Paissandu e Pinheirense decidiram o Paraense Sub-20, ontem pela manhã, no estádio Edgar Proença. Com o empate de 1 a 1, os alvicelestes levantaram a taça porque tinham vencido o primeiro jogo por 2 a 1. Conquista justa pelo esforço dos jogadores e pela campanha impecável (29 pontos em 36 disputados).
Mas, se foi empolgante pela disposição dos times, a final evidenciou algumas verdades que só o romantismo e a ingenuidade ainda conseguem disfarçar. Ao ver em ação aqueles que são os melhores times da categoria, percebe-se que a garotada não pode ser apontada como a esperança de redenção do nosso futebol. Por algumas razões gritantes.
A primeira delas: pouquíssimos dos 30 (contando com as oito substituições) jogadores que se apresentaram sob sol inclemente na partida decisiva demonstraram desenvoltura e habilidade. A maioria não tem qualquer qualidade excepcional ou característica diferenciada em relação aos elencos dos times de Belém. Depois, há a questão da herança de vícios. Os juniores de hoje praticam futebol tão violento quanto o dos atletas profissionais, pela simples razão de que já aprendem a bater na bola ouvindo orientações para “matar jogadas” e “segurar o jogo”.
E, ainda, cabe notar as limitações atléticas. A maioria dos jovens valores de Pinheirense e Paissandu não têm envergadura e “caixa” para aguentar o tranco no futebol vigoroso que se pratica hoje. Há zagueiros franzinos e baixos, com menos de 1,70m de altura, o que torna praticamente inviável a caminhada na profissão. Existem atacantes igualmente mirrados, que dificilmente terão sucesso contra as duras defesas atuais.
Muito além desses itens, desponta outro aspecto desanimador. Taticamente, os times não se comportam com o descompromisso dos amadores. São conservadores, jogam como veteranos, com o meio-campo sempre fechado. São três volantes e um falso ponta, ou dois volantes e um meia recuado, que nada cria. O máximo da ousadia permitida é usar dois atacantes à moda antiga, esperando cruzamentos na área.
Raríssimas são as jogadas de criatividade e ousadia, atributos naturais dos mais jovens, a quem ainda se permite certa irresponsabilidade. Quando um dos garotos ousa partir para o drible ou tentar jogada de efeito é logo reprimido. Mistura-se, então, ao batalhão de anônimos, no qual não vislumbra nenhuma estrela de brilho fulgurante mais à frente.
Para não dizer que a safra está inteiramente perdida, registro alguns destaques individuais. Rômulo (Pinheirense) é o mais habilidoso de todos, com facilidade para o drible e incansável nas tentativas de ir à linha de fundo. Ferreirinha, camisa 10 clássico, com passadas largas e bom passe, apareceu bem no Paissandu. Fabrício, volante do Pinheirense, tem técnica e velocidade, aproximando-se sempre dos atacantes. E Juba, centroavante do Paissandu, sobressai pelo oportunismo e bons recursos. Seu gol foi próprio dos grandes artilheiros: aproveitou bola espirrada e, com sutileza, encobriu o goleiro.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 16)