Publicitário é demitido após insultar nordestinos

“Nordeste vota em peso no PT. Depois vem pro Sul e Sudeste procurar emprego! Se liga aí Nordeste!!!”.

A frase acima foi publicada pelo publicitário José Boralli na noite deste domingo (7). O homem estava furioso porque Jair Bolsonaro (PSL) não venceu a eleição no 1º turno e decidiu culpar os nordestinos. Boralli é diretor de negócios da agência Africa. Ao atacar o povo nordestino, o homem se esqueceu que os seus chefes são baianos.

Sergio Gordilho, copresidente da empresa e Nizan Guanaes, fundador, são nascidos na Bahia. Na nota, a agência acrescenta:

“Nascemos da diversidade. Acreditamos nela e a defendemos, acima de tudo. Não respeitá-la seria arranhar nossa biografia e nossos RGs, na maioria nordestinos. O comentário desse funcionário não coincide com nossa crença, não está à altura da nossa história”.

O comunicado encerra dizendo: “Continuaremos vigilantes em relação a qualquer atitude, seja ela de quem for ou onde for, que venha a ferir os nossos valores”.

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José Boralli divulgou um pedido de desculpas após a repercussão do seu post preconceituoso. “Fiz um post no calor do momento e peço sinceras desculpas a todos que se sentiram ofendidos. Não reflete minha opinião”, disse.

“Eu errei. Peço desculpas. Em especial aos nordestinos, tantos com que eu inclusive trabalho, minha eterna admiração e respeito”, encerrou o publicitário. José Boralli não foi único que atacou nordestinos após o domingo de eleição. Milhares de mensagens preconceituosas foram registradas. Veja algumas aqui.

Por que os donos do dinheiro celebram Bolsonaro no 2º turno

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Por Joana Rozowykwiat, no Portal Vermelho

Após o resultado do primeiro turno ser divulgado, agentes do mercado avaliaram que, não só o militar da reserva pode comandar o país, como terá força no Congresso para aprovar medidas impopulares que a gestão Michel Temer não conseguiu emplacar. Daí vem a reação positiva à contagem dos votos.

As urnas indicaram uma renovação do Congresso, mas com recuo dos partidos progressistas e de forças tradicionais de centro e direita, paralelamente a uma expansão fragmentada de outros partidos da direita, até então nanicos ou pertencentes ao chamado baixo clero. Elegeram representantes da bancada da bala, ativistas conservadores, integrantes de forças de segurança e religiosos.

“A nova composição do Congresso mostra que ele (Bolsonaro) pode ter uma boa governabilidade e conseguir aprovar algumas reformas com maior facilidade. O mercado tende a ir mais para os candidatos com uma visão menos estatista”, avaliou Fabrizio Velloni, chefe da mesa de operações da Frente Corretora, em entrevista a O Globo.

O interesse nas reformas é compreensível, já que elas garantirão ganhos ao mercado financeiro. Assim como a reforma trabalhista beneficiou empresários que podem contratar seus funcionários sem pagar tantos direitos, a reforma previdenciária, por exemplo, beneficiará banqueiros, responsáveis por gerir os planos de previdência privada e fundos de capitalização.

São também os rentistas os donos de títulos da dívida pública, essa mesma que o discurso corrente acusa de estar crescendo vertiginosamente por causa dos PT, embora os números insistam em negar. Fato é que Bolsonaro quer cortar gastos sociais e vender estatais para pagar parte da dívida pública, ou seja, beneficiando ainda mais esses tais rentistas. Mesmo que isso signifique abrir mão do patrimônio público a preço de banana e inviabilizar serviços públicos como saúde e educação para a população que mais precisa. Mesmo que isso não vá resolver o problema da dívida, pelo contrário.

A experiência mostra que as privatizações foram usadas por Fernando Henrique Cardoso para tentar cobrir a dívida, mas ela se multiplicou durante sua gestão. E diversos analistas apontam que a austeridade fiscal atrapalha o crescimento, além de impor um sofrimento horrível à população.

Mas é daí que vem a simpatia do mercado pelo candidato “menos estatista”. Porque menos Estado pode significar mais lucro para essa minoria. Essa máxima pode ser aplicada, por exemplo, na área de segurança. Uma das propostas de Bolsonaro é afrouxar as leis de porte de armas, para que mais cidadãos possam andar armados, exatamente o contrário do que faz o restante do mundo.

“Não se vai resolver o problema (da segurança) distribuindo armas para a população. Ser presidente da República e dizer que a população se apegue à própria sorte e compre uma arma para se defender, então para que serve o presidente? O Estado não pode transferir para a população a responsabilidade de se defender”, disse a então candidata Marina Silva, durante uma entrevista antes das eleições.

Mas há quem celebre a proposta de Bolsonaro, não por razões cívicas, mas econômicas. As ações da fabricante de armas Forja Taurus abriram o pregão em disparada nesta segunda. Os papéis chegaram a subir 12,50%, sendo negociadas 6,30 reais. No ano, as ações acumulam valorização de 186%. É a perspectiva de ampliação do mercado consumidor, afinal. It’s not personal, it’s just business (Não é nada pessoal, são apenas negócios, como em O Poderoso Chefão).

“Isso (a animação do mercado) diz respeito à governabilidade e à viabilidade de implementação de um programa liberal que o mercado sabe que é necessário para o país, um ajuste fiscal contundente, rápido e eficiente”, defendeu o ex-presidente do Banco Central Carlos Langoni, à Jovem Pan.

Segundo ele, os resultados eleitorais mostraram que há maior possibilidade de o plano de Paulo Guedes (assessor econômico de Bolsonaro) ser implementado. A plataforma a que ele se refere é o aprofundamento da agenda neoliberal de Michel Temer, rejeitado por 82% da população. Prova de que o que o mercado comemora muitas vezes não está em sintonia com o que é melhor para o povo.

A frase do dia

O terror fascista está nas ruas

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Episódios gravíssimos de violência perpetrados por apoiadores de Jair Bolsonaro contra cidadãos brasileiros nos últimos dias mostra que o fascismo já se sente empoderado no Brasil insuflado pelo ódio. Querendo impor-se pelo medo e pelo terror, partidários do candidato da extrema-direita sentem-se legitimados pelo capitão da reserva, não coíbe tais crimes, pelo contrário, estimula-os.

Na madrugada desta segunda-feira, 8, horas após o resultado do primeiro turno das eleições presidenciais, o mestre de capoeira Moa do Katende foi morto com 12 facadas nas costas em um bar em Salvador, após dizer que tinha votado em Fernando Haddad para a presidente. O autor do crime, que começou a discussão, manifestou aos gritos seu apoio a Jair Bolsonaro, de acordo com informação oficial a assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA) (leia mais).

No Recife, uma jornalista do Jornal do Commercio foi agredida e ameaçada de estupro por dois homens na tarde da eleição. De acordo com a jornalista, cujo nome não foi revelado, dois homens atacaram-na e a ameaçaram de estupro no momento em que saía do local de votação, no bairro de Campo Grande, na zona norte do Recife. Segundo ela relatou à Polícia, um deles vestia camisa do candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL). O motivo da agressão seria o fato de ela ser jornalista (leia mais).

O discurso de ódio propagado por Jair Bolsonaro também se volta contra a memória e familiares da vereadora Marielle Franco, brutalmente assassinada no dia 14 de março deste ano, cujos autores até hoje não foram identificados. Também nesta segunda-feira, 8, no Rio de Janeiro, a irmã de Marielle, Anielle Franco, relatou em sua página no Facebook ter recebido gritos no rosto enquanto andava na rua com sua filha de dois anos no colo, sem qualquer roupa de político, partido ou bandeira. “Por conta de um antipetismo vocês preferem propagar o ódio e a violência?! O seu candidato, em suma, defende esse tipo de postura, e outras coisa bem piores! Pensem bem”, escreve Anielle (leia mais).

Já em Teresina, um jovem foi espancado por simpatizantes do Bolsonaro simplesmente por estar vestindo uma camiseta vermelha. O pai do arquiteto postou as imagens em seu Facebook no sábado (6). De acordo com o depoimento de Paulo Bezerra, eles agrediram o rapaz enquanto gritavam palavras de ordem. No vídeo é possível ouvir alguns falando “é comunista”, como justificativa para as agressões. Os homens que espancam o jovem vestem camisas com o rosto e nome do ex-capitão (leia mais).

Em nenhum dos casos, Jair Bolsonaro se pronunciou, deixando implícito o seu apoio à escalada dos atos fascistas. As instituições também parecem fazer vistas grossas ao que ocorre no País. O candidato da frente democrática a presidente, Fernando Haddad, condenou o assassinato do mestre de capoeira Moa do Katende. “Um dia amargo para a democracia. A cultura do ódio precisa ser interrompida urgentemente”, disse Haddad pelo Twitter.

Não foi por falta de aviso. Fascismo é morte e violência, em todos os sentidos – inclusive das ideias. Por isso, precisa ser combatido sem tréguas.