Outras dívidas eleitorais

Por Janio de Freitas, na Folha de S. Paulo

Pela quarta vez, o estímulo procedente da Polícia Federal para as tendências do eleitorado não resultou. E as investigações desses estímulos, também não.

Logo depois de definidos os disputantes do segundo turno, os três passageiros de um táxi aéreo foram presos pela PF ao descerem no aeroporto de Brasília. Revistados, dizia o primeiro noticiário que um tinha R$ 80 mil, outro levava R$ 30 mil, e R$ 6 mil o terceiro. Esse total de R$ 116 mil foi baixando nos dois ou três dias em que ainda houve noticiário a respeito. Os três voltavam de Belo Horizonte, onde haviam trabalhado na campanha de Fernando Pimentel.

Fernando Pimentel? Petista. Benedito Rodrigues de Oliveira Neto, empresário gráfico que levava a maior quantia, havia produzido material impresso para a campanha petista e em 2010 fora interrogado pela PF, a pretexto de um tal dossiê que seria elaborado em Minas contra José Serra.

E o crime de agora? Nenhum. Não é ilegal transitar com dinheiro de procedência legítima, voltando os três de atividades remuneráveis. Bem, um inquérito ia verificar se, por acaso, não se tratava de lavagem de dinheiro. E, para isso, por que precisariam ir três, levando quantias tão diferentes, e pagando um táxi aéreo para levar soma que não justificaria a despesa? Sem resposta.

Mas a PF teve a gentileza de cometer uma imprudência sugestiva de armação. Com as informações da prisão no aeroporto de Brasília, alguns jornais e TVs exibiram uma foto do embarque de Benedito no avião em Belo Horizonte. Autor, aquele nomezinho quase ilegível que os jornais grudam nas fotos? Nenhum. A foto foi fornecida às redações para acompanhar a notícia de prisão dos três petistas portadores de dinheiro dado como suspeito. Não houve uma ação preventiva da PF em Brasília. Houve uma armação começada em Belo Horizonte, passada à imprensa e à TV como um fato bem sucedido da PF. E com implicações políticas e eleitorais.

Faz um mês que o assunto apareceu e desapareceu. Se a própria PF interveio na PF e esvaziou o balão, não precisa fazer cerimônia. Pode informar a população sobre o que foi aquilo e sobre o inquérito. Fará bem à sua imagem e ninguém pedirá punição de policiais. Como não foi pedida quando daquele dinheiro “achado” em São Luís. E do dinheiro “achado” no caso dos “aloprados” (este, com a colaboração dramatúrgica do Ministério Público Federal). E do “dinheiro cubano” também “achado”, antes de enriquecer a campanha de Lula, em caixa de bebidas dirigida a um diplomata cubano.

Se a investigação continuou, hipótese pouco atraente, a PF deve à sociedade as informações a respeito. Afinal de contas, foi da PF que saíram as informações e a foto destinada ao eleitorado que se voltava para sua decisão do segundo turno. Já basta a dívida imensa da PF com o seu silêncio antidemocrático sobre os epílogos daqueles três casos. A população precisa e quer ter confiança na PF.

Por esse mesmo motivo, mas também por outros, a pesarosa morte de Eduardo Campos não justifica que a Polícia Federal não esclareça as zonas escuras de onde saiu, para a campanha eleitoral, o jato da fatalidade. O começo da busca de explicação, nas primeiras semanas depois do desastre, sustou-se deixando apenas estranhezas. Está aí a direção do PSB enrolada com esse assunto, que prometeu deixar limpo em sua prestação de contas à Justiça Eleitoral, e mais complicou ao prestá-la sem dar conta do avião e seu uso. Diz que depende da Anac, mas não é de quilômetros voados que se trata. E a Polícia Federal sabe disso.

É sempre sábio ler mestre Janio.

12 comentários em “Outras dívidas eleitorais

  1. Flagrantes arranjados são sempre uma peste. Flagrantes arranjados para ser utilizados com fins politiqueiros são mais pestilentos aindas. O problema é que proveniente de uma pena desenganadamente chapa branca a denúncia perde deveras sua credibilidade e deixa apenas a impressão fortíssima de que pretende descredibilizar o trabalho de quem está investigando casos muito graves e prejudiciais aos interesses do governo.

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  2. Pois é deixem investigar os desvios na petrobras, que em comparacao o mensalao é troco de bombom, e a casa da dinda q derrubou collor de mello menos q centavo.
    Como sempre digo, as ferramentas estao ai a disposicao, so nao usam pq nao querem, e poucos levarao vantagem.

    Janio é mestre bem remunerado pelo partido, nao é isento como deve ser o jornalista, ne?

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  3. Falar em dívida eleitoreira, a reeleita já está com uma. A licitação do Pedral de Lourenço mais uma vez não deu em nada. O preço do governo não dá nem pra fazer conserto de telhado de casebre, imagina uma obra como o derrocamento. Mas eu já sabia que essa obra de infraestrutura não sairia.
    Mas dinheiro pra porto em Cuba, tem e muito.

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    1. Lá vem esse discurso imbecilizante sobre Cuba de novo, amigos. Ora, em 1964, a direita bovina já bradava contra isso, como se fosse o portal do inferno. Passaram-se 50 anos e continuam com a mesmíssima prosa… Recomendo mudarem o disco, essa linha de argumentação já cansou, ficou datada demais. Criatividade é fundamental até para ressuscitar a paranoia anticomunista.

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  4. o derrocamento do rio tocantins viabilizaria a hidrovia levando desenvolvimento aos municípios da margem do rio, inclusive baião, terra do blogueiro, mas a defesa imbecil do governo corrupto do pt, e o mesmo chororo de governo progressista cansou, o povo esta acordando, impediu o vitoria de um candidato pouco honesto, eu digo impediu pois a abstenção media no estado foi de 25% e nas cidades de Ananindeua e Castanhal foi de apenas 10%, lembro que Castanhal é a terra do Ja tene e Ananindeua a cidade que o pouco honesto desgovernou por 8 longos e tenebrosos anos.
    O povo acordou e por muito pouco não demitiu a presidente petista, que a exemplo de lulu nada sabia, nada viu e fez, isto sim quem acredita ou é imbecil ou se faz de…

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  5. O povo brasileiro teve a lucidez de (re)eleger como Presidente a representante de um governo que tirou milhões de compatriotas da miséria, optou pelo povo em vez de eleger como prioridade rentistas, especuladores e uma classe média alta sempre conspiradora e aliada de golpistas. O representante dessa turma, apresentado como candidato na última eleição presidencial, é um sujeito que aos 17 anos ganhou do avô um emprego público (cargo de confiança) na Câmara, em Brasília, quando morava no distante Rio de Janeiro, depois ganhou do tio, lá pelos vinte e poucos anos de idade, um emprego (cargo de confiança) na Caixa Econômica, como diretor de loterias. Depois disso, escorando-se no legado político do avô, se enveredou pela política, onde está até hoje como senador. É típico representante da elite indolente brasileira, oligárquica, fomentada na escravidão e, após a libertação dos escravos, na exploração da classe trabalhadora. Daí ele e seus comparsas de partido não se envergonharem de terem imposto ao trabalhador, e ainda justificar cinicamente com rótulo de eficiência e competência, imensos prejuízos como fator previdenciário, salário mínimo miserável e arrocho salarial generalizado como ocorreu no governo FHC. Ao povo do Pará – e aqui continuarei repetitivo como fazem os admiradores dessa gente ao citar Cuba -, impuseram o maior prejuízo ao presente e futuro dos paraenses com a Lei Kandir, que nos tirou o direito de arrecadar impostos sobre os nossos bens mais valiosos: energia e minérios, dinheiro que faz falta para a nosso precário sistema de saúde e à nossa educação calamitosa, para ficar só nessas dois casos. Se todo paraense tivesse a noção dos prejuízos causados ao Pará por essa turma, não estariam advogando a favor deles.

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  6. Viajando pelo Pará, como sempre, pois minha profissão assim me obriga, somente hoje à noite voltei a ler o blog. Atenção elite paraense: grande parte de nosso estado não é servida decentemente por internet ou celular, daí termos que ficar, dependendo do lugar, sem comunicação com o resto do mundo. O Pará não é o mundo de sonhos apresentados na propaganda eleitoral. Por meio dele (do blog), fiquei sabendo da demissão da jornalista da Folha, Eliane Cantanhede. Pertencente à infantaria jornalística anti-petista, era figura que deveria agradar aos patrões, os donos da Folha. Não havia comentário dela em que Lula ou Dilma não fossem apresentados como vilões. Até as torneiras secas paulistanas tiveram parte do problema atribuída ao governo federal, quando esse caso é a prova inconteste da falácia chamada competência do partido mandatário em São Paulo. Segundo o texto contendo a informação, a jornalista em questão tornou-se cara, daí a sua demissão. Esse é dos fatos reveladores da regra de ouro: os patrões querem trabalhadores sempre mais baratos, e não adianta bajular.

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  7. Miguel, concordo com cada uma das críticas que você faz à tucanalha. Agora, é preciso não perder de vista que em 12 anos este governo que aí está não teve a grandeza de reverter nenhuma destas malfeitorias que você tão bem enumera. Inclusive praticou várias idênticas, como garantir a elevação social do lullinha. E como dizia uma propaganda eleitoral que era veiculada aqui, não reverteu porque não quis. Afinal, teve tempo dinheiro e base parlamentar para isso. Aliás, os métodos que usava para persuadir a base parlamentar dão o que falar até hoje. E mesmo assim manteve a Lei kandir, o fator previdenciário etc.

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  8. Caro Antonio
    Mesmo não concordando muitas vezes com você, leio seus comentários atentamente, pois eles elevam o nível do debate. Ninguém é obrigado a concordar com ninguém, mas, mesmo opinando, o sujeito deve dar aos seus comentários um mínimo de fundamentação, sem cair para o bate-boca de arquibancada ou para ofensa pura. É o que tento fazer e vejo que você também o faz.

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  9. Cidadão, não aceito insultos de perto ou à distância, como você prudentemente faz neste momento. Entenda uma coisa: este é um espaço criado para discutir ideias, evitando ofensas ou patacoadas. Mire-se em bons exemplos de comentaristas que estão diariamente aqui, que sabem expor suas opiniões sem resvalar na grosseria ou na incivilidade. O tema em pauta, a hidrovia, obviamente terá efeitos benéficos para todos, mas o que questionei (e você não entendeu ou preferiu ignorar) foi a comparação canhestra com o porto em Cuba. Por conta dessa atitude francamente despropositada, fica óbvia sua inadequação a esse convívio. Procure outro lugar, mais afinado com o seu estilo e suas convicções. Apesar de tudo, desejo sorte e sucesso.

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  10. É isso aí, Miguel… Opiniões divergentes não representam motivo para bater boca ou proferir ofensas. Quanto ao nível do debate eu só procuro me aproximar do nível de comentadores como você.

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