Parecia que o Paissandu tinha trocado todo o time no intervalo, tal a diferença de rendimento em relação ao primeiro tempo. A baixa qualidade de grande parte da equipe aflorou por completo depois dos 15 minutos da etapa final. Um contraste tremendo em relação à metade inicial quando houve um confronto esquisito entre um ataque que funcionava e uma defesa paupérrima. Os atacantes do Paissandu abusavam de perder gols e os zagueiros do Luverdense esmeravam-se em dar furadas cinematográficas. Quase todo cruzamento sobre a área matogrossense era um espetáculo de desperdício. Do outro lado do campo, a defensiva paraense também fazia um esforço descomunal para complicar as coisas, mas os atacantes do LEC não conseguiam aproveitar as saídas em falso de Camilo, Vagner e Fábio.
Mesmo com problemas sérios de consistência na criação e lentidão nos contra-ataques, Héliton abriu o placar logo aos 9 minutos e ainda perdeu mais duas chances de ouro antes dos 20. Rafael, apático, também desperdiçou uma grande oportunidade aos 32, chutando na saída do goleiro depois de nova domingada de um beque. Sempre que se lembrava de ir à frente, o Paissandu encontrava a defesa inimiga completamente aberta. Outro vacilo dos zagueiros permitiu a Robinho finalizar sem marcação, aos 38, ampliando a vantagem. Tudo isso, é bom dizer, sem que houvesse excelência na apresentação do representante paraense. Ganhava porque não havia como não ganhar diante das facilidades encontradas.

Resulta desse cenário que, para o Paissandu, a coisa foi tão tranquila no primeiro tempo que quando o juiz apitou, com 2 a 0 no placar, veio a esperança legítima em goleada, mais ou menos nos moldes daquela sobre o Araguaína, esquecida lá no fim da primeira fase. Ledo engano. Depois do intervalo, aconteceu a transfiguração. O Paissandu acomodou-se no placar seguro, ficou enrolando jogadas no meio-de-campo e escorando-se na ausência de agressividade do adversário para deixar o tempo escoar.
Como estratégia de segurança, nenhum reparo. O problema é que, com um gol negativo de saldo, cabia aproveitar a esplendorosa oportunidade de encher o balaio contra um oponente sem recursos e que só podia atribuir ao evidente cansaço físico a absoluta falta de competitividade. Na verdade, aquele Luverdense do primeiro turno tinha cara e atitude de time. O que veio ao Mangueirão ontem era apenas um amontoado de jogadores que corria desarvoradamente, mas sem direção ou esquema organizado. Alguns, como Rai, João Paulo e Dê, até sabem tocar a bola com esmero, mas não encontravam parceiros para dialogar.

Era justamente essa moleza que o Paissandu se recusava a aproveitar. Ocorre que, aos poucos, diante da inércia dos donos da casa, o LEC foi se levantando da tumba. Sem muito apuro, é verdade, mas com assombrosa vontade. Lisca percebeu a brecha para reagir e lançou seu time à frente, quase irresponsavelmente. Andrade, que havia deslocado Allax para o meio-campo e colocado Sidny na lateral-direita, completou a confusão sacando Robinho, que era o principal elo de ligação do meio com o ataque. Para piorar, Potiguar entrou no estilo chinês que vem caracterizando seu futebol. Recebe passes, mas não dá sequência e o jogo trava.
Para terror dos bicolores nas arquibancadas, a pressão inimiga deu certo. Com valorosa contribuição da linha de retaguarda do Paissandu, que vinha brincando com a sorte desde a primeira etapa. Um cruzamento encontrou o atacante livre para tocar longe do alcance de faro. O que era preocupação se transformou em realidade. O combalido visitante estava de pé e pronto para buscar o empate. Dos 31 minutos até os 48 foi uma luta ensandecida do Paissandu para espanar as bolas que rondavam a área. Um deus-nos-acuda. Rafael, Luciano Henrique (que substituiu Héliton) e Fábio podiam ter marcado o terceiro gol, aproveitando-se das subidas do LEC, mas faltou jeito, pontaria e serenidade. Quando o árbitro pediu a bola, quase deu para ouvir o “ufa” coletivo no Mangueirão. Vitória suadíssima com atuação preocupante, mas resultado excelente. (Fotos: MÁRIO QUADROS/Bola)
De impressionar a atuação da Alemanha contra a vice-campeã mundial Holanda, anteontem. Müeller, Özil e seus amigos trituraram a Laranja Mecânica, com engenho e arte. Como o Brasil de outros tempos costumava fazer. O gol de Özil foi um belíssimo desenho, em altíssima velocidade. Sincronia perfeita na aproximação entre os jogadores, envolvendo (e paralisando) a marcação holandesa. Como todo show de bola, tudo pareceu incrivelmente fácil. O amistoso não vale muito, mas serve de alerta. Ainda na África do Sul, acompanhei impressionado a impiedosa surra que os alemães aplicaram na Argentina. Tropeçaram logo em seguida e não chegaram à final, mas exibiram um time quase pronto para o futuro – que se chama Copa do Mundo de 2014. Olho neles.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quinta-feira, 17)





