Depois de um bom período sob domínio dos grandes da capital, o campeonato de repente ficou embolado. A esta altura, no primeiro turno, já restavam apenas três vagas disponíveis nas semifinais. Agora, não. Todas as quatro vagas seguem em aberto. Paissandu, com 10 pontos, e Remo, com 9 pontos, seguem à frente, mas sem uma diferença segurança em relação aos demais times. Tuna, PFC e Santa Cruz têm 6 pontos, com possibilidades concretas de encostar e até ultrapassar os grandes da capital. O Águia, com 5, ainda alimenta esperanças de chegar e até mesmo o combalido campeão do ano passado, o Cametá, com 4 pontos, tem direito a sonhar. Apenas o São Francisco, ainda sem pontuar, está fora do páreo. Conserva chances matemáticas mínimas, mas a dura realidade da competição indica o contrário.

O Paissandu precisa de mais três pontos para confirmar classificação. Não deverá ter muitos problemas para passar por Cametá, Tuna e Santa Cruz. Ao cabo desses compromissos, deve ter selado presença nas semifinais com relativa tranquilidade. O Remo, até pelos efeitos traumáticos da derrota no clássico, terá trajeto menos confortável. Sai para enfrentar PFC e São Francisco, fechando contra o Águia no estádio Baenão. Terá que se acautelar para não complicar uma classificação que parecia líquida e certa, nem permitir ao Paissandu se distanciar na pontuação geral.
Mais pelos tropeços dos grandes do que propriamente por seus méritos, os emergentes têm a última chance de mudar a história de um campeonato que parece destinado a ser uma disputa particular entre os velhos rivais. O perde-e-ganha entre os cinco que buscam chegar às semifinais não permite apontar favoritos. Pelo retrospecto, o PFC tem mais envergadura técnica para se classificar. Tuna e Santa Cruz oscilaram demais ao longo dos dois turnos, tornando arriscado fazer qualquer previsão, embora o time de Cuiarana tenha a seu favor o fato de contar com elenco mais numeroso e experiente.
A Tuna, que passou a ideia de que poderia ser a sensação da segunda fase do campeonato, naufragou em seus próprios erros ao permitir a virada em Cametá. Sofre com a ausência de peças de reposição e a inexperiência de grande parte do elenco. Sua rota não é das mais tranquilas. Joga contra o lanterna São Francisco no Souza, disputa o clássico com o Paissandu e enfrenta o PFC na Arena Verde.
Terceiro colocado na classificação geral, o PFC é o melhor dos emergentes. Tem um dos artilheiros da competição, Aleílson, e uma equipe que não engrenou ainda depois que Charles Guerreiro assumiu o comando. Recebe o Remo, sai para encarar o Águia e fecha a fase classificatória contra a Tuna em Paragominas.
O Santa Cruz é o grande enigma do Parazão. Investiu alto na contratação do veterano Fumagalli, mantém folha salarial superior à do Remo e equilíbrio financeiro que beira a mágica (não tem patrocínio, nem grandes arrecadações), mas exibe futebol indigente e instável. Para o tamanho do investimento de seus “padrinhos”, continua devendo. Nas próximas rodadas, receberá o Águia, visita o Cametá e desafia o Paissandu no Mangueirão.
O Águia, pelo histórico de aguerrimento, é um postulante que não pode ser menosprezado. Depois da goleada frente à Tuna na abertura do returno, o time tomou jeito e começou um processo de recuperação. Terá, porém, dificuldades sérias ao projeto de ir às semis. Joga duas partidas fora de casa (Santa Cruz e Remo) e recebe o PFC em Marabá. Está no páreo.
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Fim da lua-de-mel no Baenão
A torcida do Remo, que vinha se comportando apaixonadamente ao longo do campeonato, proporcionando os melhores públicos da competição, parece ter decretado o fim da relação amistosa e já começa a protestar contra o time. A gota d’água foi, mais que a segunda derrota seguida para o maior rival, a apatia da equipe durante o jogo de domingo. Torcedor quer ver luta, disposição e entusiasmo de seus jogadores. Pode até perder, mas jamais se entregar ao derrotismo. No último clássico, ficou visível o desânimo de vários atletas depois do terceiro gol do Paissandu.
Em entrevista depois do jogo, o técnico Flávio Araújo não contemporizou. Lamentou que a atuação tenha sido prejudicada pelo individualismo de alguns jogadores. Levando-se em conta que o meia-armador Tiago Galhardo e o atacante Fábio Paulista são os que mais buscam jogadas individuais, o recado parece ter sido endereçado diretamente a eles. O risco desse tipo de posicionamento do treinador é a fritura interna e a vulnerabilidade perante o torcedor. Até o momento, o elenco remista tem se mostrado blindado, sem qualquer sinal de fissura na relação com o técnico e os dirigentes.
As derrotas costumam botar à prova o grau de união entre jogadores e a obediência aos técnicos. Poucos esportes são tão suscetíveis à competitividade e a intrigas quanto o futebol. Chega a ser uma proeza manter tantos profissionais em harmonia diante da disputa por espaço, popularidade e exposição na mídia. Araújo, que indicou a maioria dos atletas, precisa ter serenidade para absorver as críticas sem expor seus comandados.
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Ingressos para o jogo do ano
Atento ao fato de que o jogo contra o Flamengo na abertura da Copa do Brasil será seu principal evento na temporada, a diretoria do Remo acertadamente optou por majorar o preço dos ingressos. Cobrará R$ 50,00 pela arquibancada e R$ 100,00 pela cadeira. Como a venda será antecipada, depois de firmado acordo com firma especializada em organização de jogos e venda de ingressos, tudo indica que o Mangueirão receberá lotação máxima. Torcedores vindos do interior e de outras capitais reforçam essa previsão.
Aos que criticam a elevação do preço, é preciso observar que os clubes dependem dessa receita para reforçar o caixa. A afortunada coincidência de cruzar com o Flamengo logo na primeira rodada da Copa do Brasil permitiu ao Remo planejar com boa antecedência a melhor maneira de lucrar com o jogo. Não há outro caminho.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta terça-feira, 19)