Por Gerson Nogueira
Roberto Firmino, que ninguém conhecia, mostrou suas credenciais ontem em Viena. Que golaço. Pegou da entrada da área, com muito efeito e fora do alcance do goleiro austríaco. Apesar de ter jogado poucos minutos, o estreante foi produtivo, armando e surgindo como definidor, o que é sempre importante na Seleção Brasileira.
A rigor, o gol de Firmino foi a única coisa digna de menção nesse amistoso meio desenxabido na capital mundial da valsa. O jogo confirma que Dunga já deu sua marca pessoal ao time, afastando as influências da Copa e deixando Felipão meio sem argumento, pois todos esses jogadores estavam disponíveis há quatro meses.
A parte positiva é que foi um teste mais interessante do que o anterior, contra a Turquia, quando o Brasil não encontrou resistências e praticamente fez um treino de luxo. Desta vez, houve enfrentamento e a Áustria mostrou-se firme no bloqueio defensivo e chegou a ameaçar em alguns momentos do primeiro tempo.
A Seleção foi competente para furar o bloqueio defensivo no segundo tempo, aplicando-se mais. Não conseguiu exercer uma superioridade flagrante, até porque Neymar desta vez não brilhou, e beneficiou-se de um gol irregular de David Luiz.
Observa-se que o Brasil de Dunga é mais brigador que o de Felipão. Conta com jogadores mais jovens, o que facilita a execução desse conceito. Quando atacada, a Seleção recua e marca com até seis jogadores, como no lance que resultou no pênalti em favor da Áustria. O lance revelou a falta de jeito de Oscar esforçando-se para bancar o marcador.
No time de Felipão, Oscar não cometeria o pênalti, pelo simples fato de que não iria perseguir o atacante até dentro da área, principalmente porque quatro jogadores estavam lá prontos para bloquear o austríaco.
Apesar de o estilo roceiro agradar o torcedor, um time deve ter jogadores especialistas em marcar quando houver necessidade disso. Um armador como Oscar não poderia jamais se sentir impelido a fazer o que fez. É preciso entender que haverá sempre alguém mais capacitado a cumprir esse tipo de missão.
É claro que o trabalho de Dunga mal começou e ele venceu os amistosos que teve pela frente, mas alguns sinais evidenciam a primazia do padrão bate-estaca. Marcação implacável e sanguínea, briga pela posse de bola centrada em faltas, sempre que o adversário tenta avançar. Os mais criativos, com a exceção de Neymar, acabam subaproveitados – como Oscar no lance do pênalti.
Pode até ser o Brasil do futuro, competitivo até a última gota de sangue, mas não é futebol que apaixona. Vi a partida, mas em nenhum instante me senti envolvido. A bola rolava, as trombadas se repetiam e eu sempre achava algo mais importante para fazer.
Os métodos de Dunga são conhecidos, mas sempre incomoda ver a Seleção distribuindo pernadas e chutões sem pudor. Receio que o futebol do Brasil fique ainda mais em segundo plano na vida dos torcedores. E isso é muito mais sério e preocupante do que perder de 7 a 1 para a Alemanha.
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Noite corintiana no Mangueirão
Pelo tempo (nove anos) que o Corinthians ficou sem jogar em Belém esperava-se um frisson maior. Nas ruas, pelo menos até a manhã de ontem, não era possível saber que o Timão de Parque São Jorge (ou Itaquera) estava chegando para enfrentar o Goiás.
A expectativa dos organizadores é de superlotar o Mangueirão. Talvez não chegue a tanto. O problema é que o torcedor local gosta de futebol, mas principalmente gosta da dupla Re-Pa. Quando nenhum dos rivais está na programação raramente os estádios lotam, embora a apaixonada massa corintiana seja sempre capaz de façanhas.
O time de Mano Menezes faz campanha apenas regular no Brasileiro. Conseguiu fixar a imagem de time pouco ofensivo, tal a quantidade de 1 a 0 e 2 a 1 ao longo da disputa. É também um colecionador de empates, evidência de que joga mais para não perder do que para ganhar.
Por essa razão, reina certo desencanto com o trabalho de Mano, cuja permanência no clube em 2015 é incerta. Para decepção da torcida paraense, a solitária estrela da companhia, o artilheiro peruano Paolo Guerrero, não vem. Sem ele, os corintianos daqui terão que se conformar com alguns bons coadjuvantes, como Cássio, Elias e Renato Augusto.
Do lado goiano, um jogador desperta curiosidade. É Erick, paraense que vem se destacando na equipe pela facilidade para fazer gols bonitos.
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A derrocada emocional do capitão
Apesar de rapidamente debelada, a crise desencadeada pelos queixumes de Tiago Silva por ter perdido a braçadeira de capitão da Seleção segue gerando desdobramentos. O pior deles é a impressão generalizada de que o futebol do “Monstro” se apequenou. Ídolo na França, Tiago motivou análise crítica da revista L’Equipe, sob o título “O monstro encolhe”.
A dúvida, segundo a revista, é se Tiago só atravessa um mau momento ou se de fato já experimenta fase descendente na carreira. Depois de uma Copa atormentada, com direito a forte crise de choro durante a partida contra o Chile, o capitão viu seu prestígio se dilapidar com a volta de Dunga ao comando.
Acima de tudo, o precário equilíbrio emocional parece ser o maior problema da carreira de Tiago. A própria publicação aponta que recuperar a autoestima como astro do Paris St. Germain é o primeiro passo para que o brasileiro volte a ser incluído entre os melhores beques do mundo, como já foi um dia.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quarta-feira, 19)
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