
Do Blog do Menon
“O Marcão entrou, não entrou?” foi uma frase que ouvi muito há dois anos quando escrevi o livro “Os 11 maiores goleiros do futebol brasileiro” há dois anos. Era uma pergunta, era uma sugestão, uma sutil ameaça e também uma forma de proteção ao jogador. A relação do torcedor com Marcos é assim: ele o admira, é agradecido por tudo o que fez, mas também sente necessidade de ajudá-lo. Mesmo em um caso banal como esse, como se fosse possível o goleiro pentacampeão do mundo não estar entre os 11 maiores.
A união entre o torcedor do Palmeiras e Marcos não se deve apenas às tantas defesas que fez, aos tantos gols que impediu, ao fato de pegar os pênaltis cobrados por Marcelinho, Vampeta e Dinei, mas também por haver jogado a segunda divisão com o clube, a não aceitar a oferta do futebol inglês, às tantas contusões que impediram que os 530 jogos com a camisa do Palmeiras fossem muitos mais. O pacto não é de torcedor com ídolo. É mais do que isso, é de torcedor para torcedor. Você defende o gol do Palmeiras e eu te defendo aqui fora. Faço você entrar no livro. Não admito que outro goleiro possa estar no seu nível, já esqueci os 6 a 0 do Coritiba, os 7 a 2 do Vitória, nem me lembro dos 4 a 4 com o Santo André ou aquele gol contra o Manchester United.
Marcos deixa o futebol como um dos grandes goleiros do futebol brasileiro. Sai como alguém incontestável, de uma forma acima de suas qualidades técnicas. É amado pelos palmeirenses e respeitado pelos adversários. Para os verdes, é São Marcos. Para os outros, é o Marcão, um boa praça que merece todos os elogios.
O goleiro que hoje deixa o futebol é também um cara dos velhos tempos. É representante do futebol dos velhos tempos, em que alguém faz a carreira toda a vida em um clube. Como Oberdan. O normal hoje é um jovem como Jean Chera passar a adolescência no Santos, depois inventar uma ponte e acertar com o Flamengo. Ele nunca sonhou em ver a torcida do Santos gritar o seu nome, nunca sonhou em ser campeão com o time de Pelé, nunca amou o clube que defendeu. Futebol é dinheiro, mas que tipo de homem é esse?
Edson Silva acertou com o São Paulo. Disse que não preteriu o Palmeiras. O motivo? “Foi meu empresário que definiu para onde eu iria. Nem fiquei sabendo”. Novos tempos são assim. Não são para Marcos, que optou por jogar no Palmeiras, teve a capacidade de definir o seu destino.
Estou passando uns dias em Foz do Iguaçu e Ciudad del Este. Fui comprar uma camisa do time de Foz e não havia. Fui comprar uma do 3 de Febrero, do Paraguai e não tem. Os novos tempos são assim: não existe o futebol local, não existe vontade em jogar por um time do Brasil. O jeito é cair fora logo – como Lucas Piazon – e faturar em euros. Marcos tinha de parar mesmo, é de outros tempos. Old fashion.
Agora, é cada um por si. O torcedor palmeirense sabe que não terá mais um fanático como ele próprio a defender o gol do seu Palmeiras. Terá um profissional, possivelmente muito competente, mas nada de paixão. Nada de São Marcos.