Coluna: A capital do futebol

Pelos próximos dois dias Belém será a capital brasileira do futebol. Nós, que conhecemos bem esta terra, sabemos que o título lhe cai bem. Aliás, poucas cidades fazem tanto por merecer a designação. Respira-se aqui futebol em todos os cantos e recantos.
Além da paixão tribal por Remo e Paissandu, o paraense discute e vivencia o futebol como poucos no Brasil. Não apenas por rivalidade clubística, mas por sincero amor pelo esporte. Por isso, poucas dores foram tão pungentes do que a exclusão da lista de cidades-sede da Copa-2014.
Ao contrário dos que menosprezam o amistoso com a Argentina, a maioria da população torcedora entende o evento como boa oportunidade para mostrar a todos – inclusive à Fifa – que Belém merecia a escolha. Penso ligeiramente diferente e, sem exagero, acho que a Copa-2014 merecia ter Belém como uma de suas praças. 
Da última vez que a Seleção passou por aqui, em 2005, nas Eliminatórias à Copa da Alemanha, com os Ronaldos em grande forma e Adriano arrebentando, a exibição foi irretocável. Belém, porém, arcou com o ônus dos terríveis tumultos ocorridos no acesso ao treino do escrete. 
Autoridades, desportistas e população têm a obrigação de receber a Seleção com a hospitalidade que tornou o Pará famoso no país inteiro. E que essa civilidade se estenda à organização do jogo. Afinal, a cidade já é candidata a outro grande torneio de futebol: a Copa América 2015.
 
 
Houve quem estranhasse a tietagem em torno de Neymar. Apareceu até gente criticando o assédio. Bobagem. O futebol, como qualquer manifestação popular, produz sempre esse tipo de fã. Algo que remete à adoração pelos astros da cultura pop. Neymar é jovem, lança moda e é craque. Ingredientes irresistíveis para o público adolescente. 
 
 
Faz tempo que defendo a extinção das “torcidas organizadas” por uma razão bem simples: o futebol, manifestação popular por excelência, não pode ficar à mercê de atos de banditismo. Os verdadeiros torcedores devem ser preservados da barbárie e da insegurança. Deixemos de ilusão: as gangues que agem fora e dentro dos estádios não são formadas por fãs de futebol, mas por baderneiros, que marcam brigas pela internet e costumam passar partidas inteiras cantando hinos de guerra.
Nunca vi esse falso torcedor envolvido em ações positivas, esforçando-se pela paz e contribuindo para a recuperação do nosso futebol. Ao contrário, seus atos de selvageria ajudam a consolidar injustamente uma imagem negativa do Estado lá fora. Por que injusto? Porque o torcedor de verdade é pacífico, ordeiro e vai a estádios para incentivar seu clube, jamais para brigar, assaltar ou matar.
Moral da história: a batalha insana entre hordas de delinquentes, que também chegou às arquibancadas da Curuzu, domingo, pode resultar em punição para o Paissandu. Daí minha convicção de que os “organizados” não têm paixão clubística, apenas uma causa: a violência pela violência.
 
 
Direto do Twitter
 
De André Cavalcante, advogado e desportista:
 
“A segurança nos estádios melhoraria apenas pondo em prática o que a lei já determina. Baderneiros já indiciados tinham que ser liminarmente impedidos de ir aos estádios até o fim do processo. A cada jogo teriam que se apresentar na delegacia em que foi registrado o BOP”.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta terça-feira, 27)

9 comentários em “Coluna: A capital do futebol

  1. É certo que já vimos cenas bem piores em outras capitais que se ufanam de educadas, cultas. Não importa. Esses exemplos não
    devem ser seguidos e muito menos esquecidos (sob pena de ser repetidos).
    Sem o torcedor o futebol não existiria, isso me permite perguntar,
    nesta relação (futebol/torcedor) quem é o insano ?
    A resposta por certo não virá das arquibancadas. Outros ambientes
    estudiosos do comportamento humano bem que poderiam nos explicar essas reações assombrosas, desatinadas que acabm por criar estereotipos entre os torcedores.
    Valeu Gerson. O artigo por certo merecerá atenção dos que reunem mais propriedades em discutu-los.Isso prova que é possível fazer jornalismo esportivo em grau mais elevado.

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  2. MUITO BOA A SUA INTENÇÃO DE CONDENAR AS “TORCIDAS ORGANIZADAS”, CONCORDO PLENAMENTE COM A CRITICA A ELAS, MAS É INFELIZ A SUA INSINUAÇÃO DE QUE O PAYSANDU PODE SER PUNIDO. O PAYSANDU NÃO TEVE NADA A VER COM O OCORRIDO. VOCE ALFINETANDO O PAYSANDU, PARECE QUE VOCE É QUE QUER A PUNIÇÃO, COM UM ALERTA DESCABIDO, PRINCIPALMENTE NESTE MOMENTO QUE VOCE DIZ QUE BELÉM É A CAPITAL DO FUTEBOL. NÃO COMPLIQUE O PAYSANDU E SIM AJUDE O FUTEBOL DO PARÁ A SE REERGUER.
    PAULO CARNEIRO
    pfnorat@yahoo.com.br

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    1. Não é uma insinuação, Paulo. É afirmação baseada no fato de que o América-RN ameaça pedir a interdição do estádio. Nossos estádios, por força dessas brigas de gangues (ou você também acha que são pacíficos torcedores envolvidos nessas arruaças?), são reincidentes nesse tipo de punição. Quem complica o Paissandu não sou eu, nem a imprensa, camarada. Observe quem tumultua, assalta e briga nas ruas e nas arquibancadas, meu caro. Nesses tempos de informação digital, só os (muito) tolos insistem em ser alienados. Abra os olhos e enxergue os verdadeiros inimigos do nosso futebol. É questão de visão e inteligência.

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  3. O que a remoçada estava fazendo em um jogo do Paysandu? Teria algum outro objetivo que não fosse só “apoiar” a torcida do América? Esses caras são porras-loucas ou pau-mandados? Os dirigentes do Paysandu deveriam alertar a inteligência da polícia para anteverem estes quadros, como a própria coluna observa este caso pode trazer consequências ao Paysandu. Secadores desvairados são capazes de tudo, lembram da denúncia do caso Tourinho de onde partiu?

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  4. Gerson, tão importante quanto se preocupar com a interdição do éstadio, ainda não vi nenhuma mobilização do Paysandu quanto ao julgamento do Rio Branco. Conquistamos nova vaga no campo e vencemos nosso primeiro compromisso na segunda fase, já imaginou se são anulados os dois jogos dessa fase, teremos de jogar de novo contra o América, e perderiamos esses três pontos o que você acha a respeito?

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