jogo-chave da campanha brasileira foi o confronto com a Argentina. Deu um trabalho danado, marcando muito e explorando certa soberba dos amarelinhos. Conseguiram fazer 2 a 0 no primeiro tempo e passaram a cozinhar o galo, irritando os nossos.

Aí Falcão saiu do banco, enxergando mal (lado direito do rosto estava paralisado) e resolveu as coisas. Botou a casa em ordem, passou a executar jogadas de habilidade e fez dois gols decisivos, ajudando a virar o escore e a sepultar uma tremenda zebra.

Foi um duelo encarniçado, como há muito tempo não se vê em prélios disputados no futebol de campo, mesmo entre potências rivais, como Brasil e Argentina.

O lado ruim da modalidade é a excessiva exportação de boleiros brasileiros para outras seleções. Todas as equipes de ponta contam com dois ou três brazucas, inclusive a temida Espanha, contra quem duelaremos hoje. Parece esquisito, e é.

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Abaixo a geração sub-40

Das várias declarações de Flávio Araújo, depois de confirmar acerto com o Remo, chamou atenção a enfática preocupação dele em extinguir a categoria sub-40 que volta e meia se instalava no Evandro Almeida. Depois de Ávalos, Mendes, Fábio Oliveira, Dida, Diego Barros e outros menos votados, o torcedor já não aguentava ouvir falar em veteranos para pontificar no elenco.

Na contramão dos manuais, o Remo investiu pesado em jogadores que já marcham para o fim da carreira e outros que até já haviam encerrado, caso específico de Ávalos. Há também aqueles que apenas insistem em retardar a aposentadoria, aproveitando-se da miopia da cartolagem.

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Embate nas urnas

Como previsto, Paissandu caminha para uma eleição das mais acirradas. O embate plebiscitário em torno da gestão Luiz Omar promete ser o grande xis do pleito. Vandick Lima, candidato há muito tempo e ídolo da Fiel, desfrutava de certo favoritismo antes da conquista do acesso à Série B. Com a surpreendente ascensão do time na reta final da Série C, as coisas mudaram de figura.

Victor Cunha, o candidato da situação, que encabeça a Chapa Centenário, deve se beneficiar do clima de alto astral proporcionado pela classificação. O perigo está nos fios desencapados que a administração atual insiste em deixar pelo caminho. É o caso do prolongado atraso salarial, de jogadores e funcionários, que causou constrangimentos e quase resultou em motim às vésperas do embarque para Paragominas.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 18)