Por Gerson Nogueira
Pequenas verdades precisam ser ditas, repetidas vezes, sobre a realidade do futebol no Pará. Pela insistência talvez seja possível avançar ou faça com que alguma alma de bom samaritano resolva tomar a atitude necessária. É duro dizer, dói às vezes, mas o certo é que os clubes continuam a atirar a esmo, arriscando sem planejar, mirando em resultados sem investir em gestão moderna.
O mundo da bola se profissionalizou, mas as diretorias de Remo e Paissandu continuam a agir como amadoras. Não adianta nada ficar culpando os dirigentes atuais. Não são piores que os outros, têm apenas uma dose maior de responsabilidade por reprisarem erros antigos sem procurar uma saída.
Às vezes, a faísca da sorte cai do lado de cá e acontece um milagre. Foi assim que o Paissandu virou campeão dos Campeões e, por tabela, chegou à Libertadores. Iludidos com essas conquistas fortuitas, nossos grandes clubes não saem do círculo vicioso: contratações de jogadores a rodo, apostando no escuro e esperando que o milagre de 2002 se repita.
Os técnicos se revezam, passando entre dois e três meses (é a média dos últimos cinco anos) por aqui e depois partindo sem deixar herança ou saudade. Que ninguém culpe os treinadores, eles são convidados e encontram aqui estruturas capengas e viciadas.
No fundo, ninguém se compromete com mudanças. Poucos são os verdadeiros baluartes, sinceramente preocupados em contribuir para o soerguimento dos clubes. Em geral, chegam cheios de boas intenções mas desprovidos de grandes ideias. O problema é que a maioria só está interessada em sugar benefícios, satisfazer projetos políticos pessoais, obter faturamento fácil ou apenas surfar na exposição midiática.
Virou folclore, mas continua a exigir a figura do dirigente meteoro, que se envolve com o clube por ciclos, empreende uma carreira interna e às vezes chega à presidência. Quando se imagina que o ardor clubístico dará lugar a um trabalho enxuto e modernizante eis que a coisa se resume a pinimbas domésticas, que só atravancam o avanço administrativo e dividem o clube em facções que se digladiam entre si.
O torcedor, vértice mais poderoso (e amador) da equação, é o único a contribuir para o engrandecimento do clube, pois comparece sempre que é motivado – às vezes, até sem qualquer atrativo ou chamariz. Padece com as mazelas dos estádios desconfortáveis, enfrenta a insegurança das ruas, a ruindade dos times e a lábia dos cambistas para exercer o legítimo direito de torcer, incondicionalmente.
Do torcedor depende a sobrevivência dos nossos gigantes, cada vez mais frágeis e empobrecidos. Só o torcedor pode salvar o futebol paraense da extinção. Mas, como agente, precisa se mexer e tomar atitudes. Não como anteontem nas arquibancadas do Baenão, quando havia o óbvio interesse em tumultuar o ambiente e pavimentar a queda de mais um treinador.
Os esforços devem ser concentrados na fiscalização das gestões e na cobrança intransigente de eleições diretas, como forma de arejar, renovar o ambiente do futebol. Os inimigos dessa participação popular no futebol argumentam com o risco de aventureiros assumirem o poder, inviabilizando ainda mais a existência dos clubes. Ora, mais do que os parasitas e acomodados de agora já fazem?
A mudança buscada chama-se democracia. Mecanismos de transparência permitem corrigir rumos, afugentar oportunistas e descobrir novos caminhos. Você pode achar que, como Lennon, sou um sonhador, mas eu ainda acredito.
————————————————————–
Andrezinho, lateral-esquerdo, e André Astorga, ex-zagueiro do próprio Remo, estariam na agenda de Marcelo Veiga para remontar o trôpego setor defensivo azulino na Série D. Astorga, na passagem por aqui há quatro anos, não foi mais que um zagueiro de atuações discretas, embora lento para a posição. De toda sorte, é bastante superior aos que o Remo reúne no elenco atual.
————————————————————–
O Botafogo venceu o Palmeiras na quarta-feira, depois de passar um primeiro tempo afundado na letargia. Parecia disputar um reles amistoso. Quando se espertou, puxado por grande atuação de Seedorf, chegou fácil aos 3 a 1, insuficientes para garantir a classificação na Copa Sul-Americana.
Depois da vitória-derrota, o técnico loroteiro seguiu teorizando sobre o nada, arranjando desculpas esfarrapadas para a ausência de agressividade nos momentos decisivos e o pouco entusiasmo inicial da equipe.
Não duvido que, daqui a algumas semanas, o Alvinegro estará entregue à rotina habitual: lutar por uma vaga na Sul-Americana do ano que vem, para disputar com a indolência habitual e sair do jeito que tem sido sempre. Isto cansa.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 24)