Por Gerson Nogueira
O Campeonato Brasileiro deste ano registra a pior média – 12 mil pagantes – de público dos últimos dez anos. Existem diversas explicações para essa queda. Desde a falta de estádios importantes (Maracanã e Mineirão estão em obras) até o crescimento da violência nas praças esportivas, passando também pelo preço dos ingressos e a concorrência da televisão.
O mais grave dos motivos, porém, é de ordem técnica. Poucas vezes um campeonato nacional teve tantos jogos desinteressantes quanto nesta edição. Não é possível citar, de memória, nenhuma partida realmente sensacional. No campeonato de 2011, ainda houve aquele emocionante 4 a 3 do Flamengo de Ronaldinho Gaúcho sobre o Santos de Neymar na Vila Belmiro. Desta vez, nem isso.
Curioso é que, neste ano, havia uma quantidade maior de atrações, incluindo craques de nível internacional, como Seedorf (Botafogo), Luís Fabiano (São Paulo), Furlan (Inter), Marcelo Moreno e Zé Roberto (Grêmio), além de Ronaldinho, Fred, Deco, Montillo, Renato, D’Alessandro e Neymar.
Quando uma competição, com tantos atrativos, não consegue seduzir o torcedor é preciso ir mais fundo na observação das causas. Já há algum tempo que o futebol brasileiro padece de mesmice tática, com equipes que jogam fechadinhas e com um ou dois atacantes. O meio-de-campo, onde talento é obrigatório, virou território dominado pelos volantes.
Pode-se atribuir culpa à própria entressafra de talentos no país, mas cabe lançar um olhar sobre o trabalho dos técnicos. A ausência de renovação, a resistência à atualização e uma indisfarçável soberba são aspectos que caracterizam os chamados “professores”.
Pouquíssimos se importam, de fato, com o futebol-espetáculo ou algo do gênero. Não me refiro a táticas suicidas ou imitações toscas da Laranja Mecânica de 1974, mas a algo menos brucutu e mecânico como é característica da quase totalidade dos times brasileiros de primeira divisão.
A começar pelo legítimo campeão, esse culto ao futebol pragmático é a tônica no Brasileirão. E que não se condene Abel por isso. Antes dele, Muricy Ramalho já seguia a mesma receita nos tricampeonatos do São Paulo. E Tite, no ano passado, não se afastou um milímetro da cartilha. Um futebol feio, bate-estaca e truculento, a léguas de distância da tradição brazuca de alegria e habilidade.
Por essas ironias só possíveis no Brasil, os três profissionais acima citados são sempre cotados (junto com Felipão, outro papa da objetividade) para assumir o posto de comandante da Seleção na Copa do Mundo. São todos limitados, escravos de um esquema imutável e incapazes de grandes inovações na forma de jogar dos times.
Beneficiam-se do nível raso dos demais competidores para continuar em alta. Talvez por isso mesmo, qualquer ameaça – por mais tímida que seja – de contratação de um técnico estrangeiro apavora essa turma. Bastou alguém soprar o nome de Guardiola para todos, em uníssono, demonstrarem repúdio à ideia.
Ocorre que a admiração da torcida pelo trabalho do catalão que montou o timaço do Barcelona é sinal óbvio de que as fórmulas manjadas dos treinadores nacionais já não enganam ninguém. E é bom não esquecer que o caminho da redenção passa pela consciência das massas – parece conceito de Marx, mas é apenas futebolês puro.
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Super clássico em janeiro
Ganha força a ideia de um Re-Pa no dia 12 de janeiro homenageando Belém e marcando a abertura do Campeonato Estadual. A promoção interessa até mesmo aos azulinos, que saíram no prejuízo nesta temporada ao enfrentar o maior rival com time todo desconjuntado e amargando derrota acachapante por 3 a 0.
Os riscos são os mesmos, talvez até maiores, mas a possibilidade de faturar um bom dinheiro fala mais alto nesses tempos bicudos. Leitor da coluna aproveita o embalo e propõe que seja programada uma preliminar entre dois times emergentes, que seriam definidos por sorteio. Segundo ele, uma rodada dupla seria ainda mais atraente para o torcedor – e rentável para os clubes.
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Um debate esclarecedor
Debate equilibrado, esclarecedor e de alto nível foi proporcionado pelos candidatos Victor Cunha (Chapa Centenário) e Vandick Lima (Chapa Novos Rumos), ontem à noite, na Rádio Clube do Pará. Sob a mediação serena e firme de Valdo Sousa, com a participação deste escriba em perguntas e análises, ambos puderam expor suas propostas para dirigir o Paissandu pelos próximos dois anos.
O torcedor sai sempre no lucro quando o processo é transparente e as ideias são comparadas. A grande audiência do programa ratifica o grau de interesse que o futebol desperta no torcedor paraense, principalmente quando o assunto diz respeito a um dos grandes clubes.
Eleitores – conselheiros e sócios – que tinham alguma dúvida quanto à escolha do candidato devem ter definido voto a partir do debate. A expectativa é de que a eleição, na sexta-feira (30), transcorra dentro do mesmo clima de cordialidade.
Afinal, a essa altura, o que importa mesmo é o futuro do Paissandu. Vaidades existem, mas não podem ser maiores que o projeto de reconstrução do clube, esboçado pelos dois candidatos.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quarta-feira, 28)