Cariri desiste de jogar no Paissandu

A fase anda tão braba na Curuzu que até o desconhecido meia Cariri resolveu esnobar o Paissandu. Depois de ser anunciado como novo reforço do clube, na última sexta-feira, o jogador informou à diretoria do Papão que preferiu aceitar outra proposta (não se sabe qual) e abriu mão de vir para Belém.

Melhor assim. Menos um enganador no pedaço.

À espera do bom futebol

Por Gerson Nogueira

O campeonato já chegou à terceira rodada – que termina neste domingo com o jogo Águia x São Raimundo – e não pegou no breu. Nada de colher-de-chá ao torcedor mais exigente. Até o momento, não se viu uma partida memorável. Quase todas foram tecnicamente sofríveis, com abundância de faltas e passes errados, times desarvorados em campo e destaques individuais que não empolgam.
Tuna x Águia e S. Raimundo x S. Francisco foram os melhores jogos das rodadas iniciais. O clássico santareno teve emoções fortes, muita correria e algumas atuações individuais destacadas.
No embate das Águias, houve muito equilíbrio no meio-de-campo e futebol ofensivo e aberto nos 30 minutos finais. Chegou a ser empolgante ver os times se lançarem ao ataque em busca do gol salvador, afinal marcado pelos marabaenses a cinco minutos do fim.    
Remistas e bicolores fazem campanhas desiguais, mas estão quase irmanados no pouco entusiasmo que despertam nos torcedores. Mesmo com desempenho 100%, o Remo não tem aprovação unânime. Carente de vitórias, o torcedor fica menos exigente e lota o Baenão a cada jogo. Mas até os mais fanáticos já se incomodam com o rendimento do time. 
Na sexta-feira à noite, com a Curuzu às moscas, o Paissandu conquistou a primeira vitória, em cima da Tuna. O mau futebol apresentado justificou plenamente o tamanho da platéia. A única (e positiva) diferença em relação aos primeiros jogos foi o bom aproveitamento das chances.
A falta de inspiração e o caos na parte tática continuaram do mesmo jeito. São, por assim dizer, marcas da era Nad. O espaço cedido no meio-campo era tão amplo e generoso que, mesmo sem ser brilhante, a Tuna foi superior na maior parte do tempo, vacilando apenas nas finalizações.  
O próprio líder Cametá, de trajetória surpreendente na competição, teve atuações pouco convincentes. Ganhou do Paissandu em dois lances fortuitos e passou raspando pelo campeão Independente. Curioso dizer isso de um time que, assim como o Remo, venceu duas e se posiciona tão bem na tabela. Mas é visível que os jogos estão sonolentos, obrigando o torcedor a aceitar o fato de que nem sempre bons resultados significam futebol de qualidade.   
 
 
Para a coluna, o time das duas primeiras rodadas do Parazão ficou assim: Evandro (Cametá); Sinésio (Tuna), Perema (S. Francisco), Juan Sosa (Remo) e Rairo (Águia); Billy (Paissandu), Betinho (Remo), Flamel (Águia) e Lineker (Tuna); Rafael Paty (Cametá) e Rodrigão (S. Francisco). Técnico: Cacaio (Cametá).
 
 
Quando se imagina que tudo vai mal, percebe-se que pode ficar ainda pior. De repente, clubes do Pará descobriram um novo eldorado futebolístico. Depois da valorização do Rio Grande do Norte, com a casual descoberta de Tiago Potiguar, a bola da vez é a região Centro-Oeste. O campeonato revela a curiosa fixação de Remo, Paissandu, Águia e Independente por jogadores de Tocantins e Goiás. Contas atualizadas indicam que disputam o atual campeonato estadual pelo menos nove atletas vindos desses Estados. Jalleson Cariri, anunciado como novo reforço pelo Paissandu, é mais um a engrossar a legião.  

Desabafo do amigo Dennis Oliveira, publicitário e torcedor do Paissandu: “É melhor o Papão pedir concordata, licença, apresentar atestado médico, sei lá, pedir pra sair, mas não dá pra continuar assim. Jogar o Campeonato Paraense com um time sub-20 mal treinado, mal escalado, mal organizado. Basta de desculpas esfarrapadas de que é preciso incentivar os garotos, de que não podemos cometer os mesmos erros de contratar um caminhão de jogadores de final de carreira”.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 22)

Pensata: Craqueiras e craqueiros

Por Drauzio Varella

A CONTRAGOSTO, sou daqueles a favor da internação compulsória dos dependentes de crack. Peço a você, leitor apressado, que me deixe explicar, antes de me xingar de fascista, de me acusar de defensor dos hospícios medievais ou de se referir à minha progenitora sem o devido respeito.
A epidemia de crack partiu dos grandes centros urbanos e chegou às cidades pequenas; difícil encontrar um lugarejo livre dessa praga.
Embora todos concordem que é preciso combatê-la, até aqui fomos incapazes de elaborar uma estratégia nacional destinada a recuperar os usuários para reintegrá-los à sociedade.
De acordo com a legislação atual, o dependente só pode ser internado por iniciativa própria. Tudo bem, parece democrático respeitar a vontade do cidadão que prefere viver na rua do que ser levado para onde não deseja ir. No caso de quem fuma crack, no entanto, o que parece certo talvez não o seja.
No crack, como em outras drogas inaladas, a absorção no interior dos alvéolos pulmonares é muito rápida: do cachimbo ao cérebro a cocaína tragada leva de seis a dez segundos. Essa ação quase instantânea provoca uma onda de prazer avassalador, mas de curta duração, combinação de características que aprisiona o usuário nas garras do traficante.
Como a repetição do uso de qualquer droga psicoativa induz tolerância, o barato se torna cada vez menos intenso e mais fugaz. Paradoxalmente, entretanto, os circuitos cerebrais que nos incitam a buscar as sensações agradáveis que o corpo já experimentou permanecem ativados, instigando o usuário a fumar a pedra seguinte, mesmo que a recompensa seja ínfima; mesmo que desperte a paranoia persecutória de imaginar que os inimigos entrarão por baixo da porta.
A simples visão da droga enlouquece o dependente: o coração dispara, as mãos congelam, os intestinos se contorcem em cólicas e a ansiedade toma o corpo todo; podem surgir náuseas, vômitos e diarreia.
Quebrar essa sequência perversa de eventos neuroquímicos não é tão difícil: basta manter o usuário longe da droga, dos locais em que ele a consumia e do contato com pessoas sob o efeito dela. A cocaína não tem o poder de adição que muitos supõem, não é como o cigarro cuja abstinência leva o fumante ao desespero esteja onde estiver.
Vale a pena chegar perto de uma cracolândia para entender como é primária a ideia de que o craqueiro pode decidir em sã consciência o melhor caminho para a sua vida. Com o crack ao alcance da mão, ele é um farrapo automatizado sem outro desejo senão o de conseguir mais uma pedra.
Veja a hipocrisia: não podemos interná-lo contra a vontade, mas devemos mandá-lo para a cadeia assim que ele roubar o primeiro transeunte.
A facção que domina a maioria dos presídios de São Paulo proíbe o uso de crack: prejudica os negócios. O preso que for surpreendido fumando apanha de pau; aquele que traficar morre. Com leis tão persuasivas, o crack foi banido: craqueiras e craqueiros presos que se curem da dependência por conta própria.
Não seria mais sensato construirmos clínicas pelo país inteiro com pessoal treinado para lidar com dependentes? Não sairia mais em conta do que arcar com os custos materiais e sociais da epidemia?
É claro que não sou ingênuo a ponto de acreditar que, ao sair desses centros de tratamento, o ex-usuário se tornaria cidadão exemplar; a doença é recidivante. Mas pelo menos ele teria uma chance. E se continuasse na cracolândia?
E, se ao receber alta contasse com apoio psicológico e oferta de um trabalho decente, desde que se mantivesse de cara limpa documentada por exames periódicos rigorosos, não aumentaria a probabilidade de permanecer em abstinência?
Países, como a Suíça, que permitiam o uso livre de drogas em espaços públicos, abandonaram a prática ao perceber que a mortalidade aumenta. Nós convivemos com cracolândias a céu aberto sem poder internar seus habitantes para tratá-los, mas exigimos que a polícia os prenda quando nos incomodam. Existe estratégia mais estúpida? Faço uma pergunta a você, leitor, que discordou de tudo o que acabo de dizer: se fosse seu filho, você o deixaria de cobertorzinho nas costas dormindo na sarjeta?

Popularidade: Dilma supera ex-presidentes

A presidente Dilma Rousseff atingiu no fim do primeiro ano de seu governo um índice de aprovação recorde, maior que o alcançado nesse estágio por todos os presidentes que a antecederam desde a volta das eleições diretas, informa reportagem de Bernardo Mello Franco, na Folhadeste domingo. Segundo pesquisa Datafolha, 59% dos brasileiros consideram sua gestão ótima ou boa, enquanto 33% classificam a gestão como regular e 6% como ruim ou péssima. Ao completar um ano no Planalto, Fernando Collor tinha 23% de aprovação. Itamar Franco contava 12%. Fernando Henrique Cardoso teve 41% no primeiro mandato e 16% no segundo. Lula alcançou 42% e 50%, respectivamente. O Datafolha ouviu 2.575 pessoas nos dias 18 e 19 de janeiro. A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.