Por Gerson Nogueira
A rigor, não houve futebol em Paragominas, ontem. No máximo, um duelo aquático. Mas, em meio aos chutões para driblar as poças, o PFC foi indiscutivelmente o time que mais lutou, chutou e tomou iniciativa. Por isso, venceu. Fez um gol logo no começo do segundo tempo, em chute de fora de área como tantos outros que seu ataque disparou ao longo da partida, segurando a vantagem até o final. É verdade que faltou técnica, mas sobrou vontade ao time de Aleílson. Justamente o que não se viu do lado remista, que aceitou a pressão do adversário desde os primeiros movimentos e em nenhum momento se mostrou adaptado às precárias condições do campo.
Era mais ou menos previsível que o pior jogo do campeonato seria decidido num lance isolado. O PFC levou a melhor porque compreendeu que era um confronto atípico, sem condições de explorar toque de bola ou passes curtos. Charles posicionou seus volantes Ilaílson e Paulo de Tarso de maneira a pressionar o meio-de-campo do Remo em sua própria intermediária. Com isso, ficou sempre com todos os rebotes e saiu vitorioso no embate decisivo da meia-cancha.
A saída era sempre rápida, chegando com cinco e até seis jogadores no ataque, chutando de toda e qualquer distância. Errou vários disparos, mas quando encaixava levava sempre desassossego aos defensores do Remo. O primeiro susto foi logo no primeiro minuto, quando Paulo de Tarso chutou forte, a bola estourou na trave e no rebote foi tocada para as redes, mas o lance foi invalidado por impedimento. Ficou, porém, a imagem de agressividade que iria prevalecer ao longo dos 90 minutos.
Pode-se dizer que na pelada disputada na Arena Verde, marcada por ligações diretas e balões, o triunfo sorriu para quem teve estabilidade para dominar a bola e disposição para agredir. Nas circunstâncias, a vontade faz uma enorme diferença. Jogadores como Cristovão, Sam, Marquinhos e Maraú, acostumados ao clima da região, equilibravam-se melhor e saíam sempre em vantagem nas divididas. Detalhe que acabou pesando nos momentos de indefinição.
O técnico do Remo, Flávio Araújo, havia justificado a volta ao 3-5-2 alegando que o 4-4-2 deixava o time muito exposto. Curiosamente, o esquema de três zagueiros deixou a equipe ainda mais vulnerável, como ocorreu ao longo do primeiro turno. Sem ligação, apesar da presença do meia Clebson, o Remo tentava sair rápido, mas esbarrava nas dificuldades impostas pelo campo alagado. Durante todo o tempo, os jogadores insistiam em tocar rasteiro e usar passes curtos, justamente o que o adversário evitava. Não podia dar certo.
Os dois atacantes de área, Branco e Val Barreto, não recebiam cruzamentos e tinham que se virar diante da dura marcação dos zagueiros. Barreto, para conseguir jogar, virou ala em certos momentos e até zagueiro em algumas situações. O já citado Clebson se perdeu em tentativas confusas de transição, que nada acrescentaram. Perdia sempre a primeira bola e não tinha recuperação para recuperar a segunda, sendo completamente envolvido pelos volantes do PFC.
Depois de levar pressão na maior parte do tempo, Araújo tentou mudar o som da viola, voltando ao 4-4-2 com a entrada de Leandro Cearense em substituição ao zagueiro Henrique. Era tarde, porém. O time foi à frente, trocou jogadas em velocidade, mas faltava a chegada em condições de chute. Nesse quesito, mesmo precariamente, o PFC foi sempre superior e conduziu o jogo sem maiores atropelos até o apito final.
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Técnico ensaia discurso do adeus
A conversa do técnico Flávio Araújo depois do jogo sinalizou para uma despedida. Disse que iria refletir sobre sua permanência, o que é senha para pular fora. Se a diretoria aceitar, estará dando um tiro no escuro. Araújo não conseguiu dar consistência tática ao Remo, insistiu teimosamente num time sem meio-campo criativo e hoje colhe os frutos desse equívoco. Apesar disso, por coerência, o clube deveria mantê-lo. Até porque, a essa altura, se está ruim com ele, ficará certamente muito pior sem ele.
Não creio em boicote dos jogadores. Prefiro atribuir os maus passos do Remo a um reflexo natural do desgaste (inclusive físico) gerado por um time que não valoriza a posse da bola e não sabe fazer transição. Com isso, perdem-se os trunfos ofensivos e a segurança defensiva. Em Paragominas, em situação atípica, o desempenho foi abaixo de crítica porque o Remo não se impôs. No turno, em Marabá, em condições parecidas, o time teve outra postura e venceu.
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(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 22)