Até quando?

Por Daniel Malcher

Num país que pretende organizar uma das melhores Copas do Mundo da era moderna – fase esta iniciada na Copa da França em 98 e pontuada pelas exigências titânicas e faraônicas de cadernos de encargo da FIFA e dos patrocinadores do evento; de estádios modernos e de arquiterura arrojada, e por isso de alto custo orçamentário –, organizar um jogo de divisões inferiores do campeontao nacional de futebol ainda é tarefa àrdua e contumaz na arte do improviso. Além disso, em que pese a modernidade invocada pela organização do Mundial que se avizinha, em termos esportivos estamos muito longe dessa tal modernidade, e as práticas dos envolvidos pofissionalmente e passionalmente (que é o caso do torcedor) no universo do futebol brasileiro e local remontam a tempos onde talvez nem se tinha ouvido falar no vocábulo “civilidade”.

Nem quero abordar questões até desgastadas de tão criticadas que são por aficcionados do esporte bretão e pela crônica esportiva, tais como o trato com o torcedor, o princípio ativo do negócio futebol, mas que na sua engrenajem (do negócio em si) é o maior prejudicado. Que os torcedores são tratados como gado (e gado de baixa estirpe), que pagam ingressos caros para serem alojados em estádios insalubres que mais parecem pardieiros do que arenas para a contemplação de práticas esportivas todos sabemos. Mas eles (ou pelo menos alguns seguimentos da massa torcedora) estão plenamente aptos a frequentarem arenas que comportam grandes públicos em eventos como este, um jogo de futebol de grande/médio apelo? Pelo que vi ontem no Mangueirão, creio que ainda não.
Pra começo e fim de conversa: as ditas (violentas e por isso proscritas) torcidas organizadas devem ser banidas dos estádios brasileiros e paraenses! E que me perdoem o palavreado chulo, mas que vão à merda os defensores dessas hordas sádicas e que costumeiramente legitimam suas presenças nos estádios e com elas simpatizam nas redes sociais ou em qualquer papo de beira de esquina pelo simples fato de que elas “agitam” o conjunto da massa torcedora nas arquibancadas. Somente os que nunca viram de perto o que eu e muitos outros torcedores presenciaram no Mangueirão na noite da última segunda-feira podem defender estes bandos organizados travestidos de torcedores.
A maior torcida organizada do Paysandu, useira e vezeira de práticas grupais violentas (como arrastões, quebradeiras em ônibus, gritos de guerra extremamente ofensivos e que tais) invadiu um setor das arquibancadas do Mangueirão (setor no qual me encontrava acompanhado de meu irmão) “somente” para desafiar com bombas e incitações à briga a torcida organizada (rival) do Fortaleza que veio a Belém. Uma vez que a torcida visitante estava ladeada por força policial, logo o efetivo ali presente foi também alvo das incitações da turba feroz. E a polícia, como se sabe, respondeu a estas incitações valendo-se do seu expediente padrão: cacetetes, balas de borracha e outros apetrechos para inibir a fúria dos contendores. A celeuma gerou um corre-corre nas arquibancadas que deixou muita gente (os torcedores genuínos, como sempre é claro) apreensiva, tensa e receosa de que aquilo adquirisse maiores proporções. Entre essa gente, muitos casais com filhos e até senhores e senhoras de idade considerável. O mais curioso, beirando a desfaçatez, é que ao correrem da reação policial, muitos membros da dita torcida organizada riam em meio aos demais torcedores notoriamente assutados como se tivessem realizado uma proeza. E para completar, ao final da partida, alguns descerebrados tentaram atingir o árbitro com garrafas e artefatos que, se forem relatados em súmula, podem prejudicar o clube nas jornadas vindouras com a perda do mando de campo.
Naquele mesmo instante, no calor dos acontecimentos, e mesmo após o clima abrandar, fiquei a me perguntar: até quando?

Quando certas torcidas organizadas serão de fato banidas dos estádios? Quando houver uma catástrofe? Quando iremos assistir a jogos de futebol e direcionaremos nossas frustrações e mesmo nossas revoltas contra a arbitragem somente com palavras (ou palavrões, que sejam) e não tentando alvejar o mediador mesmo o pior que seja ou por mais que ele tenha prejudicado nosso time do coração? Quando aprenderemos a torcer de fato? Quando seremos mais civilizados? Será preciso recorrer à higienização dos estádios para que certas práticas sejam mudadas e a tolerância com setores violentos das torcidas de futebol tenham fim? Se assim ocorrer, todos serão penalizados, inclusive o torcedor genuíno, aquele que vai ao estádio para exercer seu ofício… que é o de torcer, pura e simplesmente.

13 comentários em “Até quando?

  1. Daniel, não arredo uma vírgula, não tiro um ponto e assino embaixo.

    Algumas coisas podem ser feitas para desarticular esse bando de marginais que se intitulam torcedores e não são:

    1 – Vontade das autoridades, impedindo-os que se concentrem em qualquer lugar do estádio;
    2 – Acabar com esse chamego de jogadores que quando entram em campo, fazem gol ou quando saem, vão reverenciar os marginais;
    3 – A própria torcida que poderia, sempre que eles se manifestassem, aplicar-lhe uma sonora vaia mostrando-lhes que não são bem-vindos enquanto quadrilha;
    4 – A diretoria tanto a do paysandu como a do rival acabar com gratuidade e outras benesses;

    Enfim, até parece que existe um conluio de todos e infelizmente até da própria torcidar do Paysandu, visando a preservação de cancer social.

    Nunca pensei que um dia fosse dizer isso: QUE SAUDADE DOS SACOS DE URINA.

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    1. O pior desses pontos elencados por você, amigo Acácio, é a promíscua relação entre alguns jogadores e essas gangues organizadas. Saem macaqueando o símbolo das quadrilhas e ignoram o verdadeiro torcedor, aquele que paga ingresso e que merece respeito.

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  2. Caro amigo,
    sabe quando vai terminar? Dia de sai nunca, pois estamos nos país da impunidade e da políticagem. Eles sempre serão “protegidos” por politicagem. Só isso

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  3. O problema não é só a torcida organizada não.
    boa parte dos torcedores não está preparada para frequentar estádios ou qualquer outro ambiente público, pricipalmente quando há grande concentração de pessoas.

    O que vi ontem no mangueirão me deixou estarrecido.
    Ao entrar no estádio fui ao banheiro antes de me encaminhar para as arquibancadas. quando entrei nem acreditei no que vi.
    Mesmo com os mictórios com espaço, várias pessoas estavam urinando nas pias.
    durante o intervalo fui ao banheiro novamente e me deparei com um monte de gente mijando nas rampas mesmo com os banheiros vazios, a menos de 20 metros de distância.

    Na saída o corredor parecia um lixão de tanta água e restos de comida, garrafas, copos, plásticos e papéis no chão.

    Um nojo.

    fico a me perguntar como foi que chagamos a um nível tão grande de falta de educação e higiene.

    Já andei em outros estádios do Brasil, mas nada se compara a imundicie que vi ontem. (não conheão mas parece que na bahia e em recife o bicho pega também)

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    1. Seu relato é extremamente fiel ao ambiente nos nossos estádios, Carlos. O torcedor precisa, acima de tudo, ser reeducado para viver civilizadamente.

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  4. Gerson e demais amigos do blog.

    Ontem fiquei estarrecido com o que presenciei no Olímpico Mangueirão. Vocês, que creio eu sejam pais, podem imaginar o desespero estampado no rosto das pessoas que estavam de mãos dadas com seus filhos, sobrinhos e até netos tentando se afastar do conflito entre os bandos organizados e a polícia.
    Aproveito também para criticar a postura de certos policiais. Muitos mal educados e grosseiros, sobretudo os policiais do efetivo equestre. Parece que esses caras vão para os jogos e recebem um treinamento digno de quem vai para a guerra. E com essa conduta, tanto o bom torcedor como o mal torcedor (sobretudo os membros das gangues da maior torcida organizada do clube) são colocados na vala comum dos maus tratos. Fiquei extremamente decepcionado ontem e talvez até me afaste dos estádios por um tempo.

    * na postagem, onde se lê “mas que na sua engrenajem” leia-se “mas que na sua engrenagem”.

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  5. A causa disso entre outras é a absurda promiscuidade entre Diretoria dos clubes que “fornecem” ingressos para as gangues organizadas, os jogadores que não se sabe o por que reverenciam estes marginais, e as consquências somos nós torcedores de verdade que saímos de casa com nossos filhos e esposa e por incrivel que pareça para assistir a uma simples partida de futebol e não sabemos se voltaremos pra casa. Enquanto isso as autoridades só olham. Valha nos quem?

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  6. É verdade que tem de acabar urgente com as gangues organizadas que se intitulam torcida nos estádios mas também é necessário também acabar com alguns comentários tendenciosos nos Jogos de grande público do Paysandu como a desse senhorJose Malcher que me parece mais um componente do Tal “fenomeno azul” . Longe de mim querer criar polêmica até porque sou um torcedor do bem , sempre fui a favor da extinção dessa terror bicolor disfarçada de fiel bicolor e sempre fui contra torcidas organizadas que incitam violência nos estadios e em qualquer lugar porque eles para mim não fazem falta, mas a verdade é que muito desses problemas causados por essas gangues tem origem no: protecionismo de dirigentes que cedem ingressos de graças por medo dessas torcidas, protecionismo de pessoas da imprensa, quando a policia toma uma medida mais energica( ja vi muitos policiais e comandantes destes denunciados por abuso de poder por pessoas da imprensa local após terem detido gangues da terror e da remoçada que estavam em guerra proximo ao Entroncamento e colocou-os com as mãos na cabeça deitados no chão esperando o camburão para levá-los.) No outro dia esse radialista famoso de Belém pedia provindencias contra a ação policial porque dizia que a policia tinha sido arbitraria, pois ali tinha estudantes. Pode?). E tem de acabar com protecionismo de torcedores tipo o senhor jose Malcher o qual acho que se fosse jogo do Remo ele não faria essa denuncia de cabar com essas torcidas. Se tem de acabr com uma tem de cabar com todas definitivamente. Para completar agora virou moda em jogos de grande público do Paysandu marginais da Remoçada se infiltram no meio de torcedores de times de fora para provocarem os marginais da terror bicolor e onda começa logo cedo fora dos estádios e a polica não faz nada para coibir. Ainda faz escolta para esses marginais que visilmente vão para travar guerra, assaltar e roubar nos estadios e em redor deles. Ontem quando cheguei na minha casa proximo ao Mangueirão às 18:30h me deparei logo com uma gangue de torcida da remoçada misturada com alguns torcedores com camisa do Fortaleza fazendo arrastões em praça em frente ao Mangueirão, e esperando os mariginais da terror para travarem guerra. Eu so não fui roubado porque corri, mas outras pessoas não tiveram a mesma sorte e foram depenadas porque ainda era cedo e não tiinha nenhum policial os quais so chegaram após às 19 horas por ser jogo de uma torcida só. Lamentavel engano. Após roubarem pessoas que não tinham a quem pedir ajuda, a coisa piorou quando chegaram marginais da Remoçada e a guerra começou. Ums atirando rojoões nos outros e pessoas e comerciantes fechando suas casa e estabelecimentos comerciais. Aí a policia que ja havia sido avisada chegou e entrou em ação e os marginais com camisa do Remo e do Fortaleza correram para em massa para dentro de uma rua em frente ao Mangueirão proximo de minha casa e os da terror bicolor para dentro daquela area do Mangueirão. Não sei se alguem foi detido. O curioso de tudo é é que no jogo Paysandu e América de natal em 2011 que era prenuncio de lotação total da Curuzu ocorreu a mesma guerra e muito pior que um ReXPA com baleamento de torcedores, prisões de váriuos marginais da terror bicolor, porém não houve nenhuma prisão dos marginais da remoçada os quais após provocarem a guerra e fazerem cerca de 5000 mil torcedores do Paysandu desistirem de assirtir o jogo e voltarem para casa se escafederAM nas ruas em redor do Baenão rindo do que provocaram. Então essa essa a conjuntura de marginais organizados de torcidas que não vai acabar porque tem protecionismo de muita gente.

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  7. Edilson Costa Silva,

    Você se refere a mim quando faz menção a um suposto senhor José Malcher? Comentários tendenciosos? Ah, sou torcedor bicolor e não azulino. Não entendi tal confusão, caso você tenha se confundido é claro.

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  8. Daniel, minhas solidariedades. Jogo entre PSC e Fortaleza tem sido ultimamente caso de polícia por conta desses bandidos organizados nessas falanges. Por outro lado, já é chegada a hora de punição exemplar ao PSC pois a reação da torcida – e não só a organizada – tem abusado dessa prática provinciana de arremessar objetos e hostilizar a arbitragem que, por sinal, não interferou em nada no resultado de ontem. Contra o Coritiba, a mesma postura selvagem. O PSC precisa ser punido: perder mando de campo ou jogar sem público. Somente assim, dirigentes e torcedores talvez resolvam atuar com energia. E que fique de alerta o Clube do Remo, pois apesar da torcida ter se disciplinado mais em relação a isso nos últimos confrontos, quando em vez, repete essa mesma postura idiota. É preciso lembrar que a decadência do futebol paraense não é responsabilidade só dos cartolas, afastando torcedores como Daniel Malcher e outros balaurtes que aqui pontuam.

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  9. O gato que durante o dia é de estimação, a noite se ver uma gata no cio acaba com o telhado.

    No Paysandu esses caras pintam muro, arquibancada e doam até sangue, posam de bonzinhos, mas de bonzinho não tem nada.

    Ontem estive alí no castanheira por volta das 7 da noite e uma turma dessa aterrorizava as pessoas que pensavam se tratar de um arrastão.

    Eu já disse um dia aqui no Blog, ESSES CARAS NÃO REPRESENTAM A TORCIDA DO PAYSANDU E MUITO MENOS O PAYSANDU.

    E até quando vamos ter que atura-los?

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  10. Édson do Amaral,

    Considero-me um cara democrático, mas no caso desses caras sou a favor de seu total impedimento nas arenas esportivas de Belém, do Pará e do Brasil. Vejo que somente com mãos-de-ferro e com o peso de leis draconianas é que se pode afastar esses camaradas de tais espaços públicos. Como diria o título da obra clássica de Michel Foucault, mais do que nunca é preciso “vigiar e punir” essas hordas.

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