A medicina e o Brasil real

Por Roberto Amaral

A sociedade de classes se manifesta no serviço médico: para os muito pobres, nenhum médico; para os muito ricos, hospitais de ponta

A furiosa campanha corporativista dos médicos contra a vinda de colegas estrangeiros procura alarmar o país. No entanto, a atração de profissionais do exterior é prática antiga a que muito devem os Estados Unidos, a Rússia e muitos outros países. Não podemos ceder a essa manifestação de egoísmo classista, sob pena de ofender os direitos básicos da grande maioria de nosso povo, principalmente quando se sabe que um dos gargalos do nosso desenvolvimento é a carência de mão-de-obra qualificada.

Pesquisa do Ipea, realizada com 2.273 pacientes do SUS, mostrou que a falta de médicos é o principal problema de 58% dos brasileiros dependentes da rede pública. Temos algo como 300 mil médicos no exercício da profissão e 700 municípios (15% do total) sem um único profissional de saúde. Em outros 1,9 mil municípios, “3 mil candidatos a paciente disputam a atenção de menos de um médico por 30 segundos por pessoa”! (IstoÉ,10/07/2013).

O Brasil possui a vergonhosa média de 1,8 médicos por mil habitantes. Nossa vizinha e sofrida Argentina, 3,2; Portugal e Espanha, em crise, 4. Não citarei cifras de Cuba. Mesmo essa média é enganosa, pois, se o RJ possui 3,4 médicos por mil; SP 2,49 e MG 1,81; o Acre tem 0,94 médico por mil; o Amapá, 0,76; o Pará, 0,77; o Piauí, 0,92; o Maranhão, 0,58 (!); Amazonas, Bahia, Ceará e Tocantins têm 1 médico por mil habitantes (IBGE. 2012, CFM), o que evidencia a má distribuição dos médicos pelo nosso território. A propósito, das 130.000 vagas oferecidas a médicos pelo serviço público nos últimos 10 anos, apenas 90.000 foram preenchidas.

Mas o dr. Kalil, o médico da Corte e dos afortunados, é “terminantemente contra” a vinda de médicos estrangeiros porque, para haver medicina, é preciso haver “hospital bem estruturado” (FSP, 10/07/2013). Mas o que é, na realidade brasileira, ‘um hospital bem estruturado”? Não explica e ficamos sem saber.

O cerne da crise da assistência médica, no Brasil, não está, lamentavelmente, apenas, no minguado número de médicos, e na sua precária distribuição. Está, antes, na própria qualidade da formação médica, a começar pela ausência das cadeiras de ética e deontologia na grande maioria dos cursos. O formando de hoje é  ‘treinado’ para transformar a residência em especialização da subespecialização ditada pelo mercado, e ter seu consultório particular, se possível fechado aos que ainda podem pagar planos de saúde. SUS, ora isso é nome feio.

image_previewNa verdade, a sociedade de classes se manifesta em sua dramática injustiça no serviço médico de um modo geral: para os muito pobres, médico nenhum; para os pobres, os médicos formados em cursos privados, muitos deles ‘cursos de fim de semana’. Para a classe média os médicos com residência e especialização, os que aceitam os planos de saúde. Para a alta classe-média e a pequena burguesia, os médicos formados nas escolas públicas, quase sempre com bolsa de iniciação científica pública, com residência (com bolsa de estudos fornecida por entidade pública) em bons hospitais (embora os hospitais-escola estejam em crise e os, demais, como as Santa Casas e quejandas sejam péssimos), e mestrado, especialização e doutorado (com bolsa de estudos do CNPq, da Fapesp ou da Faperj ou de alguma outra agência estadual) no exterior, de preferência. Para os ricos ou membros da ‘nova classe’, os Sírio Libanês, os Einstein ou… Boston.

O leitor se deu conta de que entre os hospitais brasileiros de excelência não se mencionam mais os públicos? Talvez a única exceção sejam o Incor em São Paulo (hoje uma fundação) e o Inca no Rio, ambos sempre a braços com crises financeiras.)

O formando em medicina, principalmente em universidade pública, nas quais, em regra, os cursos são bons, é preparado psicológica e eticamente para trabalhar num Sírio Libanês, tendo ao seu lado equipamento de última geração e alimentando a expectativa de fama profissional. Eles vivem nos seriados tipo Dr. Kildare ou House. Não é só Brasília que ignora o Brasil real. Do alto de seu prestígio, o cardiologista oficial da Corte, com a bata de doutor do Sírio, nos diz que o mais importante não é médico, mas equipamentos. Mas, de que servem equipamentos sem médicos? E diga-nos esse doutor, qual país do mundo, incluindo os EUA e as maravilhas sociais dos países escandinavos, pode oferecer condições ideais de trabalho para seus médicos e atendimento médico universal gratuito fundado na parafernália eletrônica? E quando poderá este país de 200 milhões de habitantes e mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados assegurar hospital para todos os brasileiros e para todos os brasileiros a ciência médica praticada no Sírio? Condições de trabalho, queremos todos, não só os médicos, querem os motoristas de ônibus, os advogados que enfrentam uma Justiça que não funciona, os enfermeiros que sofrem nas mãos de médicos, os engenheiros, os agrônomos, os operários de chão de fábrica, os professores, sem salários, sem laboratórios, sem transporte, toda gente. Melhoria do transporte coletivo é também melhoria das condições de trabalho. Isto não é pleito de uma classe, mas exigência de uma sociedade em busca de progresso que depende de seu enriquecimento e simultânea distribuição de renda.

Pergunto ao dr. Kalil: quem foi esse senhor dos fatos que decidiu que só uns poucos, essa minoria da minoria privilegiada, tenham direito à sua clínica cardiológica, e os outros não tenham direito a clínica nenhuma, porque seus médicos esperam hospitais “adequadamente aparelhados” etc. etc.? No sertão, um estetoscópio e um aparelho de tomada de pressão arterial já salvam vidas.

Afinal, o dr. Kalil, bom médico que é, deve ter cedo aprendido que medicina é diagnóstico, e que, mesmo sem dispor do precioso auxílio de equipamentos (não que os dispensemos) e de exames (que não que os dispensemos), o bom médico é capaz de, ao menos, dar conforto aos seus pacientes e, sempre que possível, levá-los à cura. A alternativa ao médico nenhum é o curandeirismo, a indicação do balconista da farmácia, a indicação do vizinho…

O Brasil real não é aquele oferecido pelos hospitais Sírio Libanês ou Einstein, que não são, sequer, a realidade da capital paulista. O  Brasil real é o Brasil da periferia de Rio, de São Paulo e de todas as capitais, para não falar do Norte de Minas Gerais, do semi-árido nordestino, do vazio do Centro-Oeste, da Amazônia inóspita. O Brasil real não pede especialistas em subespecialidades, nem carece de ‘máquinas de última geração’ para fazer partos, tratar disenteria, consertar uma perna quebrada, aliviar um mal-estar, diagnosticar uma tuberculose, uma cardiopatia, uma ‘barriga d’água’… Precisa, sim, de clínicos, milhares de clínicos e generalistas, que tenham tempo de conhecer seus pacientes. Pergunta-nos para em seguida responder o dr. Adib Jatene: O que queremos de um médico? Que ele saiba diagnosticar o que você está sentindo. Que ele saiba analisar a sua dor, a febre, sem precisar de tecnologia (OESP, 09.07.13). O resto é o resto: corporativismo de quinta categoria.

Diz ainda o dr. Jatene, a quem devoto respeito, que, onde tem hospital tem médico. Invertendo o juízo ficamos sabendo: onde não há hospital, não há médico. Donde a solução ser construir hospitais e tê-los, e mantê-los de alta qualidade em todos os municípios do Brasil. Evidentemente, se possível privados, e se possível de padrão próximo ao do Sírio Libanês. Quando isso será possível? Digamos, otimisticamente, que daqui a 50 anos. E até lá? Admitamos, só para raciocinar com os doutores, que já tivéssemos hoje esses hospitais. Onde iríamos buscar os médicos? Hoje, formamos 18 mil médicos ao ano, o que não atende nem à demanda, nem à qualidade, nem assegura distribuição para o interior.

Saberá o dr. Kalil que o Brasil possui 5.570 (número que vai aumentar brevemente) municípios, alguns com população maior que a de vários países do mundo (SP capital tem 12 milhões de habitantes), e alguns, como Altamira, no Pará tem território quase duas vezes maior que o de Portugal? Saberá que Roraima tem 15 municípios e Minas Gerais 853? Saberá de que Brasil está falando?

Que fazer?

O Dr. Jatene responde. Investir, no curto prazo, na ‘importação’ de jovens médicos estrangeiros, submetidos a reavaliação, e na formação complementar de dois anos, porque hoje formamos apenas médicos candidatos à residência médica – que formam especialistas – e esses médicos não vão atender às nossas necessidades, pois precisamos de médicos para atender à população sem necessariamente ter de usar a tecnologia. Essa formação complementar seria focada em urgência e emergência. É preciso investir na formação para que esse profissional vá trabalhar dois anos no atendimento básico da população do Estado em que se formou. Temos faculdades de Medicina em todos os Estados. Todos. Só que os médicos se formam e não ficam em suas cidades, eles vêm fazer residência no Sul e no Sudeste (OESP, idem.).

E no Sudeste ficam.

A medida, vou mais adiante, deveria valer para todos os profissionais formados em escolas públicas ou, se em escolas privadas, com bolsa de estudo público. O concludente ou saldaria o custo do investimento público ou permaneceria dois anos à disposição do Estado, que indicaria, atendendo evidentemente à sua formação acadêmica, onde iria trabalhar. Depois disso, vá ser rico onde quiser.

20 comentários em “A medicina e o Brasil real

  1. “NO SERTÃO ESTETOSCÓPIO E UM APARELHO DE VERIFICAR PRESSÃO JÁ SALVAM VIDAS” -> FAZ ME RIR!

    Tem uns caras que querem escrever bonito, fazer juizo de opinião, mas pensam que a gente é idiota, só pode…

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  2. Este artigo, de alto a baixo, desenganadamente é o reconhecimento de que o problema da saúde no Brasil é falta de gestão e de vontade política, pra dizer o menos.

    Pior que os médicos estão se deixando vilanizar pela campanha do governo e de seus propagandistas. Isto é, não estão conseguindo neutralizar a estratégia governamental que vem sendo disseminada pelos marqueteiros, segundo a qual, toda a reação não passa de elitismos corporativista.

    Quer dizer, agora, quinhentos e treze anos de desgoverno é culpa dos médicos que não querem ir ao interior salvar vidas auscultando, verificando pressão e confortando os pacientes.

    A propósito, independentemente da reação dos nacionais, a decisão pela vinda dos médicos estrangeiros já foi tomada, e, não tarda, eles já estarão por aqui.

    Quer dizer, me parece que a questão alusiva a liberar ou não liberar a vinda dos médicos estrangeiros já está superada. Agora só está servindo de propaganda para uma ilusória diligência do governo frente a um suposto insensível corporativismo dos médicos.

    Quero ver qual vai ser a desculpa do governo quando os gringos também começarem a reclamar ou o que é pior se mostrarem impotentes diante da grandiosidade do problema.

    Deus nos livre a todos, na cidade e no interior.

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    1. Amigo Oliveira, você tem certeza de que é a apenas marketing a imagem corporativista extremada da classe médica? Francamente, falando assim parece até não viver no Brasil. A realidade é que está se buscando politizar ao máximo uma questão de necessidade pública. Saúde é fundamental e o governo tem obrigações em relação a isso. Se a gestão pública é falha – e isso não é de agora – o problema tem que ser atacado e um dos itens mais críticos é o da falta de atendimento médico. Qual a dificuldade em entender que, como não há médicos em quantidade suficiente, é necessário importar profissionais da área? Tucanos e conservadores em geral resolveram distorcer a providência, prendendo-se ao detalhe da vinda dos médicos cubanos, tornando uma questão de saúde em problema ideológico. E o mais esquisito é que, há 13 anos, José Serra fez a mesmíssima proposta e olhe que o problema era bem menos angustiante do que é hoje.

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  3. Procura um advogado na defensoria pública, meu caro gleydson. Democracia é assim mesmo, uns pró e outros contra. Mas ao final tem-se que chegar a um consenso. Agora obrigar médicos a aceitar as treslouquices de momento para esconder a queda de popularidade de governo é burrice. Pois isto já foi tentado em outra oportunidade com outro nome(Programa de interiorização de médicos) e não deu certo. “Errar é humano, mas persistir no erro é burrice”. O precisamos são ações de governos nas três esferas para que possam distribuir renda, ciência, tecnologia, profissionais das mais variadas categorias, e tudo que você possa imaginar para melhoria da qualidade de vida dos brasileiros. Se vão com mais médicos, deveriam criar o mais advogados, delegados, farmacêuticos, enfermeiros, dentistas, policiais, etc, etc, etc… Você pensa que é dentista que ‘arranca’ dentes por esse in terior? Aqui perto da gente um farmacêutico que as vezes nem mora na cidade é responsável técnico de até 5 farmácias? que em outros não tem enfermeira? Não é obrigando ninguém, nem oferecendo altos salários que governo nenhum vai manter profissionais de qualquer área em municípios distantes e nas periferias das grandes cidades. Vai ser médico na comunidade do Paraisópolis em São Paulo, na Rocinha, na Terra Firme, Jaderlândia, com a segurança que esses governos oferecem. O debate é amplo,profundo e interminável. Esse governo poderia criar o ministério do Mais médicos (bastaria acabar com a metade dos 40 atuais) e usar somente os cargos comissionados ( uns 20.000) e sair nomeando médicos para todos os rincões do Brasil. NNem assim resolveriam o problema. O problema é de reorganização do estado, que passa pela reforma política, que nenhum político deseja ou pretentde fazê-la. Foi o 1º engodo usado pelo governo para desviar a atenção do povo( o tal plesbicito).

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    1. A classe dos médicos, amigo Maurício, só se mobiliza historicamente para tratar de seu próprio umbigo. Não nos iludamos. O interior do país precisa, sim, de médicos, assim como carece de estrutura adequada, mas há necessidades pontuais que necessitam de um simples atendimento ou orientação. O Pará tem 0,70 médicos para cada agrupamento de 1.000 habitantes, números idênticos aos da África. Mas, apesar desse quadro em vários Estados brasileiros, a categoria se fecha em torno de seu próprio casulo, criticando tudo que é proposta e lhe desagrada. Claro que não chegaremos mesmo a lugar nenhum. Mas a presidenta, queiram ou não, está certa. Não governa só para médicos, mas para todos os brasileiros e tem a obrigação constitucional de atacar o problema. Incrível é que, em governos mais asfixiantes para todos, nunca se viu médico pegando em cartaz para ir à rua protestar, bancando oposicionistas militantes. Claro que para os médicos é sempre mais interessante (e lucrativo) apoiar a indústria dos planos de saúde, e o povo que se lixe, mas não podem nos obrigar a achar que o atual modelo é o correto.

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    2. A classe dos médicos, amigo Maurício, só se mobiliza historicamente para tratar de seu próprio umbigo. Não nos iludamos. O interior do país precisa, sim, de médicos, assim como carece de estrutura adequada, mas há necessidades pontuais que necessitam de um simples atendimento ou orientação. O Pará tem 0,70 médicos para cada agrupamento de 1.000 habitantes, números idênticos aos da África. Mas, apesar desse quadro em vários Estados brasileiros, a categoria se fecha em torno de seu próprio casulo, criticando tudo que é proposta e lhe desagrada. Claro que não chegaremos mesmo a lugar nenhum. Mas a presidenta, queiram ou não, está certa. Não governa só para médicos, mas para todos os brasileiros e tem a obrigação constitucional de atacar o problema. Incrível é que, em governos mais asfixiantes para todos, nunca se viu médico pegando em cartaz para ir à rua protestar, bancando oposicionistas militantes. Claro que para os médicos é sempre mais interessante (e lucrativo) apoiar a indústria dos planos de saúde, e o povo que se lixe, mas não podem nos obrigar a achar que o atual modelo é o correto.

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  4. Gerson, falo por mim. Sou concursado há 11 anos do Barros Barreto e funcionário do Gaspar Vianna há 12, dos quais, 7 como efetivo permanente por concurso público. Há dois anos, assalariado com registro em CTPS no Saúde da Mulher, sem caixa 2. Sempre em UTI, minha especialidade após quatro anos de residência. Sou filho de caboco de origem pobre de Muaná, alfabetizado na beira do rio, após anos remando rumo à casa da professora. Fizemos a mesma faculdade, UFPA, ele numa época muito melhor, como quase tudo na saúde pública. Nunca tive luxo. Não tive exemplo nem pratico medicina de planos de saúde. Entrei na iniciativa privada recentemente por seguidos convites de minha chefa. Portanto, cubano nenhum, ou qualquer forasteiro me amedronta. Mas estarei no ato previsto para segunda-feira fazendo quorum contra as medidas eleitoreiras, demagógicas, sem noção e unilaterais da Dilma. E são justamente os que militam no SUS, como eu, os mais descontentes. Sou formador, preceptor da residência em Medicina Intensiva do HC e não posso ficar imóvel vendo tudo piorar, ao ponto de ao assumir o plantao há pouco no HUJBB, deparar-me com um aviso de paralisação dos residentes da Cirurgia por falta decondições de trabalho. Onde? Em plena “metrópole da Amazônia”.

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  5. Meu velho amigo de EB Maurício, o povo não precisa somente de médicos. Precisa de cidadania.O Brasil precisa até da interiorização de jornalistas. Estes também deveriam ir para estes rincões com caneta e papel somente.

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  6. Não pensem que serão médicos estrangeiros a preencher tais vagas. Serão brasileiros formados aos lotes em faculdades caça níqueis de brasileiros, que não se submeteram a meritocracia do vestibular obrigatório no Brasil. Formados nas coxas na Bolívia, Peru, Argentina, Paraguai. Onde estudam em apostilas e bonecos de plástico. Eu ví com meus olhos. Infelizmente é fácil apontar impessoalmente uma categoria. Felizmente o final disso todos sabemos. Passado o período da obrigatoriedade, caso essa loucura vá em frente, os municípios voltarão aos seus problemas de falta de cidadania por controle físico e mental de seus munícipes por parte daqueles de tempo em tempo vem com soluções mirabolantes dos problemas brasileiros, geralmente desviando o foco do que é mais importante a ser discutido.

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  7. Se no comentário 10 o autor admite que até na capital faltam condições de trabalho ao médico, como exigir que haja essas mesmas condições no interior mais longínquo? O atual governador construiu vários hospitais pelo interior, os hospitais regionais, com boa infraestrutura física e de equipamentos, admitamos, mas o cenário não mudou porque faltou justamente e principalmente o profissional médico. O artigo de Roberto Amaral e alguns comentários acima deixam claro que não basta ter equipamentos sofisticados para se praticar medicina. Da mesma forma, o Jornal da Band está mostrando esta semana, em uma série de reportagens, como médicos voluntários têm colaborado com a saúde pública na Amazônia, fazendo pessoas enxergar novamente por meio de cirurgias de cataratas e realizando outros procedimentos médicos necessários ao amazônida, carente de saneamento e com doenças típicas do meio. Aliás, que nessas reportagens nenhum médico se apresentar como nascido ou formado na região. São de outras regiões, a maioria oriunda do Sudeste. O movimento dos médicos é puro corporativismo, praga que assola e infelicita este país. Exemplo disso é o tal do Ato Médico, que tenta impedir ou dificultar o trabalho de outros profissionais de saúde como enfermeiros, fisioterapeutas, farmacêuticos etc. Se essa lei espúria não fosse vetada parcialmente pela Presidente, até para tomar uma injeção o cidadão teria de recorrer a médicos, como se estes estivessem disponíveis para aplicar injeção num simples mortal. Se o médico acha que se forma para ficar rico e tem de trabalhar enclausurado em seu consultório na capital, atendendo somente aquele que pode pagar seus honorários, que estude em faculdades particulares, pagando a mensalidade de seu próprio bolso. A sociedade não pode bancar a formação cara daqueles que logo depois de obterem o canudo lhe darão as costas. Quanto ao governo, é seu dever defender a sociedade e não a corporações, sejam de médicos ou de qualquer outra categoria.

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  8. Amigo Gerson, veja se eu não vivo ou não conheço o Brasil: Há um mês experimentei um severo pico de pressão. Com efeito,
    recorri a meu plano de saúde, o qual pago há 17 anos, tendo usado um única vez para uma emergência rápida e modicamente resolvida para o plano. Primeiro na emergência. Depois, seguindo orientação obtida no tratamento emergencial, busquei uma consulta. Sabe para quando havia vaga? Só para 30 dias depois. Eu então peregrinei em busca de uma em data mais breve. Debalde, trinta dias foi o menor prazo que encontrei.

    Daí, então, como não poderia esperar, me propus a pagar a consulta, para o primeiro médico com o qual tentei marcar a consulta, aí sabe pra quando a consulta foi agendada? Para imediatamente.

    Na sequencia da consulta, veio a prescrição de uma bateria de exames, entre os quais, os mais específicos, só poderiam ser feitos com mais de 20 dias depois, eis que para o plano de saúde não havia vaga em tempo mais breve. Não podendo aguardar, outra vez o trabalho teve que ser feito às minhas expensas. Depois, feito o diagnóstico, veio a receita, onde um dos remédios cruzou a barreira dos 200 e se aproximou perigosamente dos 300. E tinha que ser ele pois os genéricos não surtem o efeito desejado, inclusive porque não dão cobertura por 24 horas. Quer dizer, mesmo com um cadastro que fiz no laboratório, o preço ainda ficou uma exorbitância, máxime se levado em conta que ele será de uso contínuo.

    Agora, além do salgadíssimo valor do plano de saúde, como lembrou o Alberto, lá de Maceió, todo ano é uma cacetada de imposto de renda e de previdência social. Isso sem contar que é preciso deixar p’routas esferas de governo a título de iptu, de ipva, de icms etc. Isto é, o Estado e o governo arrecadam uma enormidade e não dão a contrapartida condigna, deixando o cidadão entregue à própria sorte.

    Agora, dá até constrangimento contar uma História destas que eu experimentei, diante de tantas outras HISTÓRIAS experimentadas por pessoas nas macas nos corredores dos PSM’s, onde não raras vezes não há socorro nem remoto, quanto mais pronto; nas ambulâncias jogados de um lado pro outro até expirarem em trânsito, na Santa Casa onde não experimentam nenhuma misericórdia do governo, no Barros Barreto onde a fila às vezes extrapola os dois meses, etc, etc, etc.

    E todas estas histórias são escritas, bem aqui, no centro da cidade, onde o que não faltam são médicos.

    Então, amigo Gerson, se você que tudo não passa de conservadorismo, e se você acredita que os monstruosos problemas do sistema de saúde brasileiro, e de dignidade no atendimento da população de um modo geral, vão ser resolvidos ou minimizados com a importação de médicos (os quais, nem farão a prova para revalidação do diploma), eu respeito, mas, me perdoe, não posso concordar jamais.

    Demais disso, não se pode esquecer que tudo na vida é político. Quer dizer, se há alguma coisa de errado na questão é que ela está sendo partidarizada, mas quem está fazendo isso, quem a está partidarizando, não sou eu.

    Lembre que este comentário que você contraditou, não foi o primeiro que fiz a respeito da questão e note que nele eu disse que este é um problema de mais de 513 anos. Isto é, bem mais antigo que este governo ruim da Dilma. E, principalmente, perceba que não isentei os médicos (todos têm sua parcela de responsabilidade, inclusive nós que somos eleitores), apenas sustentei, e reitero, que os médicos estão sendo usados pela propaganda governamental, como bode expiatório e como cortina de fumaça para a incompetência estatal (e governamental) para resolver o problema.

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    1. Respeito seu ponto de vista, amigo Oliveira, apesar de discordar frontalmente, principalmente porque observo uma cobrança demasiado grande (que jamais se fez sobre outros governantes) sobre um governo que está no poder há apenas 11 anos. Mas, enfim, vida que segue.

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  9. Amigo, tudo certo, vida que segue, mas, lembrando que 11 anos foi tempo suficiente para que o governo investisse em muitos outros setores não republicanos, reafirmo que no meu comentário anterior reconheci que os problemas no setor de saúde já são bem anteriores ao fraco governo Dilma.

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  10. É amigos, o problema é complexo. Desde já deixo claro meu posicionamento: sou a favor da vinda de médicos estrangeiros, sejam cubanos, portugueses, espanhóis, chilenos… O problema a ser levantado é o seguinte: o que dificulta, de fato, o exercício da prática da medicina no Brasil? Falta estrutura? Faltam Equipamentos? Sobra a má vontade política? Faltam Médicos? A atenção básica está definhando? Faltam condições para a realização de procedimentos de média ou alta complexidade? Os médicos tem predileção pelas cidades e seus serviços e rejeitam os rincões distantes dos país? E o corpo de saúde das forças armadas, deveria ou não ser utilizado no atendimento aos civis? Estive recentemente em Santarém e a principal reclamação dos santarenos é que no Hospital Regional do Oeste do Pará… faltam médicos. E vejam que estamos falando de Santarém, uma cidade com quase 400 mil habitantes, aprazível, boa de se viver, com serviços relativamente bons. O que dizer então de Juruti, Porto de Moz, Óbidos, Mojuí dos Campos, Belterra, Monte Alegre, que nem de longe são municípios com a estrutura similar à encontrada em Santarém?

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