POR GERSON NOGUEIRA
A derrota frente ao Botafogo-PB, sábado, em João Pessoa, começou a ser desenhada quando o técnico Waldemar Lemos decidiu promover uma mudança ousada na equipe, mexendo com a estrutura do lado direito e desestabilizando por completo os demais setores. Com Levy posicionado como lateral-direito avançado, o time não conseguiu atacar pelos lados durante o primeiro tempo e ainda ficou vulnerável atrás.
No fim das contas, o placar final de 2 a 0 espelha bem a superioridade paraibana na partida. Ressalte-se que o escore poderia ter sido bem mais amplo. O goleiro Fernando Henrique fez quatro defesas importantíssimas, que evitaram uma goleada.
A rigor, o goleiro foi o principal jogador do Remo no jogo, o que já revela o quanto a equipe foi dominada e atacada nos dois tempos.
O Botafogo portou-se com determinação, organização nas saídas ao ataque e segurança defensiva. Marcou nos três setores do campo com igual volúpia, às vezes até exagerando no jogo violento. A compactação dos alvinegros contrastou com a dispersão dos azulinos, cujos homens de meio-campo não encontraram espaço para criar jogadas.
Sem a participação de Eduardo Ramos e Marcinho no jogo, o Remo dependia de manobras individuais de Edno e Wellington Saci, muito pouco para incomodar a sólida retaguarda do Botafogo.
Curiosamente, o primeiro gol surgiu quando o Remo dava sinais de que iria encontrar formas de chegar ao ataque, mesmo com as deficiências no lado direito. Em jogada pelo meio, aos 25 minutos, Marcinho lançou Edno na área. Um instante antes da finalização, o zagueiro Plínio desviou para a linha de fundo.
Logo em seguida, Eduardo Ramos recebeu na área e bateu cruzado, mas a zaga impediu o gol. Dois minutos depois, Ramos desviou cruzamento feito por Saci, mas a bola saiu alta.
Aí veio o descuido fatal. Murilo saiu jogando errado e o meia Val recuperou a bola, partindo em direção à área. Como ninguém bloqueava, ele disparou um chute forte, que desviou no chão e enganou o goleiro Fernando Henrique.
Saci ainda deu um bom chute em cobrança de falta, quase surpreendendo o goleiro Michel Alves. A tentativa de reação do Remo morreu nesse lance.
Para a etapa final, o técnico Waldemar Lemos resolveu consertar o erro na escalação de Levy como atacante e o substituiu por João Victor. Depois de apenas três minutos em campo, o atacante recebeu entrada violenta do lateral Davi Luís e teve que deixar a partida. Waldemar optou por Héricles para o seu lugar.
Aos 11 minutos, em falha da defesa azulina, Rodrigo Silva cabeceou para fazer o segundo gol do Botafogo. Nem precisou sair do chão para testar com força para o fundo das redes. O Remo, a essa altura, estava completamente nas cordas, sem ânimo ou recurso para buscar uma reação.
O fato é que Waldemar teve a chance de corrigir de vez a situação, mas fez as opções erradas. Ao invés de tirar Levy do jogo, devia ter sacado Murilo, que não atuava há muito tempo e é inferior defensivamente. Só foi lembrar de tirar o jogador (lançando Junior Miranda) a seis minutos do final, quando tudo já estava definido.
Resta aos azulinos o consolo de ter mantido o terceiro lugar na chave, apenas dois pontos atrás de Botafogo e Fortaleza. A disputa continua renhida, mas os três jogos em Belém podem garantir a classificação à próxima fase.
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Brasil continua devendo futebol na Olimpíada
O futebol brasileiro na Olimpíada emite alguns sinais de que pode brigar pelo ouro, mas a inconstância dos times põe em xeque a euforia pachequista. A seleção feminina caiu no gosto do povo, pela vontade e fibra de suas jogadoras.
Não passa, porém, confiabilidade em relação a times de técnica mais apurada e conjunto bem treinado. Pode chegar ao primeiro lugar, mas terá que melhorar muito. Contra a Austrália, a excessiva dependência de Marta cobrou seu preço. E quase levou à derrota nos penais.
No masculino, Neymar continua centralizando o jogo e dividindo opiniões. Depois da suada e merecida vitória sobre a Colômbia, esforçou-se para cativar o torcedor, assumindo o papel do líder que aplaude e incentiva seus companheiros.
Pode ter sido uma orientação de assessores, mas a atitude de sair cumprimentando e abraçando os demais jogadores denota uma evolução de pensamento. Lembrou até o gesto de Cristiano Ronaldo na final da Eurocopa.
Quanto ao desempenho em campo, o time evolui e descobre trunfos importantes, como o ágil Luan. Caso mantenha os nervos em ordem e a boa movimentação do meio para frente, a seleção pode ainda resgatar a confiança do torcedor. Aí, então, o caminho rumo ao ouro ficará bem mais fácil.
No geral, o futebol pentacampeão do mundo continua a dever uma exibição mais caprichada nesta Olimpíada.
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E Sassá lavou a alma botafoguense no Morumbi
E eis que, aos 48 do segundo tempo, quando não esperava mais nada, o bom Sassá deu o ar da graça e liquidou a fatura no Morumbi. O poderoso São Paulo, que acaba de confiscar o técnico Ricardo Gomes, sentiu o gosto travoso da derrota no apagar das luzes.
Que Gomes seja feliz por lá, mas que nunca esqueça que a Estrela Solitária tem brilho próprio e jamais se amofina.
Do ponto de vista pessoal, foi um caprichado presente de Dia dos Pais. Só o meu amado Botafogo para me proporcionar essas alegrias inesperadas.
(Coluna publicada no Bola desta segunda-feira, 15)