A corrida do ouro

POR GERSON NOGUEIRA

Ao ver a ansiedade da CBF em botar as mãos no ouro olímpico pensei de imediato no Marin das Medalhas. Mesmo recluso naquela gaiola de ouro em Nova York, o cartolão deve estar na maior angústia por não poder chegar nem perto de tanta medalha. Lembrei também do filme de Charlie Chaplin, um dos primeiros que tive a sorte de ver, ainda em Baião.

Como se sabe, Carlitos reduz a pó a febre do ouro através de uma saraivada de gags impagáveis, verdadeiras pepitas preciosas do mais genial humor já visto no cinema.

No torneio de futebol da Olimpíada, a torcida nem espera genialidade. Quer apenas comprometimento e transpiração por parte do time nacional no confronto que decide hoje passagem para a decisão da medalha de ouro.

unnamed (7)Neymar, é claro, está na marca do pênalti, totalmente enrascado. Milionário, famoso e com um histórico não muito feliz com a camiseta canarinho, o atacante do Barcelona tem nas costas um caminhão de responsabilidades no confronto desta tarde no Maracanã.

Todos os olhares e cobranças se dirigem a ele. Se acertar o pé, comer a bola e conduzir o Brasil ao triunfo, terá feito não mais que a obrigação. Mas, se tudo der errado, mesmo que ele não tenha a mínima culpa, será definitivamente acusado de pipoqueiro, marrento e antipatriota, ou coisa pior.

A essa altura, pode-se dizer, na linguagem dos boleiros, que Neymar entrou numa tremenda roubada ao aceitar a incumbência e a honra de liderar a seleção na busca pelo inédito ouro olímpico.

Mesmo a glória de uma provável conquista ficará sempre eclipsada pelos dois jogos iniciais da campanha, que deixaram o país enfurecido com a ausência de galhardia dos jogadores. A irritação levou muita gente a, apressadamente, enxergar qualidades não menos que brilhantes no escrete feminino.

Buscou-se até uma comparação sem sentido entre Neymar e Marta, a excelente camisa 10 do time de Vadão. Comparar as duas modalidades é pura irracionalidade, levando em conta as diferenças brutais, que começam pelo altíssimo nível de competição que o nobre esporte bretão reserva aos homens, e as variáveis táticas específicas para cada categoria.

O mais absurdo dessa história é que, com a sanha própria desses tempos de linchamentos virtuais, Neymar foi atacado principalmente pelos motivos errados. Sofreu um massacre nas redes sociais por ganhar rios de dinheiro e por circular com cantores e atores internacionais.

Ora, ganha muita grana porque joga num dos clubes mais ricos do planeta. E é amigo de celebridades porque tem o direito de ser amigo de quem quiser.

Neymar deveria ser criticado como atleta e por diversas razões derivadas dessa condição: o baixo desempenho em campo, a quase inexistente ascendência sobre o resto do grupo e por ser fominha na maior parte do tempo. Nesse contexto, até a comparação rasa com Marta faria algum sentido.

O fato é que os destinos e responsabilidades do futebol brasileiro não podem ser debitados na conta de um único jogador. É bom lembrar que, mesmo nos tempos áureos de Pelé, as responsabilidades eram divididas por muito mais gente – Mané Garrincha, Nilton Santos, Didi, Tostão, Rivelino, Gerson e Jairzinho.

—————————————————

Um torneio condenado a virar piada

Aliás, sobre essa já cansativa ganância por medalhas, o amigo Edyr Augusto Proença envia uma gostosa provocação. “Estava assistindo ao programa Clube dos Correspondentes na TV e o cara da BBC disse uma coisa certa: esse torneio de futebol masculino nas Olimpíadas virou uma piada. Parece aquela pelada em que o cara que escolhe os times, escala os melhores com ele. Aí veio um e disse que podia colocar três caras já profissionais em cada time, para valorizar as partidas. Então o Brasil vem e chama até o Neymar, louco pelo ouro. E o que vai fazer com a medalha? Esfregar na cara de quem? Na minha pelada, alguém logo se levantaria e diria: ‘Mas assim…’. Gerson Nogueira, que achas?”.

Só posso concordar com o coleguinha inglês. Acertou na veia quanto ao ridículo em que se transformou o torneio olímpico. No caso do Brasil, obsessão rima com perdição.

—————————————————

Remo ganha especialista em bolas paradas

O anúncio de Flamel como novo reforço do Remo para a campanha na Série C foi recebido com certa surpresa pelo longo histórico de desacertos entre as partes. Há pelo menos três anos, o clube tentava contratar o meia-armador, sem êxito. Desta vez, com a eliminação do Águia na Série D, Flamel ficou disponível e o acerto foi sacramentado.

A dúvida que ronda esse tipo de contratação diz respeito aos humores do técnico de plantão. Waldemar Lemos avalizou a aquisição, mas deve ter Flamel na conta de um jogador para compor elenco. Significa que, salvo emergências, dificilmente entrará como titular.

Conspiram contra o jogador a idade (33 anos) e a sina de fiascos de atletas regionais nos clubes de massa da capital. Aleílson é um exemplo clássico. Brilhou no Águia e no Paragominas, mas fracassou na dupla Re-Pa.

Por outro lado, o Remo pode vir a se beneficiar muito da reconhecida competência de Flamel como articulador e cobrador de faltas. Desde, é claro, que Waldemar não reserve a ele o mesmo papel dado a Magno no atual elenco – o de titular da suplência.

—————————————————

Vivas ao infante!

A coluna é dedicada ao infante João Gerson, que rasga a folhinha nesta data, como se dizia nos tempos do calendário social da PRC-5, “a voz que fala e canta para a planície”.

Ao meu pequeno grande botafoguense, votos de sabedoria para desvendar os segredos do mundo e de muita luz para encontrar os caminhos.

(Coluna publicada no Bola desta quarta-feira, 17)

16 comentários em “A corrida do ouro

  1. Lembremos ainda Gerson, que enquanto outras seleções iam com força máxima à Copa América e Eurocopa, Neymar foi poupado pra justamente reforçar a seleção olímpica que era até então comandada pelo técnico da principal. Messi, CR7, Suarez, Muller e cia, os maiores craques do futebol mundial fazendo pré-temporada e o Brasil correndo desesperado atrás do ouro. Aí a prata vai ser vergonha, ouro é obrigação sim, já que houve tanta prioridade.

    Curtir

  2. Amigo Gerson, tudo que gira em torno de Neymar é marketing em ação e a imprensa pauta mais ainda porque dá ibope, sendo ele, além de bom jogador, curte demais essa situação, logo, essa cobrança é natural por parte do público e até da própria imprensa. Concordo que essa comparação com Marta não tem nada a ver, mas entendemos que isso é apenas gozação das redes sociais, hoje muito comum. Me irrita é a própria CBF colocar o jogador como a principal figura do escrete, firmandodo-o como capitão e como a gente sabe não reúne condições para tal tarefa. Quando a bola rola, o jogador praticamente monopoliza a posse de bola, apesar de sabermos que sempre tem potencial para fazer boas jogadas. Enfim, acho exagero tudo em torno de Neymar.

    Curtir

  3. Primeiramente, Parabéns aos infantes!!! Que tenham vida longa e plena de saúde e sucesso.

    No mais, é dizer que a situação em que ficará o Neimar após o torneio olímpico me parece uma questão de referencial.

    Para mim, ele não vai protagonizar nem o eventual sucesso, nem o provável fiasco do time brasileiro. Afinal, é um jogador cujo dotes técnicos inegáveis são vítimas de absurda superestima da inteiresseiríssima mídia. Além do mais não vi em nenhum dos jogos falta de entrega, disposição e transpiração. O que faltou mesmo foi treino, entrosamento, e, por via de consequência, o mínimo padrão tático. A investidas individuais mais do que estrelismo, me pareceram o único recurso disponível na ocasião.

    Com efeito, de minha parte, se o que é provável se confirmar, vou considerá-lo apenas mais um que não conseguiu o “ouro olímpico”. E foram tanto muito melhores do que ele que não conseguiram e está tão destreinada a equipe que sequer vou considerar o malogro uma decepção.

    Quanto ao Flamel, mesmo sabendo das dificuldades que terá para desenvolver o bom futebol que sabe jogar, reitero aqui meus votos de sucesso a ele. Mas, independentemente de como venha a ser a performance do novo contratado, desde já tenho uma certeza: ele não produzirá menos do que produz o Fernandinho em prol do Mais Querido. O ideal seria que o Fernandinho subisse de produção e o Flamel reeditasse no Leão as grandes atuações que já teve nos times de menor expressão em termos de torcida.

    Curtir

  4. Parábens aos seus filhos, Gerson e Acácio! Deus os abençoe!

    Sobre a seleção masculina, não há muito o que falar. Tanto faz se vier o ouro. Não sinto vontade alguma de torcer por eles.Tomara que o Tite resgate esse sentimento adormecido, com sua filosofia de trabalho.

    Na realidade, torci demais pela feminina, que novamente no momento decisivo fraquejou e decepcionou. Não só no futebol, como no Handebol e Vôlei de quadra, onde tínhamos equipes favoritas ao ouro.

    Curtir

  5. Chegou a hora da redençaooooo!!!!!!. Brasil e Alemanha frente a frente decidindo uma super histórica medalha de ouro olímpica. Um jogaçoooo!!!, uma super decisão!! Um feito para lavar a alma do brasileiro e tirar na minha opinião o peso do assombroso 7×1. E não precisa o Brasil,dar 7×1 10×1 20×1. Basta ganhar a medalha de ouro na costa dos alemães depois de 100 anos de futebol que será o suficiente para nos dar moral novamente e repito apagar a mancha dos 7×1. tTem de ganhar, a hora e agora ou nunca mais. Os Deuses do futebol proporcionaram que o país do futebol tivesse uma oportunidade de OURO rsrsrsr de reverter a mancha dos 7×1 que nos deixou cabisbaixos no futebol. A imprensa ( Galvão Bueno e cia) já falaram besteiras que mesmo 7×1 pro Brasil não apaga os 7×1 vergonhosos. O cara é maluco porque na minha opinião basta só ganharmos a medalha em cima dos alemães para apagar o vexame. E minha tese é bem simples para crer nisso: Não podemos jamais esquecer que o futebol brasileiro que já foi o maior , melhor e mais temível do mundo. Já teve os melhores craques do futebol mundial, tem o maior atleta de futebol do século( Rei Pelé) , ja teve monstros sagrados como Garrincha, Didi, Nilton Santos, Belinni, Djalma Santos, Tostão, Piazza,Brito, Gerson, Riva, Gilmar, Felix, Jair, Capita, Everaldo, Romário, Ronaldo fenomeno, Zico, Falcão , Socrates, e muitos outros jamais conseguimos uma medalha de ouro olímpica na história. Morremos na beira em várias edições, tivemos de aturar nos maiores adversários Uruguai e Argentina ganharem o Bi olimpico, por tudo isso que ganhar pela primeira vez medalha de ouro nas olimpíadas é tão importante quanto a copa do mundo é para lavar a alma do brasileiro. pra frente Brasil!!! Pra frente Brasil!!!!
    Pra frente Brasil!!!!!!

    Curtir

Deixar mensagem para Acácio F B Elleres - Campeão dos Campeões Cancelar resposta