Como nas melhores famílias

Por Gerson Nogueira

GERSON_22-09-2013Todos sabiam que o reencontro era inevitável, mas poucos esperavam que acontecesse logo. São Paulo e Muricy Ramalho parecem ter nascido um para o outro, como aqueles casais cuja sintonia sobrevive até aos solavancos normais do dia-a-dia. Depois de uma relação inicial nos anos 90, ainda como auxiliar técnico de mestre Telê Santana, o treinador assumiu o Tricolor em 2006 para um reinado glorioso que foi até 2009. É uma saga de profunda (e rara) identificação de um técnico com um clube.

A vinculação afetiva de Muricy com o São Paulo, cuja origem data dos tempos de boleiro, levou à escolha óbvia dos dirigentes no momento em que o time viveu a ameaça real e imediata de rebaixamento. Mergulhado em crise política das mais turbulentas, o clube queimou dois técnicos (Ney Franco e Paulo Autuori) antes de se render ao previsívelrevival.

Depois de períodos razoavelmente bons em Palmeiras, Fluminense e no Santos de Neymar, o resmungão se recolheu à espera de um convite. Parecia cansado de guerra e com jeitão de aposentado. Quando Autuori caiu em meio a uma sequência quase inacreditável de derrotas do São Paulo, todas as fichas começaram a ser jogadas em seu nome.

Bastaram três rodadas no comando para que Muricy imprimisse ao combalido São Paulo o ânimo que faltava. Dali em diante, foram três vitórias no melhor estilo Muricybol: todas pelo placar mínimo, sobre Ponte Preta, Vasco e Atlético-MG. Estava oficialmente reinaugurada a era Muricy.

A ameaça de queda foi parcialmente sustada, embora o estilo de jogar do São Paulo seja sempre uma aposta temerária. Teoricamente, quem entra para fazer um ou dois gols, corre o risco de ceder mais de um. Ocorre que, na situação de aperreio que o time se encontrava, a reconciliação com as vitórias é o único fato que importa.

Muricy desenvolveu ao longo dos anos um esquema que às vezes permite teorizações, principalmente quando ele posiciona seus times em formato de pirâmide, escancarando o apego à virtude de não tomar gols. Foi exatamente assim que o técnico deu ao São Paulo a honra de ser o mais bem sucedido time da era dos pontos corridos.

Adepto do sistema de três zagueiros e volantes fortes, Muricy em nada lembra a filosofia ofensiva que consagrou seu mentor. Com times que marcam muito em seu campo e saem rápido para explorar as bolas aéreas, Muricy caminha para ser o condutor do resgate tricolor no Brasileiro.

Por vezes, fico a imaginar com que olhos Telê analisaria Muricy hoje. Apesar de se relacionar bem com craques badalados, como Neymar, falta-lhe o esmero que permite um futebol vistoso aos times. O “muricybol de resultados” enfeia o jogo em nome do pragmatismo. Pode-se não gostar, mas é indiscutível que o esquema tem sido vitorioso, emprestando ao São Paulo uma confiança que inexistia antes.

Ao contrário de colegas desempregados (Abel, Joel Santana, Caio Júnior, Celso Roth etc.), Muricy sinceramente não parecia preocupado com a falta de ofertas de trabalho. Mas, pelo conhecimento que tem do Campeonato Brasileiro, sabia que mera era questão de tempo para começarem a dança das cabeças. Quis o acaso que surgisse a vaga justamente no São Paulo.

Ganso, que foi seu jogador na vila, pode ser o ponto de referência de Muricy no time. Gosta do estilo do armador paraense e já anunciou que ele pode ser escalado ao lado de Jadson. A sinalização já indica que ele marcha em direção a um desenho tático que Telê utilizava nos anos 90. Caso isso se efetive, será a confirmação de que nunca é tarde para aprender.

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Bola na Torre

O programa debate o futebol paraense, com ênfase para o Paissandu na Série B e o Águia na C. Guilherme Guerreiro apresenta, com as participações de Giuseppe Tomaso e deste escriba baionense. João Cunha é o convidado. Começa logo depois do Pânico na Band.

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Direto do blog

“Valter Lima é um bom técnico e, diga-se de passagem, um modelo em extinção. Ao contrário de muitos, Valter deixa a retranca de lado e, sempre que pode, monta equipes ofensivas. Creio que se o Remo passar do Flamengo, ele se transformará em um provável nome para tocar as coisas no profissional, quando Charles sair (acho difícil ele terminar o trabalho), o que sou contra (o futebol mais queima do que consagra). Valter tem sido uma peça importante na estruturação do Remo e deve continuar fazendo seu serviço, nas categorias de base.”

De Thiago Corrêa, reconhecendo os méritos de Valtinho no Remo.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 22)

4 comentários em “Como nas melhores famílias

  1. Amigo Thiago conta umas piadas boas, de vez em quando… Te dizer…

    Penso que a diretoria do Remo faz exatamente o que fez a diretoria do Paysandu, ou seja, contrataram um técnico local, para fazerem as farras de contratações, e depois, correm, espantados e pressionados pelo torcedor(esse mesmo, que hoje apoia), atrás de um bom técnico, para que este tente consertar as besteiras que eles fizeram…

    – Quem forma time e elenco, são técnicos de futebol;
    – Quem forma péssimos times e elencos, são técnicos ruins, locais e dirigentes curiosos( Em Remo e PSC);
    – Quem forma bons times e bons elencos, são bons técnicos, supervisionados por bons diretores de futebol..

    Qualquer coisa fora disso, é enganar o torcedor e a si mesmo…

    É a minha opinião.

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  2. Fiquei surpreso e feliz por participar da coluna…Estava lendo na casa do vovô e “pam”! Vi meu nome e resolvi mostrar pra todo mundo. Obrigado ao amigo Gerson pela lembrança…

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  3. Cláudio, entendo seu ponto de vista, mas prefiro aguardar os nomes que a diretoria pretende trazer ao Remo. De todos até agora, só me opus a Rubram…

    Quanto a Válter, é como te disse…Bom técnico, melhor que Guerreiro, mas prefiro que permaneça como “manager” das categorias de base. Técnico aqui em Belém não dura e Válter tem sido substancial no preparo dos jovens que ingressarão na equipe principal.

    Pro Profissional, Davino é um excelente nome. Aliás, o time campeão da Série C teve uma base montada por Válter (Landu, Magrão, João Pedro…) e foi incrementada por Davino (Rafael, Carlinhos, Boleta, Maurilio e Capitão).

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