POR GERSON NOGUEIRA
Foi uma semana movimentada para Neymar. Mudou o modelito do penteado, comprou um brinquedo novo (Ferrari reluzente, de R$ 1,3 milhão), teve quase R$ 200 milhões bloqueados pela Receita Federal e viu se confirmar nas instâncias da Fifa a pena de dois jogos de suspensão pela Seleção Brasileira. O moço não pode se queixar de tédio, definitivamente.
Quanto ao problema mais sério, do ponto de vista dos interesses do futebol brasileiro, que é a ausência nos dois primeiros compromissos pelas Eliminatórias da Copa de 2018, o tribunal agiu corretamente. Neymar havia sido suspenso na última Copa América, no Chile, depois de expulsão de campo e tentativa de agressão ao árbitro da partida contra a Colômbia.
A CBF custou a agir, poderia ter recorrido ainda durante o torneio sul-americano, mas entendeu que não valia a pena. Deixou para que a questão fosse analisada um pouco mais à frente, apostando que o assunto esfriaria e a atitude antidesportiva de Neymar seria atenuada.
Não foi, e deve servir de exemplo para outros atletas brasileiros acostumados a peitar árbitros e assistentes, falar o que dá na telha e tudo acabar relativizado depois no STJD. Dudu (Palmeiras), Guerrero e Petros (Corinthians) são exemplos recentes da bagunça generalizada quanto à punição a atletas que desrespeitam árbitros. Os três agrediram árbitros, foram inicialmente suspensos com rigor e logo a seguir tiveram as penas reduzidas graciosamente.
Ali pelos anos 60 e 70 qualquer atitude afrontosa contra o trio de arbitragem era punida exemplarmente. Havia o temor entre os boleiros de que um gesto impensado pudesse até abreviar uma carreira. Atletas que se excediam sempre tomavam punições drásticas.
Os jovens viam nisso exemplos a serem seguidos. Poucos se arriscavam a levantar a voz para um árbitro. Quem fazia, usava de malandragem. Soltava os cachorros para cima de sua senhoria, mas em voz baixa e expressão tranquila, enganando a quem não estava por perto.
Não funcionava muito bem com árbitros passados na casca do alho, como Armando Marques, Dulcídio Vanderlei Boschilla, José Assis Aragão e Arnaldo Cézar Coelho, mas dava certo com juízes inexperientes.
No futebol europeu, principalmente o inglês, sempre muito cumpridor de regras e regulamentos, a figura do árbitro é sempre reverenciada. Suas decisões são acatadas e é incomum a chamada prensa, tão corriqueira em gramados brasileiros e sul-americanos.
Neymar desfalcará a Seleção de Dunga em confrontos importantes de uma etapa eliminatória das mais indigestas para o Brasil. É talvez a mais complicada desde a que antecedeu a Copa do Mundo de 1994, quando Romário acabou salvando a lavoura em pleno Maracanã diante dos uruguaios.
Mas que a punição aplicada ao melhor jogador brasileiro sirva de lição e balizamento a todos os jovens atletas, visto que os mais veteranos já não têm conserto. Contestar decisões da arbitragem dificilmente surte efeito positivo. Pelo contrário, pode piorar o que já não era bom.
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Monitoração eletrônica afugenta brigões
Um olhar atento ao comportamento das diferentes torcidas nos jogos das séries A e B aponta para uma expressiva redução de incidentes envolvendo os chamados “torcedores organizados” dentro dos estádios, principalmente das arenas construídas para a Copa do Mundo. Quase todos os jogos são realizados sem que sejam registradas brigas nas arquibancadas, como era praxe há até algum tempo.
A causa da mudança de comportamento não está na educação ou na conscientização dos desordeiros, mas na eficácia dos recursos tecnológicos de monitoração instalados para a Copa realizada aqui no ano passado. O sofisticado circuito de câmeras, capaz de esquadrinhar todos os recantos do estádio, intimida os bagunceiros profissionais.
Com medo de serem flagrados e identificados, eles transferiram os locais dos duelos entre facções rivais. Agora, as sangrentas batalhas ocorrem nos arredores dos estádios, como recentemente em Santos, nas cercanias da Vila Belmiro.
A grande vantagem desse novo cenário é que, se os confrontos na área externa não poderão ser evitados pela parafernália eletrônica, certamente serão limitados a uma área que permitirá ações preventivas por parte das forças de segurança.
Ao mesmo tempo, fica descortinado o caminho mais prático para o combate à violência nos estádios. Todos os clubes proprietários de arenas modernas sabem que o alto custo de manutenção dos equipamentos é regiamente compensado pela preservação das instalações internas.
No Rio de Janeiro, a situação ganha um reforço extra, praticamente inexistente nos outros Estados: o banimento pela via judicial das gangues mais violentas. Vasco, Botafogo e Fluminense tiveram suas principais brigadas afastadas por um ano. O Flamengo teve a sua maior “organizada” punida seguidas vezes, só podendo reaparecer em 2016.
Com a saída de cena dos brucutus, os verdadeiros torcedores puderam finalmente ocupar espaço nos estádios, levando mulheres e filhos a tiracolo. A nova face das torcidas já pode ser observada em jogos realizados no Maracanã e no Engenhão.
É quase uma volta aos anos dourados, quando bandeiras podiam ser usadas sem sustos, tremulando e dando aos jogos um espetáculo cênico exuberante. Os cânticos de guerra abriram espaço para os hinos dos clubes e canções de cunho positivo, como as torcidas argentinas pacificadas fazem normalmente.
O mais interessante é que, segundo matéria recente do jornal Extra, as torcidas “normais” começam a sufocar e excluir os grupelhos radicais numa espécie de seleção natural.
Que a nova onda se espraie pelo Brasil inteiro e chegue por aqui, onde a Justiça seguidamente decidiu pelo expurgo de organizadas, mas não se conseguiu extirpar a causa da doença, pois os condenados usam truques baratos, como a troca de siglas ou mudança de palavras nos nomes, para continuar a agir impunemente.
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Bola na Torre
Kiros é o convidado do programa desta noite. Giuseppe Tommaso apresenta a partir de 00h15, na RBATV, logo depois do Pânico. Na bancada, Valmir Rodrigues e este escriba de Baião, debatendo a rodada das séries B e D do Campeonato Brasileiro.
(Coluna publicada no Bola deste domingo, 04)