A ditadura do resultado

Por Gerson Nogueira

Passamos os últimos meses acompanhando o renascimento de um jeito ultrapassado e rude, grosseiro até, de jogar futebol. A surpresa é que o fenômeno acontece em momento dos mais desfavoráveis, pois os atuais campeões do mundo tratam a bola com delicadeza e arte.

Há apenas dois anos, a Espanha triunfava na África do Sul com um estilo que o Barcelona elevaria, logo em seguida, à condição de puro espetáculo. E a mesma Fúria venceu a última Eurocopa com todos os méritos, aplicando goleada humilhante na Itália na partida final.

Em tese, o exemplo espanhol seria imediatamente copiado mundo afora, como personificação do futebol artístico que todos reverenciam. Quis o destino, porém, que a filosofia retranqueira que habita todos os despossuídos de talento começasse a reagir.

De maneira tímida no começo, a reação dos brucutus começou com a conquista da Liga dos Campeões da Europa pelo Chelsea, o mais defensivo de todos os times que praticam o pouco ofensivo futebol britânico. Penso que o triunfo inglês, após subjugar o espetacular Barcelona, devolveu aos operários do jogo a esperança perdida e eles se espalharam pelo mundo.

A nova onda chegou a este lado do planeta representado pelos finalistas da Taça Libertadores. Corinthians e Boca Juniors atropelaram Santos e Universidad do Chile, cultores de um estilo bonito de jogar. No fim, triunfou a pegada marcial dos corintianos. Nada mais anos 30, visto que Tite e seus discípulos praticam a marcação bovina, prima-irmã do catenaccio que a Itália legou ao mundo.

O torcedor mais apressado, aquele tipo que só pensa na comemoração de títulos, pouco se importa com essas filigranas técnicas. No catecismo dos idiotas da objetividade, futebol é sarrafo, transpiração absoluta, marcação homem a homem e… bola no barbante.

São os mesmos hereges que, ante outra epifania do jogo feio – a vitória do Palmeiras na Copa do Brasil –, bradam que só o futebol-rambo tem salvação. Já vejo no horizonte a silhueta de Felipe Melo e Hulk como esperanças para 2014. Eu passo.

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A súbita queda-de-braço entre Ronaldo e dirigentes do Audax, dono de parte dos direitos do corintiano Paulinho, expõe as entranhas de algumas ligações perigosas que ainda florescem no futebol brasileiro. Ao contrário do que havia feito com Neymar, que também é seu contratado, o Fenômeno telefonou, na condição de empresário de jogadores, e aconselhou Paulinho a permanecer no Brasil.

José Carlos Brunoro, representante do Audax, deixou escapar que o jogador teria se encantado por propostas do Corinthians e do empresário. A parte mais curiosa da declaração é quando ele diz esperar que não tenha sido prometido ao volante um lugar na Seleção, “porque isso seria muito perigoso para o futebol brasileiro”.

É óbvio que Brunoro sabe muito bem do que está falando e deve conhecer a natureza do acordo para segurar Paulinho, um volante comum, igual a dezenas de outros que povoam as meiúcas de times nacionais.

A promiscuidade da relação de clubes influentes, dirigentes gananciosos e a cúpula da CBF foi responsável pela convocação, ao longo de décadas, de jogadores inexpressivos e que não tinham currículo, nem bola, para vestir a gloriosa camisa do escrete.

Foi assim com Amaral, volante espanador revelado no Palmeiras que ganhou de Zagallo até posição nova na Seleção: era o número 1 do time. Um pouco antes, Parreira já havia inventado Paulo Sérgio, que no selecionado tirou passaporte para voos mais altos. O próprio Mano Menezes despertou suspeitas com as seguidas chances dadas a jogadores oriundos do Corinthians, como Elias e Ralf. Diante desses exemplos – e da frase de Brunoro –, cabe esperar pelas futuras convocações da Seleção.

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Era um amistoso sem maior importância em Paragominas, mas marcou oficialmente a saída de cena de Adriano, cultuado por metade da torcida remista como “paredão” e, pela outra, como azarado. Foi excluído da delegação do Remo, perdendo lugar para Lino, arqueiro sub-20.

Nunca entendi como um jogador pode ser apontado como símbolo de má sorte por insucessos que, em última análise, dependem de um time inteiro. Adriano, atleta irrepreensível e goleiro de bons recursos, caiu em desgraça com o técnico Edson Gaúcho após os gols sofridos diante do Penarol no Baenão.

A coisa é tão séria que um novo goleiro, Gustavo (vindo da Ponte Preta), já foi providenciado. Dizem que todo técnico gosta de ter um goleiro de sua confiança. A ser verdade, Gaúcho parece não levar a menor fé no ex-paredão azulino.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 15)

10 comentários em “A ditadura do resultado

  1. Eu também acho o Adriano um excelente goleiro e injustamente culpado pelos fracassos do time, acho que mesmo na reserva não deveria sair do clube, pois acho o Jamilton muito inseguro.

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  2. Gerson, roda roda e vc vem falar do corinthians, não acho possível que um time campeão invicto do maior torneio do continente e levando apenasvtrescgols não tenha qualidades. Agora e importante acentuar a evolução física e tática do nosso esporte bretão. Hoje não serem a lerdes de antes e lógico que um time que consiga grande organização coletiva e acentuado preparo físico levara vantagem, e o principal isso e bonito de se ver caro amigo gerson, se isso não lhe agrada veja no YouTube os jogos da copa de 70 onde seu xará pegava a bola no meio campo virava o corpo, rodava as cadeiras e lançava o rei do futebol pra um lino gol. Hoje caro gerson no que ele vira se o corpo encontraria um ralf da vida que lhe bateria a carteira e tocaria para o Émerson querem alta velocidade passaria como um raio por pizza e brito e navfebte do esquálido feliz faria a alegria dos mano. Vai corinthians. E não esqueça em dezembro quando o bota como sempre estará perdendo fôlego e lutando por uma honrosa 10 posiciono brasileiro, estaremos em tokio, disputando com o grande chelsea que e o melhor time do mundo nesse futebol de forca e coletividade que vc tanto odeia. Abraço amigo escriba baionense.

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  3. Nessa hora a hierarquia do clube tem de ser respeitada, não importa qual seja o treinador. A diretoria precisa num momento como esse impor-se e garantir a permanencia do goleiro, de comprovada segurança. O clube precisa ter sua cota, não se pode entregar tudo na mão do treinador pois com 2 derrotas este vai embora e o “grupo” fica orfão. O LOP tem essa vantagem, veja o caso do Capanema, Davino não o conhecia e hoje o jogador é titular no time do PSC.

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  4. Quando estava no tricolor paulista o Leão rugiu alto com Lucas pedindo que o mesmo largasse a bola, para um jogador habilidoso que nem ele, soou pra ele e pra todos como, não invente, jogue feio, mas faça o simples.

    O Neymar é outro que quando tenta suas jogadas de efeito, e acerta é gênio, mas se erra é duramente criticado, com o aval dos carniceiros da bola dizendo que futebol é objetivo.

    A magia do futebol arte está naquilo que o artista pode produzir, se for tolido será como um outro qualquer.
    Aí virão discursos de pernas de pau de pau dizendo que no seu time não tem estrela.
    Até os juizes hoje fazendo até rodinhas com spray e aparecendo com patrocinio na manga da camisa tem ajudado a arrebentar com os bons jogadores.

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  5. Perfeita a coluna, amigo Gerson. O título, então…
    – Quanto ao Adriano, sempre pensei ser ele, um bom goleiro e achei acertadíssima sua contratação. Açontece que o tempo passa e vida de goleiro é assim, mesmo, não pode falhar e no caso desse goleiro, penso que já vem falhando, desde o Estadual. Acredito que o Édson faz muito bem em pedir seu desligamento e trazer um goleiro mais novo e bom, como deu pra observar, no goleiro Gustavo.

    – Amigo Marcelo, Davino assistiu 3 jogos do Capanema, antes de dar o aval para sua contratação. Espero que o jogador mantenha essa regularidade, tão difícil em jogadores locais, com pouca rodagem.
    É a minha opinião.

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  6. Aliás, assisti, ontem Santa Cruz x Treze e, deu pra perceber o quanto o Santa vem forte pra essa série C. O placar de 2 x 1 para o Santa, não refletiu o histórico do jogo. O Santa abusou de perder gols feitos e, tem um jogador, conhecido nosso, que é o maestro do time: Luciano Henrique, jogou muito, além de 2 alas muito bons, principalmente o direito, que sai mais, como também joga com 2 homens, aparentemente de área, Dênis Marques e Fabricio Ceará(esse, sai mais). Fiquei surpreso com esse bom time do Santa. Papão terá muitas dificuldades em Recife, na sexta feira, como eles terão aqui, também. Será um jogo altamente tático e, nesse quesito, sou mais Davino.
    É a minha opinião.

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  7. Cláudio, acho que essa implicãncia do Gaúcho com o Adriano vai além das falhas do goleirão. Adriano tem créditos, sim, e não merece esse tratamento que está sendo dado pelo treinador. É bem melhor que o Janilton. Merece respeito pela sua história no clube;

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  8. O Adriano foi um grande ídolo no remo,ganhou merecidamente o apelido de paredão,mais acho que um clube não pode ser assistencialista,ele não está bem há muito tempo.Renovação é preciso,acho até que outros atletas que já estão lá há um bom tempo também deveriam ser dispensados.Discordo apenas da fama de pé frio,ele já ganhou títulos e viveu bons momentos no remo,mais o tempo passa.

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  9. De fato, o futebol sofre ocasionalmente com surtos de embrutecimento explícito. Ninguém se esmera em imitar o Barcelona e a seleção da Espanha no trato com a bola, pois é preferível (e muito, mas muito menos trabalhoso) se fechar e “tentar a sorte” de uma bola lá na frente e realizado o intento, se fechar mais ainda na frente. O resultado? Os campeões deste ano não possuem tantos predicados assim, pois suas forças estão no conjunto, no suor, na transpiração e na ocupação de espaços e na movimentação nas retaguardas, na frente é só bola alta ou uma bobeada do zagueiro adversário e salve-se quem puder. Para a torcida corintiana e para a torcida do Chelsea as conquistas foram espetaculares, pois foram inéditas e eram muito ansiadas por seus fanáticos tifosi’s e para os referidos clubes. Não irei mentir: até a torcida bicolor adoraria ver o Paysandu conquistar o acesso e a Série C atuado na forma corintiana e chelsesca (inclusive eu), dadas as contingências atuais (6 anos na deficitária Terceira Divisão, sem grandes receitas e grande exposição nas mídias). O problema se dá quando tais formas e estratégias de de jogo se tornam modelos. E é aí vemos que só transpiração não ganha jogos e títulos, que é preciso algo mais. O Brasil de Dunga em 2010 é o maior exemplo disso.

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  10. Creio que Adriano, Fabio Oliveira e Diego Barros já foram bons jogadores. Ganharam pouco e perderam muitos em suas passagens pelo Clube do Remo. Agora, tá mais que na cara que o Gaúcho indicou o Mendes (praticamente aposentado) por “compadrio”. Referido jogado não joga nadinha, há anos. Repito: há anos. Desde essa contratação arriscada que eu desisti de acompanhar o Remo nessa Série D.

    Infelizmente, Gaúcho parece ser mais um daqueles treinadores que superlotam o clube de “reforços”.

    Parece que a dívida no TRT só vai aumentar.

    Quanto ao Adriano, que ele saia, mas acompanhado de Aldivan, Fabio Oliveira, Avalos, Mendes, Diego Barros e, pelo visto, Leo Medeiros.

    Ah, tchau Gaúcho. É melhor você pedir uma vaga no “metendo bronca”.

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