
Por Gerson Nogueira
E o Remo conseguiu passar pelo incrível Vilhena e se classificou para o primeiro mata-mata da Série D. Os primeiros 20 minutos foram assustadores para o torcedor remista, obrigado a ver seu time inteiramente atordoado diante de ataques consecutivos do visitante, que sentia a instabilidade da defesa paraense e partia com tudo.
Com três beques que mal se conheciam, a zaga viveu momentos cambaleantes e o meio-de-campo seguia na mesma toada, sem proteger ou criar. As fragilidades da defesa pareciam indicar a inadequação do sistema 3-5-2, mas o técnico Marcelo Veiga manteve o planejamento inicial, apesar de um começo de vaias no Mangueirão.

Aos poucos, porém, o entusiasmo do Vilhena foi arrefecendo e o Remo conseguiu ganhar fôlego para ir organizando jogadas pelas extremas, principalmente pelo lado esquerdo, com o estreante Andrezinho. E foi numa cobrança certeira de falta que as coisas começaram a melhorar para os remistas. A bola foi na cabeça de Fábio Oliveira, que desviou para as redes. O centroavante, até então, era peça apagada.
A partir do gol, o Remo cresceu, passou a tocar a bola com mais segurança e o Vilhena se encolheu, deixando aparecer pontos falhos. Várias oportunidades se repetiram, mas Ratinho, André e o próprio Fábio Oliveira não aproveitavam.

Com o cansaço do Vilhena no segundo tempo, o jogo mudou por completo. O trabalho do Remo foi facilitado, embora seja justo reconhecer que a equipe mostrou-se bem mais coesa e determinada. Rafael Andrade tomou conta da linha de zagueiros e os alas Dida e Andrezinho passaram a participar mais intensamente das ações ofensivas.
No meio-de-campo, cheio de hesitações no começo da partida, André e Laionel ditavam o ritmo e, sem ter muito a quem marcar, produziam boas situações. Apenas os atacantes destoavam, com erros de finalização que não permitiram que o domínio se transformasse em vantagem folgada no placar.
Depois de várias oportunidades desperdiçadas, o zagueiro Rafael Andrade escorou cruzamento aos 19 minutos e fez 2 a 0. Placar inteiramente justo pela performance superior do Remo naquele momento. O ataque ainda conseguiu botar duas bolas na trave, mas a defesa teve uma recaída no final, permitindo o gol de honra dos visitantes.

Talvez esse gol tenha restituído ao torcedor a lucidez para observar que o Remo, mesmo tendo bom rendimento nos últimos 45 minutos, inspira cuidados. Ainda mais quando se prepara para um mata-mata, confronto onde não é permitido errar tanto. O primeiro confronto será domingo contra o Mixto, em Cuiabá, e Marcelo Veiga terá apenas três dias para tentar corrigir as muitas imperfeições do time. Talvez não dê tempo. (Fotos: MÁRIO QUADROS/Bola)
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A iniciativa de um grupo de torcedores do Paissandu, de protestar contra os seguidos erros de finalização dos atacantes, não foi bem recebida na Curuzu, ontem. Houve princípio de tumulto, a polícia foi chamada e a tal manifestação com setas em direção ao gol – como ocorreu na Argentina – acabou não acontecendo. Torcedor precisa entender, de uma vez por todas, que protestos devem se restringir às arquibancadas em dia de jogo. Interromper treinos é apenas falta de respeito aos profissionais do clube.
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O torcedor do Santos reagiu ontem como qualquer aficionado faz quando cisma que um jogador não está honrando a camisa de seu time. Paulo Henrique Ganso, que há pelo menos um ano dedica-se a um duelo com a diretoria santista por melhorias salariais, virou alvo da ira da galera. Foi vaiado e até ofendido – com moedas lançadas em sua direção – depois da derrota para o Bahia, na Vila Belmiro.
As coisas não são tão simples como parecem. Ganso cobra o que considera justo e, principalmente, o que lhe foi prometido um dia. A diretoria faz um jogo sórdido, expondo o atleta e criando um clima insustentável. No fundo, o projeto de venda dos direitos federativos está mais ou menos encaminhado. O próprio torcedor está sendo chamado a colaborar ingenuamente com o roteiro desenhado nos bastidores.
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Para espanto da nação alvinegra, a diretoria do Botafogo aprovou – e parece bastante entusiasmada com a iniciativa – um projeto de camisa promocional rosa, mais ou menos no estilo de uma que o Nápoli costuma usar no certame italiano. De minha parte, que cultuo o tom alvinegro da tradicional camisa, gostaria apenas de descobrir o nome do maneiroso estilista responsável pela ideia de jerico. Pode entender de agulhas e tesouras, mas não manja nada do que é futebol e história de um clube tradicional.
Existem outros clubes brasileiros com vocação e ânimo para utilizar o pink no uniforme, jamais o Botafogo de Heleno, Nilton, Mané, Jairzinho e do possesso Amarildo. Ainda bem que o indômito João Saldanha não está mais por aqui para se indignar com o torpe projeto.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quinta-feira, 30)