Por Gerson Nogueira
A abertura da próxima temporada – porque a atual, neste caso específico, já é página virada – reserva espaço para um assunto de grande interesse para o futebol brasileiro: o renascimento de Paulo Henrique Ganso, maior promessa de jogador cerebral no meio-de-campo desde que Ronaldinho Gaúcho desistiu de ser um craque de alto rendimento.
Ao se transferir para o São Paulo, colocando um ponto final na turbulenta relação com o Santos, o meia-armador paraense deteve o processo de fritura que seu nome começava a sofrer. As críticas quanto à suposta apatia no torneio de futebol dos Jogos de Londres ainda reverberam, mas em menor intensidade.
Como se sabe, a poderosa máquina são-paulina de relação com a mídia é capaz de operar milagres. Um dos segredos do clube brasileiro que mais cresceu nas últimas duas décadas é justamente a competência para se comunicar com o mundo. Nesse aspecto, Ganso não podia ter escolhido um destino melhor.
Sinal dessa força que vem do Morumbi é a mais recente edição da revista Placar, uma extensa reportagem tenta desnudar os passos recentes de Ganso. Nota-se carinho no tom meticuloso como o jogador é tratado. Talvez seja a melhor matéria sobre o jovem atleta desde que ele despontou em 2010.
Ganso é pintado como futuro maestro do São Paulo. Seria o jogador a herdar o legado de Kaká, embora o atual jogador do Real Madri nunca tenha sido realmente um ídolo dos tricolores. Saiu muito jovem e sob a desconfiança de ser um pé-murcho. Chegou a ser chamado de pipoqueiro em diversos momentos.
Sob orientação de Nei Franco, o São Paulo empreende boa campanha no Brasileiro da Série A e está bem perto de garantir participação na Libertadores. Se o nível da equipe continuar em alta, Ganso encontrará um time afiado quando finalmente estrear e desfrutará das condições necessárias para desfilar seu futebol de fino trato. Terá, enfim, uma orquestra para chamar de sua, coisa que jamais foi possível no Santos de seu amigo Neymar.
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Em estado de puro êxtase
O Paissandu vive aqueles momentos mágicos que prolongam a glória recente e tornam doce a expectativa pelo triunfo ainda mais grandioso. A vitória categórica de sexta-feira sobre o Macaé, em Paragominas, teve caráter exemplar: demonstrou em definitivo que a evolução do time é um fato insofismável. Quem tinha alguma dúvida quanto à recuperação chefiada por Lecheva deve ter finalmente se convencido.
Não há nenhum torcedor, mesmo entre aqueles mais desconfiados, que duvide da importância que Lecheva tem e de sua decisiva participação na virada operada pelo Paissandu na competição nas últimas seis rodadas. Até ele assumir de vez o comando, o time se assemelhava a um barco à deriva.
A semana que começa amanhã será longa para os ansiosos corações bicolores, mas o desfecho parece inevitável desta vez: a confirmação do tão sonhado acesso à Segunda Divisão. Antes, porém, é preciso desfazer alguns pequenos obstáculos que estão pelo caminho. Quitar os salários do elenco é o mais explosivo deles.
Não é mais um problema exclusivo do presidente. A questão agora interessa a todos. Por isso mesmo, espera-se que os efeitos da boa campanha resultem em generosidade por parte de associados mais abonados. Pelo bem do clube, seria prudente resolver a situação antes do embarque para o Rio.
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Para reflexão
Pikachu, lateral e ala de grandes recursos, é o artilheiro do Paissandu na temporada. Marcou 11 vezes. Não é para qualquer um.
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Contradança no Baenão
Os donos do Remo não cansam de surpreender – negativamente – seus torcedores. Talvez o verbo correto seja atormentar. Deve ser o tal impulso primitivo. Antes mesmo de encontrar um novo treinador, dirigentes já anunciam conversações para contratar “reforços”. Até Rafael Paty, expurgado pelo emergente Santa Cruz, vem sendo cogitado.
Estranheza maior ainda decorre do fato de que, em situação normal, clubes contratam primeiro o técnico, partindo depois para a garimpagem de jogadores. Por ora, o novo comandante não foi escolhido, embora vários nomes estejam em pauta: Charles Guerreiro, Artur Oliveira, Fran Costa, Walter Lima, Samuel Cândido, Cacaio.
Flávio Araújo, que conduziu o Sampaio Corrêa à Série C, chegou a ser objeto de sonho, mas, a esta altura do pagode, por razões óbvias, está fora dos planos. Aliás, poucos treinadores de sucesso topariam o desafio inglório de assumir um time sem divisão.
O remédio mais adequado ao Remo e aos seus capitães hereditários é bom senso. Apenas isso.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 04)