Por Gerson Nogueira
Meu amigo-irmão Nelson Gil, em conversa pós-clássico, levantou uma teoria que, de tão interessante, resolvi partilhar com os habituais 27 baluartes da coluna. “O fato de o Clube do Remo ser formado por 99,9% de ‘estrangeiros’ não diminui a responsabilidade de jogar com Paissandu, Cametá ou qualquer outra equipe local?”, propõe Gil, que foi um razoável goleiro nos tempos de juventude.
É uma possibilidade, pois é evidente que o Remo joga neste campeonato como se não se preocupasse muito com os concorrentes. Entra em campo e se comporta do mesmo jeito, seja no Baenão, Mangueirão ou Parque do Bacurau. Claro que, a princípio, a idéia de encher um time de forasteiros (a exceção é o volante Endy) parecia arriscado demais.
No Re-Pa essa inédita condição chegou a ser vista com temeridade pelos azulinos, preocupados porque nenhum de seus jogadores havia disputado o principal clássico do Norte. O sucesso em campo desfez todas as desconfianças, mostrando que o empenho e a aplicação do time superaram qualquer desconhecimento sobre o adversário e a própria história do jogo.
A impressão é de que, aliado ao esquema tático executado com disciplina quase militar, os jogadores não se impressionam com velhas cábulas, tabus ou escritas. O que interessa a Galhardo, Rech, Val Barreto ou Paulista se o Remo não vencia o Paissandu desde 2011? Ou tem algum efeito sobre Fabiano, Zé Antonio e Nata se o Cametá calou mais de 35 mil remistas no Mangueirão na última decisão do Parazão?
Sobre esses jogadores, quase todos recrutados em times medianos do Nordeste, aparentemente a desmemória tem tido efeito positivo. Se o passado é negativo, melhor não lembrar – ou não saber –, diz a lógica mais rasteira. A situação certamente envolve também o técnico Flávio Araújo, também um neófito em assuntos do futebol paraense.
Sem compromissos ou traumas, todos tenderiam a render melhor, indiferentes ao adversário que tenham pela frente. Enfim, é apenas uma tese, mas digna de avaliação. O jogo de hoje com o PFC Paragominas pode confirmar ou não se as coisas funcionam assim.
O certo é que Araújo, coerente com o esboço inicial de time, preserva o 3-5-2, com a vantagem de ter o ex-reserva Mauro ao lado de Rech e Zé Antonio na zaga em substituição a Henrique. Quem acompanha os treinos do Remo garante que Mauro é mais técnico e seguro que o ex-titular. De fato, no Re-Pa, a troca deu mais consistência à defesa.
Além da troca vantajosa no sistema defensivo, a escalação traz outra alteração. Gerônimo, que também entrou no clássico, substitui Tony e Endy será aproveitado como ala direito, credenciando-se como o mais polivalente do time até agora.
Pelo futebol apresentado nas quatro rodadas anteriores, o Remo deve repetir a fórmula de se defender ferrenhamente e procurar partir em velocidade ao ataque sempre que retoma a bola. Às vezes, aceita o domínio do adversário, mas leva vantagem pela eficácia nas finalizações. A dúvida é saber até quando a fórmula simples e certeira continuará dando certo.
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Vidal e a façanha de Indianápolis 87
A morte de Ary Vidal, uma das legendas do nosso basquete, ensejou ontem uma entrevista de Marcel, craque daquele timaço dirigido pelo técnico no Pan-Americano de Indianápolis, em 1987. Ao lado de Oscar, Marcel foi fundamental na espetacular virada que levou à histórica vitória sobre a seleção norte-americana, até então invicta em competições realizadas dentro dos EUA.
Marcelo contou que naquela partida, na qual o Brasil perdia por 14 pontos até o intervalo, o que mudou o eixo das coisas foi a visão que os jogadores brasileiros tiveram do vestiário americano. Já havia bolo comemorativo ao título pan-americano, com direito a faixas e até o telefone que seria usado para que os futuros campeões falassem com a Casa Branca.
A cena, reveladora do menosprezo dos americanos pelo time brasileiro, fez disparar o gatilho que empurrou Oscar & cia., sob a batuta de Vidal, ao triunfo consagrador em quadra. Não esquecendo que naquele quinteto ianque despontavam astros como Alonzo Mourning e David Robinson. Anos depois, Vidal seria treinador de basquete do Remo por uma temporada.
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Providências para PSC x Tuna
Carlos Silva, diretor de Segurança do Paissandu, avisa que, devido ao aniversário do clube no próximo sábado, a entrega de gratuidades, venda de meia-entrada e atendimento aos ambulantes para o jogo contra a Tuna serão antecipados. Os idosos poderão receber gratuidades na quinta-feira, 31, das 8h às 10h (pelo portão de saída da travessa do Chaco).
Já a venda de meia-entrada para estudantes ocorre na sexta-feira, 01, das 8h às 10h, na bilheteria da travessa Curuzu com avenida Almirante Barroso. Quanto aos ambulantes – cadastro, pagamento de taxa de serviço e venda de ingresso –, o atendimento será feito de quarta até sexta (30, 31 e 1 de fevereiro), das 14h às 18h, na Curuzu.
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Múltiplas explorações da tragédia
Beira a sabotagem pura e simples a tentativa de vincular a tragédia de Santa Maria às condições de segurança para a Copa do Mundo de 2014, levada a cabo por alguns veículos de imprensa do Sudeste, reverberando noticiário de jornais ingleses e espanhóis, notoriamente críticos em relação a países de Terceiro Mundo. Não por acaso, praticamente toda semana, o tradicional Financial Times dedica-se a criticar a política econômica brasileira.
O problema não está na má vontade histórica dos gringos, mas na sabujice explícita de brasileiros que ainda não entenderam (ou fingem não ver) a verdadeira sentido de sediar uma Copa do Mundo. Quem esteve na Alemanha (2006) e na África do Sul (2010) sabe o quanto o evento modifica, para melhor, a vida das pessoas. É burrice ignorar o fato.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quarta-feira, 30)