Racismo no vôlei, de novo. Até quando?

A meio de rede da seleção de vôlei Fabiana, que já foi alvo de racismo (Foto: CBV/Divulgação)

POR MARIANA LAJOLO

O vôlei brasileiro voltou a ser alvo de mais um caso de racismo. Os xingamentos à meio de rede Fernanda Isis foram a cereja do bolo na confusão da partida entre Concilig/Bauru e Uniara/Afav, em Araraquara, que terminou com violência, mulheres agredidas e ajuda da polícia para conter os ânimos. Segundo nota do Bauru, Fernanda foi chamada de “bunda de macaco” por torcedores.

As cenas lamentáveis de violência que foram vistas em quadra não são constantes nas disputas de vôlei. Já o racismo não tem sido tão raro assim. Como bem lembrou Daniel Bortoletto, no “Lancenet!”, os casos de preconceito se acumulam sem que nenhuma providência enérgica seja tomada pelos dirigentes. Ramirez, Wallace e Fabiana já foram ofendidos por serem negros. Michael sofreu agressões por ser homossexual. Mas nenhuma medida foi implantada. Nada que assuste racistas e preconceituosos e os faça pensar duas vezes antes de agredir os atletas.

O comportamento desse torcedores é um reflexo do que acontece na sociedade. E a postura dos dirigentes também. Quando o caso acontece, todos se mostram indignados, mas não é suficiente para agirem. “É um problema social”, “jogador exagerou”, “no estádio pode” são desculpas comuns para que aceitemos o inaceitável.

Coibir e punir atos de preconceito significa, em muitos casos, desagradar torcedores, clubes, dirigentes, atletas e até patrocinadores. E, para muitos que comandam o esporte, é mais fácil esconder a sujeira embaixo do tapete.

Ao “Lancenet!”, Ricardo Trade, CEO da CBV (Confederação Brasileira de Vôlei), afirmou que haverá ações para evitar novos atos racistas. O regulamento da próxima Superliga pode até incluir medidas punitivas, diz o cartola. Se a iniciativa sair do papel, será um grande passo. Como disse o CEO, esporte pode ser um “instrumento transformador da sociedade”, e racismo definitivamente não é uma ferramenta para isso.

12 comentários em “Racismo no vôlei, de novo. Até quando?

  1. Racismo, sexismo, clubismo…ainda tão inerentes a natureza humana. A evolução da nossa espécie é notória, pois esses tipos de comportamentos já foram mais veementes, mas creio que ainda precisaremos de mais alguns séculos para que a seleção natural (e a educação) faça efeito e elimine as pessoas preconceituosas. E pensar que nós (como a maioria dos animais) possuímos diferentes tons de pele apenas por que cada indivíduo possui diferentes concentrações do pigmento melanina…é duro hein…

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  2. A evolução leva alguns milhares de anos para agir, caro Nelson. Infelizmente, sua estimativa pode demorar bem mais que o previsto. O que precisa haver é grande esforço para que a educação no Brasil melhore, mas, e sobretudo, que haja conscientização dos adultos de hoje quanto ao assunto, porque eles são o exemplo da garotada atual. As gerações passadas viram os pais agredindo as mães, mas hoje há a lei Maria da Penha contra a agressão à mulher. E o racismo já é considerado crime, mas a medida da lei não vem acompanhada de outras medidas, sócio-educativas. Ninguém deixa de ser racista, principalmente se perceber as vantagens de ser racista. Sim, há vantagens em ser racista. Aliás, o racismo em si é a obtenção da vantagem do “branco” sobre o “negro”, baseado em nada. Baseado em melanina. Baseado em opressão, cerceamento de liberdade e cassação de direitos civis. O racismo é uma indecência, uma covardia e uma injustiça histórica. Precisa ser abolida da vida em sociedade.

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  3. Lopes,

    particularmente só vejo uma saída para amenizar isso (nunca extinguiremos isto, pois as coisas se reinventam): fazer brancos, amarelos, pretos, azuis, lilás e todas as demais cores a frequentarem apenas um tipo de escola: pública. Somente convivendo mudamos nossos hábitos.

    Por sinal, esta semana pude assistir ao excelente filme “Vênus Negra”, filme muito interessante para debater o racismo, inclusive presente na ciência.

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  4. Grato pelos comentários, amigos Lopes e Celira. Acabei não me expressando adequadamente em meu 1º comentário, onde na verdade eu quis me referir a seleção natural de um ponto de vista mais “social”, onde aqueles que utilizam do recurso do preconceito possam um dia ser abolidos, afastados, discriminados! A teoria do Darwin, amigo Celira, foi pautada em observações do grande naturalista, que percebeu que indivíduos com características que aumentassem suas probabilidades de sobrevivência iriam ter mais chances de reproduzir, e que consequentemente seus descendentes iriam herdar e se beneficiar dessas características, aumentando por fim a adaptação e chances de sobrevivência de determinada espécie…

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  5. Celira, a teoria da evolução não é um apoio ou uma apologia a preconceitos nessa ou naquela época. É uma teoria científica muito eficaz. Como seres vivos que somos, nos incluímos na evolução e na seleção natural. A observação de que somos primatas, muito caricata nas gravuras de que o homem veio do macaco (o que não é bem assim), é uma reação grosseira de religiosos, criacionistas, que acreditam na criação divina e buscaram ridicularizar a teoria darwinista. Tudo bem, deve ter sido chocante na época, e ainda é hoje em dia. Mas é preciso compreendê-la bem antes de sondar as consequências dela, porque ela não prevê resultados, a teoria não prevê condições e contingências nas quais os seres vivos existirão no futuro e nem que adaptações desenvolverão. Darwin nunca ouviu falar de genética, Mendel veio depois dele e a genética é parte importante do entendimento da evolução. No mais, a própria evolução coloca a espécie humana como aquela que desenvolveu fantasticamente as habilidades de linguagem e a cultura a níveis sem comparação em qualquer parte do planeta. As habilidades de transformar a cultura e a de aprendizado pela linguagem é o que dá grande esperança de que no futuro, quem sabe em menos de um século, não haja mais racismo, ou que ele tenha se reduzido a um contingente irrelevante da população. Sabemos que isso depende de justiça social e de políticas públicas que vigiem o racismo, com ações coercitivas e sócio-educativas. Sempre haverá pessoas que tentarão colocar a culpa do próprio fracasso nos outros. Os racistas, os machistas, xenófobos, homófobos e outras pessoas preconceituosas sempre estarão tentadas a pôr no diferente a culpa pelas próprias mazelas. É preciso conscientizá-las de que as diferenças não trazem injustiças, mas que as injustiças criam diferenças.

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  6. Lopes,

    Darwin formulou a teoria da evolução, não refiro-me a teoria sintética, dentro das condições de possibilidades de sua época, daí que não posso esperar que a teoria nascida tenha uma base diferente dos discursos circulantes de sua sociedade, logo, ela é cercada de preconceito sim, amigo.

    Não por acaso renomados cientistas, com base na teoria da evolução, defendem uma intromissão menor nos países mais pobres, bem como uma suposta superioridade branca (Vide Darkins e Watson)… Estes cientistas não são exceções, eles são uma poderosa e influente parcela do corpo acadêmico mundial

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  7. Por sinal, amigo Lopes, sou Biólogo… Dai que entendo perfeitamente a Teoria da Seleção em várias nuanças, contudo, não deixo-me cegar por ela, afinal, em nome da evolução o eugenismo, hoje marginal, mas ainda presente no meio acadêmico, fez muitas vítimas sob um discurso hipoteticamente científico-evolucionista.

    Em síntese, acredito que é possível pensar o mundo diferente da proposta nascida com Darwin, mas somente agora novas questões estão surgindo para talvez ruir esse paradigma biológico.

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  8. Mas o eugenismo só encontra amparo na teoria darwinista se esta for mal interpretada. Não sou biólogo, mas sou apaixonado pela teoria de Darwin, um dos maiores gênios científicos de todos os tempos. A própria teoria de Mendel dá suporte à evolução e a variabilidade genética humana na África aponta a origem da espécie humana no continente negro. Evolução e genética não podem ser usados para uma eugenia, uma vez que mostram, inequivocamente, que a variabilidade genética é benéfica para toda espécie, inclusive a nossa. Genética e evolutivamente, uma eugenia representa um sério risco de extinção à espécie, sem contar que não há nada de científico que justifique uma crença numa suposta superioridade branca.

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  9. A ciência somos nós, amigo Lopes, daí que não é uma questão de interpretação, é uma questão de ciência em uma determinada época (condições de possibilidades).

    Não por acaso foram abertas, todas ratificadas pela academia da época, inúmeras sociedades eugenicas no mundo, inclusive no Brasil (Monteiro Lobato era um dos membros), em outras palavras, tudo científico desde que academia ratifique.

    No mais, amigo Lopes, eu também gosto muito da teoria de Darwin, mas sempre tenho ressalvas quanto a ela, pois, sendo o natureza um campo de sobrevivência, nada mais natural do que os menos aptos (financeiramente e intelectualmente) pereçam.

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  10. Celira, a ciência sempre teve uso político, quero dizer, no discurso político. A ciência desenvolveu a bomba atômica pela paz… Pode isso?… Sua popularização, isto é, o empoderamento da ciência pelas massas não permitirá o uso distorcido para fins políticos, ou outros usos indevidos. É papel nosso disseminar o fundamento do pensamento científico, positivo e cartesiano na raiz, marxista, freudiano e darwiniano no seu desenvolvimento. No pensamento positivo de Comte, a ciência deve se embasar em leis naturais, enquanto o pensamento cartesiano coloca as linhas gerais em que uma lei científica deve funcionar, com alguma previsibilidade matemática ou estatística que a possa explicar. No desenvolvimento histórico, Darwin contribuiu para a epistemologia científica com a premissa de que mesmo as teorias devem evoluir com o tempo, como com o que acontece com a física newtoniana e a einsteiniana que, no limite matemático, concordam em explica fisicamente os fenômenos do movimento. A física de Einstein é uma evolução que ocorreu com a física de Newton, e isso não diminui nem a genialidade de Newton, nem a de Einstein. Marx também contribuiu para o desenvolvimento ético da ciência, com a crítica aocapital e ao modo de produção, enquanto Freud, depois de Kant, nos ajuda a perceber como os sentidos e valores morais podem influenciar no entendimento e no uso político da ciência, assim como na aceitação das teorias e suas consequência práticas e teóricas. Edgar Morin propôs o uso da ciência com consciência, explicitando o uso político, como campo de poder e saber, e indevido da ciência para legitimar interesses corporativos, de grupos econômicos e pessoais, a exemplo do emprego da bomba atômica para paz (sic). Digo, e digo bem, que não é a teoria que merece desconfiança, mas o discurso no qual é empregado, a finalidade com o qual o discurso, ou quem faz o discurso, a emprega. Sei que a academia tem membros de quem podemos desconfiar seriamente quanto ao uso do prestígio acadêmico para defender posições pessoais e políticas, de agir em nome do próprio interesse, chegando a distorcer o conhecimento para dar vazão à própria vontade. Entendo bem sua posição, Celira, mas deixar de se manifestar apoiado em ética abre caminho aos malfeitores da ciência, que acabam distanciam a ciência da população.

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  11. Pow…tudo isso porque foi chamada de bunda de macaco?

    Pior é quem diz que somos filhos de macaco então.

    Brincadeiras a parte.

    Quando vejo a presidente Dilma, uma mulher, ser desrespeitada de todo jeito, inclusive por mulheres e religiosos, chego a conclusão que a luta contra o racismo é inglória.

    O paraense quando é chamado de índio, parece que cutucam sua bunda, mas também, em alguma área desrespeitamos os outros.

    Me desculpem amigos, mas isso não tem vai acabar, a única solução pra amenizar, é aplicar a lei e fim de papo.

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