Sobre o amigo Geo

POR GERSON NOGUEIRA

É sempre doloroso perder um amigo e companheiro de profissão, ainda mais quando a convivência era muito próxima. A morte de Geo Araújo fez com que todos da equipe de esportes da Rádio Clube do Pará ficassem entristecidos, ainda mais pela maneira repentina como tudo aconteceu. Uma boa maneira de digerir a situação é falando sobre o amigo que partiu, relembrando episódios e detalhes de sua presença entre nós.

Comecei a acompanhar o trabalho do Geo ainda na condição de ouvinte, bem antes de ser comentarista de rádio, em meados dos anos 80. Sempre fui magneto da Rádio Clube, hábito que tinha desde a infância em Baião quando os programas esportivos da grade influíam diretamente nos horários de minhas outras atividades de então.

Gostava no Geo daquele jeito despachado de narrar futebol, rico em bordões, transbordando de alegria verdadeira. Sempre achei que o esporte deve ser associado a momentos felizes e o papel do locutor é fundamental nisso. Muitas vezes ele consegue fazer de uma pelada um jogo tremendamente interessante. Assim como Sílvio Luiz, Geo tinha essa capacidade rara.

Quando comecei a comentar na Clube, em 2006, Geo já era veterano. Aprendi com ele alguns macetes básicos, como o de evitar entrar em tom baixo nas jornadas, pois o locutor está sempre em ritmo acelerado e frenético. Comentarista e repórteres precisam ter a mesma pegada. Coisa simples, mas que faz uma brutal diferença.

Na Copa de 2006, na Alemanha, enquanto Tommaso e eu estávamos em Königstein cobrindo a Seleção Brasileira, a outra parte da equipe ficou em Munique no comando das operações. Foi lá que o Pequenininho teve a primeira complicação cardíaca. Saiu-se bem do problema, mas deu um susto danado em todos nós – ainda mais que por aqueles dias Bussunda havia sofrido um infarto fulminante.

Quatro anos depois, viajamos juntos de Belém para cobrir a Copa da África do Sul. Uma viagem de 13 horas de duração até Joanesburgo que começou com exames rotineiros de pressão ainda em Val-de-Cans, feitos pelo sempre prestimoso dr. João de Deus, espécie de anjo da guarda da equipe. A preocupação era justificada em face do ocorrido em Munique.

Dividimos o quarto de hotel em Joanesburgo – Tommaso e Valmireko dividiram o outro, ao lado – e lá ficamos por 45 dias, trabalhando muito e sofrendo o banzo natural de quem deixa o Brasil e a família. Ali aprendi a conhecer melhor a figura humana do Geo, suas ideias e preocupações, sonhos e planos.

Quando as obrigações com a cobertura diária da Copa e da Seleção Brasileira permitiam, tirávamos um tempo para percorrer pontos históricos da capital sul-africana, com destaque para os lugares marcados pela forte presença de Nelson Mandela.

Visitamos também os famosos zoológicos de Joanesburgo, com direito a alguns sustos motivados pelo jeito sempre teimoso do amigo Geo. Ao entrar no Lion’s Park, por exemplo, ele ignorou os apelos desesperados de nosso motorista moçambicano para que não abrisse a janela.

O receio, justificado, era de um ataque repentino. Fotógrafo amador, Geo não perderia a chance de tentar capturar uma imagem aproximada dos leões que se amontoavam pela savana. Para isso, pôs os braços e a cabeça para fora do carro por angustiantes dois minutos, tempo suficiente para deixar o motorista completamente pálido.

Ao longo dos dias, estressados pela distância de casa, era sempre um consolo ter alguém como Geo por perto. Contador de histórias interioranas – nasceu em Santa Maria do Pará e viveu muito tempo em Bragança – divertia a todos, contribuindo para desanuviar um ambiente muitas vezes carregado.

Na volta da Copa, ficamos ainda mais amigos e tivemos oportunidade de dividir inúmeras transmissões esportivas. Sempre foi um prazer imenso estar na cabine ao seu lado, fazendo um esforço danado para acompanhar seu ritmo intenso de narração. Espero sinceramente não ter decepcionado muito e atrapalhado o Pequenininho nesses momentos.

Queria dizer, acima de tudo, que foi um privilégio trabalhar ao lado dele ao longo desses 11 anos e meses.

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Quando a boa referência atrapalha a análise

O futebol alcançou um nível admirável de excelência técnica nos últimos anos – na Europa. Por conta dessa evolução, exposta ao mundo em cores vivas todas as semanas, através das exibições dos campeonatos mais badalados do mundo, criou-se um aleijão na análise feita por comentaristas, colunistas e jornalistas esportivos de maneira geral no Brasil. Não escapa ninguém, incluindo este escriba baionense.

Balizamos nossas avaliações pelo que observamos nos campos europeus, onde os times se esmeram na prática de um futebol que pretende ser competição e espetáculo ao mesmo tempo, quase sempre atingindo esse intento. Condição inteiramente oposta ao que se vê nos gramados nacionais, de todas as divisões.

Vai daí que nós, comentaristas, sempre formulamos análises e críticas tendo por referência o futebol de primeira qualidade praticado lá fora e que a TV exibe. O Brasil, porém, é hoje um imenso deserto de ideias futebolísticas, com times mal treinados e pouquíssimos jogadores dignos de atenção.

Refiro-me à Série A, principalmente, mas quero chegar ao âmbito da Série B, onde está o Papão. Fico vendo o jogo se desenrolar, como na sexta-feira contra o Criciúma, e anoto a quantidade de passes errados e tentativas esforçadas e toscas de envolver o adversário.

Chego à conclusão de que é até injusto exigir tanto e projetar grandes partidas de futebol diante do que temos por aqui, visto que o talento – primordial para a prática da modalidade – é algo que ninguém pode comprar e nem nasce como capim.

Voltarei ao tema.

(Coluna publicada no Bola desta segunda-feira, 30)

O passado é uma parada

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O então repórter Edyr Proença fazendo ‘ponta de gol’ em transmissão da antiga PRC-5 direto do estádio Evandro Almeida. Idos de 1950. (Arquivo da família Proença)

A arte do olhar

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Nova York, 11 de setembro de 2001. Por Alex Webb.

Rock na madrugada – Ramones, I Just Want To Have Something To Do

https://www.youtube.com/watch?v=eRwek-qyyeM

Valeu pelo 1º tempo

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POR GERSON NOGUEIRA

O jogo era decisivo para as pretensões do Papão nesta reta final de Série B. A vitória sobre o Criciúma foi conquistada com placar construído no primeiro tempo, mas o desfecho poderia ter sido bem mais tranquilo e sem tantos sustos. Com formação diferente, em função dos vários desfalques no elenco, o time entrou mais ofensivo que o normal, com Caion e Marcão no ataque, Fábio e Juninho como articuladores.

A mudança de postura seria depois relativizada pelo técnico Marquinhos Santos, que preferiu enaltecer o fato de que as peças mudaram sem descaracterizar o sistema. Faltou explicar que sistema misterioso é esse, cujo perfil ainda é indefinido, e reconhecer que a abertura da meia-cancha foi determinante para que o Papão envolvesse o Criciúma na primeira metade da partida.

Com Fábio e Juninho flutuando, a marcação imposta pelo Tigre sobre os atacantes Marcão e Caion não foi suficiente para conter o ataque paraense. Além dos meias, o volante Renato Augusto andou se aventurando e teve duas boas chances dentro da área. É que o Criciúma se mantinha tão preso ao próprio campo que os volantes do Papão ficavam livres para avançar.

O fato é que ao longo dos 45 minutos iniciais o Papão deu as cartas, controlando o jogo e impondo seu ritmo. Depois de vários jogos em que a lentidão do meio-campo comprometia as ações de ataque, o time finalmente teve mobilidade junto à área adversária, com repertório mais variado de jogadas.

Logo de cara, Marcão perdeu boa chance depois de uma falha bisonha do zagueiro Edson Borges. O chute saiu torto, mas assustou a defesa do Criciúma. O mesmo Marcão teria outra boa chance, aos 21 minutos, mas chutou fraco no centro do gol.

Aos 24 minutos, porém, a constância ofensiva surtiria efeito. Juninho caiu nas costas do lateral Giaretta e cruzou com perfeição – coisa que o lateral Ayrton não conseguiu fazer durante o jogo todo –, encontrando Fábio Matos livre na área. O meia chegou batendo de primeira, quase de voleio e mandou para as redes. A bola passou entre as mãos do goleiro Luís.

Depois do gol, o Papão não arrefeceu e chegou perto de ampliar o marcador. Marcão chutou com perigo da entrada da área, Guilherme perdeu chance clara e Renato (lançado por Juninho) ficou de cara com o goleiro. As oportunidades eram criadas pela boa dinâmica dos homens de meio-campo e pela mobilidade da dupla de ataque.

Mesmo retrancado, o Criciúma não conseguia impedir a movimentação em frente à área. Méritos do quarteto ofensivo bicolor, que provocava erros seguidos na saída de bola do adversário.

Veio o segundo tempo e o panorama mudou por completo. Aos poucos, o Criciúma foi avançando e se posicionando sempre no campo de defesa do Papão. Passou a cruzar bolas venenosas para a área, intranquilizando a defesa alviceleste.

Marcão ainda perdeu um bom lance logo aos 4’, chutando em cima dos zagueiros, mas o técnico Beto Campos botou definitivamente seu time no ataque. Trocou o volante Ricardinho pelo meia João Henrique e passou a ter mais posse de bola, obrigando o Papão a sair dando chutões pela primeira vez na partida.

Aos 25’, em bola levantada na área, Giaretta desviou no canto esquerdo de Marcão. A bola bateu no poste e saiu. Um tremendo susto nos bicolores, que a essa altura se empenhavam em segurar a vantagem, já com três volantes (Recife substituiu a Fábio Matos) à frente da zaga.

Outro momento de alto risco ocorreu aos 43’, quando João Henrique cabeceou para baixo e a bola passou rente à trave. A torcida, sentindo a queda de rendimento da equipe, passou a protestar. O Criciúma ainda insistiu, mas não havia mais tempo.

Como resultado, a vitória foi excelente, pois diminui a pressão sobre o time. Por outro lado, a brusca mudança de padrão preocupou pela insistência em priorizar a defesa em momento capital do jogo.

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Bola na Torre

Guilherme Guerreiro apresenta o programa, com participações de Saulo Zaire e deste escriba de Baião. Começa às 21h, na RBATV. Em análise, os jogos do fim de semana.

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Quando falta “aquilo roxo” à arbitragem

A atuação do trio de arbitragem paulista no jogo PSC x Criciúma, sexta à noite, na Curuzu, quase passou despercebida. A ausência de lances polêmicos facilitou o trabalho de Flávio Rodrigues de Souza e seus assistentes.

Acontece que um incidente revelado em minúcias depois da partida acabou por manchar a atuação do árbitro. O meia Fábio Matos disse, na entrevista pós-jogo, que, ao ser advertido com ênfase pelo apitador, teria dito que ele (Flávio Rodrigues) não tinha “aquilo roxo” para expulsá-lo de campo.

Isso aconteceu quando o jogador tirou a camisa na comemoração do gol. Flávio avisou que aquele comportamento poderia levar à sua expulsão. O meia então desafiou o árbitro. Era caso para expulsão sumária. Intimidado, o árbitro aceitou a ofensa verbal.

O episódio ganhou contornos mais graves porque o atleta contou a história em tom triunfante – comportamento inadequado que merece admoestação por parte da comissão técnica alviceleste.

(Coluna publicada no Bola deste domingo, 29)

Contra-ataque tricolor derruba o Peixe

https://www.youtube.com/watch?v=t2tZ5ncna9Y

Nos olhos, a liberdade

POR EDYR AUGUSTO PROENÇA

Há alguns meses, a convite da professora Olga Silva, estive no prédio da Defensoria Pública para o lançamento do Projeto de Remição de Pena pela Leitura, uma parceria entre a Seduc, Defensoria Pública e Susipe. Fiquei fascinado. Lá mesmo, um coral formado por internas se apresentou. Doei alguns livros e também convidei meu amigo Salomão Laredo a fazê-lo.

Acredito no poder da leitura. Ela está na base da minha formação e tudo aquilo que conquistei. Um dos problemas mais sérios do nosso país – talvez o mais sério – é a falta de Educação, que faz com que várias gerações não se expressem corretamente, não consigam escrever sequer um bilhete e pior: não tenham capacidade de reflexão sobre seus problemas. Com isso, não conseguem bons postos de trabalho e, sem atividades, acabam, no pior caso, cometendo crimes.

Na sexta-feira passada, eu e Salomão, convidados, participamos, no Centro de Recuperação Feminino, do “1o Sarau Literário Flores, Sabores e Belezas do Meu Jardim”, onde fomos homenageados e nos emocionamos com tudo o que foi apresentado. O local é um belo jardim, com direito a lago para criação de peixes ornamentais, certamente onde as detentas podem “respirar” um ambiente diferente das celas que ocupam.

O projeto Remição de Pena pela Leitura garante a redução de quatro dias da pena por livro que for lido e feito resumo. Há outras iniciativas culturais como coral e balé, educação e panificação, por exemplo. A programação constou de apresentação do coral, seguido por balé, tendo como tema “Fênix” e, finalmente, uma entrevista, contato direto com as internas.

O primeiro detalhe que me impressionou foi na dança, realizada em um pedaço do jardim da melhor maneira possível, com plantas sendo pequenos obstáculos. A solista tinha nos olhos a Liberdade. Imagine-se, por um dia, horas que sejam, privada de sua liberdade, obrigada a conviver com outras pessoas que nunca viu. Deixar aqui fora filhos, mães, famílias e até companheiros – estes, infelizmente, em minoria. De mais de 500 detentas, apenas estão cadastrados uns 20 homens que fazem visita regularmente. Que pena!

A Cultura tudo pode. Ali, naquele palco improvisado, no belo jardim, driblando plantas, ela tinha em seus olhos a Liberdade. Assim como na Leitura ou no Canto. Quando estamos lendo, nossa mente vagueia, habita outros mundos, outras realidades, como um longo voo feliz e livre, absolutamente livre.

Outro detalhe que me impressionou muito foi o português correto empregado pelas detentas. Muitas vezes elas se expressaram de improviso e o que ouvimos foi o emprego correto das palavras, o que hoje raramente ocorre aqui fora. É claro que no dia a dia há muita tensão. Há a TPM das moças, quase todas com idades entre 18 e 22 anos, quase todas deixando os filhos lá fora, quase todas presas por tráfico. É o que lhes resta aqui fora, sem Educação, sem porvir, sem trabalho e o dinheiro do tráfico, parecendo fácil, dando sopa.

Para encerrar, apresentaram uma enorme colcha de retalhos. Cada uma apontou o seu retalho ali costurado e sua significação. E ainda houve roda de carimbó e degustação de pães fabricados internamente. Curioso, apesar de ser partícipe do projeto, a Seduc mandou apenas uma representante, a professora Idajane Monteverde. A Superintendência do Sistema Penal e a Defensoria Pública estavam presentes.

Como resultado, saibam que é muito pequeno o percentual de mulheres que retorna ao presídio. O que a Cultura não faz? O projeto está presente em outros presídios masculinos. Se você se interessar, procure a Seduc e doe livros. A ideia é muito boa.

(Publicado em O Diário do Pará, Caderno TDB, Coluna Cesta em 27.10.17 e opiniaonaosediscute.blogspot.com)

Bragantino homenageia Geo

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Tocante homenagem ao companheiro Geo Araújo antes do jogo entre Bragantino e Sport Belém, no estádio Diogão, pela Segundinha de Acesso ao Parazão 2018, na tarde deste sábado. Os jogadores do Bragantino entraram com a faixa “Sou Geo Araújo desde pequenininho”, fazendo referência a um dos jargões mais conhecidos de Geo como narrador esportivo.

A frase do dia

“A Globo é apenas uma agência de propaganda da entrega do pré-sal. Sua programação virou um comercial da treta. Não há voz dissonante”.

Palmério Dória, jornalista