“..Tão me devendo colégio, namorada, aparelho de som, respeito, sanduíche de mortadela no botequim da rua Vieira Fazenda, sorvete, bola de futebol.
Fico na frente da televisão para aumentar o meu ódio. Quando minha cólera está diminuindo e eu perco a vontade de cobrar o que me devem eu sento na frente da televisão e em pouco tempo meu ódio volta. Quero muito pegar um camarada que faz anúncio de uísque. Ele está vestidinho, bonitinho, todo sanforizado, abraçado com uma loura reluzente, e joga pedrinhas de gelo num copo e sorri com todos os dentes, os dentes dele são certinhos e são verdadeiros, e eu quero pegar ele com a navalha e cortar os dois lados da bochecha até as orelhas, e aqueles dentes branquinhos vão todos ficar de fora num sorriso de caveira vermelha. Agora está ali, sorrindo, e logo beija a loura na boca. Não perde por esperar.”
“O Cobrador” – Rubem Fonseca
Diante da atual espetacularização da violência física e social nos meios de comunicação, da inércia da justiça e do poder público, o povo (de um modo geral) se divide em duas vertentes: há aqueles que preferem fazer justiça com as próprias mãos e aqueles que olham e inertes preferem fazer que não é com eles.
E assim o Brasil vai sobrevivendo…
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Muito bom, o Rubem Fonseca !
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