Arbitragens constituem um capítulo à parte na história do futebol brasileiro, geralmente por motivos pouco recomendáveis. Nos primórdios da era amadorista, os árbitros (também amadores) eram figuras folclóricas. Causos célebres envolvem a atuação de juízes de futebol, submetidos a todo tipo de pressão por jogadores, dirigentes e torcidas.
Hoje, em plena vigência do futebol-negócio, as arbitragens ganharam outro status. Os apitadores são bem remunerados e há uma comissão regulamentada que trabalha em tempo integral pela formação e fiscalização do trabalho desses profissionais.
Ainda assim, a atividade continua extremamente vulnerável, sujeita a erros de interpretação, aplicação capenga das regras e julgamentos sumários. A televisão exibe exaustivamente – incluindo câmeras tira-teima – lances que se desenrolam em frações de segundos diante dos olhos do árbitro dentro de campo. Diante do replay, comentaristas analisam, criticam e julgam num processo normalmente arbitrário.
Essa postura draconiana influencia os torcedores, naturalmente já desconfiados do homem que se veste de preto (ou laranja). Nesse cenário, a bola da vez é o gaúcho Carlos Eugênio Simon, cuja trajetória é pontilhada de premiações honrosas e falhas monumentais.
Teve papel desastroso na Copa do Brasil de 2003, quando seus erros beneficiaram o Corinthians diante do modesto Brasiliense. Depois, em 2007, garfou o Atlético-MG contra o Botafogo, deixando de assinalar pênalti claro para os mineiros. Ainda em 2007, aparentemente para compensar, prejudicou o alvinegro carioca em duelo contra o S. Paulo no Maracanã. Agora, transforma-se na “geni” do Brasileiro ao anular gol legal do Palmeiras (Obina) diante do Fluminense, no Rio.
As avaliações sobre seu erro ganharam um combustível mais forte com as declarações de Luiz Gonzaga Belluzzo, presidente palmeirense, que deixou o verniz intelectual de lado e vestiu roupa de torcedor de arquibancada, enfurecido com a arbitragem de Simon.
No auge da fúria, duvidou da idoneidade do juiz, a quem acusou de estar “na gaveta de alguém”, supostamente a serviço dos interesses de outras equipes nas rodadas decisivas do Brasileirão. Pouco afeito a declarações grosseiras, Belluzzo disse que Simon é “vigarista, safado e crápula”, ameaçando até sair no tapa, caso o encontre na rua. Não é para tanto.
Não creio em complô favorável a qualquer time. Simon errou como sempre. É o caso típico do árbitro tecnicamente ruim, que piorou com o tempo. Apesar disso, é o árbitro brasileiro mais conhecido no exterior, com participações em Copas do Mundo. Parece desfrutar de uma blindagem especial da comissão de arbitragem da CBF e tem a estranha mania de atrair os holofotes em momentos decisivos.
Como tantos outros colegas de ofício, ele apita de olho na arquibancada, sempre disposto a favorecer o time da casa. Não há esquema ou suborno, apenas covardia e acomodação. O que é tão ruim quanto.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta terça-feira, 10)