Rendo-me às evidências. São Paulo e Palmeiras ainda aparecem à frente, mas o Flamengo é o time que mostra mais regularidade e evolução a quatro rodadas do fim do campeonato. Se é possível arriscar alguma coisa na verdadeira gangorra atual, pode-se dizer que o time de Adriano é favorito destacado a levantar o título, situação que há duas semanas era improvável. Mantenho minha opinião quanto ao nível técnico da disputa – e o quase rachão entre Fluminense x Palmeiras é prova disso -, mas é inquestionável o tom emocionante desta reta final. E, por questão de origem e tradição, o Rubro-Negro carioca leva vantagem sempre que a emoção entra em campo. Contra o Galo, ontem, diante de 64 mil pessoas, o time foi frio e vibrante nos momentos certos.
E conta com outro importante trunfo, que é também prova viva da decadência técnica do futebol brasileiro: o meia Petkovic, 36 anos, que vem se transformando no principal nome da competição, com passes, arrancadas (!) e finalizações soberbas. Claro que, pelo talento que tem, Pet jogaria bem em qualquer circunstância, mas ser acentuadamente o melhor é algo que faz pensar, como já comentei outras vezes.
As estatísticas também estão ao lado do time de Andrade. Nas últimas cinco rodadas, o Flamengo recuperou a diferença que o separava do Atlético, distanciou-se do Cruzeiro e aproximou-se de São Paulo e Palmeiras, times que trilham a rota inversa, tropeçando a cada rodada e demonstrando sinais eloquentes de instabilidade.
No caso palmeirense, o problema parece ainda mais sério porque não se vê uma jogada elaborada, uma trama mais inteligente. Todos os lances ofensivos começam e terminam na monotonia dos cruzamentos sobre a área. Por razões matemáticas, de cada 20 chuveirinhos pelo menos um vai parar nas redes. Este é, rigorosamente, o único recurso da equipe dirigida por Muricy Ramalho.
Times pouco criativos normalmente se atrapalham em momentos decisivos, pois é justamente a qualidade individual que pode desequilibrar. Para complicar, o reforço trazido a peso de ouro pela diretoria, Vagner Love, salários de R$ 400 mil, ainda não pegou no breu – isto é, entra em campo, mas não joga.
Diego Souza, que a parcela mais afoita da imprensa esportiva já elegia como o craque da temporada, tem mostrado neste segundo turno que é apenas… Diego Souza. Ou seja, raçudo e esforçado, às vezes truculento, mas a léguas do conceito clássico de craque.
Duas verdades que insistem em se impor. Primeiro: Carlos Eugênio Simon, o mais premiado árbitro brasileiro, é também o que mais erra em momentos decisivos. Alguma coisa está errada com essas premiações. E o Palmeiras, com a camisa imitando o glorioso uniforme do Olaria, definitivamente perdeu o prumo. Pior que isso: começa a fazer jus à pecha de suíno paraguaio.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 9)