Por Gerson Nogueira
O futebol passa ocasionalmente por mudanças, tanto quanto à forma de jogar quanto sobre o estilo dos jogadores. Ao longo de mais de 100 anos, o jogo sofreu incontáveis evoluções e outras tantas regressões, mas continua apaixonante porque tudo se concentra na figura do craque, o atleta diferenciado capaz de fazer com que o esporte alcance níveis de grande arte.
Nos últimos tempos, como várias outras modalidades, o futebol passou a ser visto como um esporte essencialmente de jovens, sem espaço para veteranos. Essa ideia ganhou força desde que o avanço do preparo físico se tornou parte indissociável da estruturação de um time.
A curva no sentido de valorizar atletas de alto rendimento passou a ficar bem clara em 1970, sendo que o Brasil teve papel decisivo na consolidação das modernas técnicas de preparação, a partir do elogiado planejamento para enfrentar a altitude da Copa do México.
Durante os jogos daquele mundial, os times europeus sofreram com as altas temperaturas das cidades mexicanas no horário dos jogos e o Brasil beneficiou-se da esmerada técnica de seus craques aliada ao fabuloso fôlego garantido pelos métodos de sua comissão de preparadores físicos.
Desde então, o futebol nunca mais seria o mesmo. As Copas seguintes (notadamente as de 1974, 1982, 1994 e 2006) mostraram uma exuberância do condicionamento físico, tendo até, em alguns casos, prejuízos quanto à qualidade técnica das equipes.
Curiosamente, o processo de valorização da juventude no futebol não sufocou a experiência, patrimônio cada vez mais respeitado no primeiro mundo da bola. Grandes times europeus sempre têm espaço para veteranos. Desde que a idade venha acompanhada de um selo de qualidade. Significa que enquanto houver bola rolando craque sempre terá espaço, mesmo que não seja mais um garotinho.
O atual Campeonato Brasileiro é prova viva dessa realidade. Os destaques do primeiro quarto da competição são jogadores maduros, alguns em idade quase de aposentadoria, mas que se mantêm ativos pela qualidade da preparação usada hoje e a disciplina que só grandes atletas conseguem ter.
Alex (Coritiba), Seedorf (Botafogo), Zé Roberto (Grêmio) e Juninho Pernambucano (Vasco) personificam essa geração de dinossauros que teima em não vergar ao peso da idade. Subvertem, com dribles e gols, a lógica vigente de que o mundo é dos jovens.
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Um legítimo fenômeno paraense
Depois de três medalhas de ouro ganhas durante a semana no Mundial de Atletismo Paralímpico de Lyon, na França, o paraense Alan Fonteles já é observado pelo mundo como nova sensação das pistas, tomando um lugar que um dia já foi do sul-africano Oscar Pistorius.
Na última sexta-feira, Alan venceu nos 400 metros, que não é sua prova preferida e é considerada uma das mais duras para atletas paralímpicos, e alavancou o cartel brasileiro na competição – agora em 14 vitórias, superando os números de 2011. Mais que isso: o talento paraense empurrou o Brasil para o segundo lugar geral, atrás apenas da Rússia. Mesmo que não supere a potência europeia, esta já é a melhor participação nacional.
E isso se deve ao grande momento de Alan, que no domingo passado bateu o recorde mundial dos 200 metros da categoria T43 (biamputados das pernas), quebrando marca de Pistorius. Transpôs a linha de chegada com o tempo de 20s66. Na terça, voltou a correr e venceu nos 100 metros.
Ontem, Alan tinha chances de ganhar outra medalha, a do revezamento 4×100 metros. Independentemente do resultado final, já há um consenso: o atletismo paralímpico tem uma nova estrela de primeira grandeza. Orgulho do povo paraense.
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Bola na Torre
Julio César Emmel, respeitado consultor em projetos de sócio-torcedor e atual responsável pelo Programa Sócio Bicolor, é o convidado desta noite do Bola na Torre (RBATV). Guilherme Guerreiro apresenta, com participação de Valmir Rodrigues e deste escriba baionense. Começa logo depois do Pânico na Band, por volta da meia-noite.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 28)