Por Gerson Nogueira
A lembrança da frase-sentença cunhada por Vampeta, em 2002, desencadeou nos últimos dias um debate nas redes sociais sobre o ofício de jogar bola. Exemplos de comportamento errático por parte de jogadores muito bem pagos, como os reincidentes Adriano e Valdívia, acentuam a importância e atualidade da discussão.
Quando disse que fingia jogar porque os clubes fingiam pagar, Vampeta defendia o Flamengo e estava em Belém disputando a Copa dos Campeões. Não sabia, mas estava demarcando precisamente a natureza das relações entre dirigentes e boleiros, desde sempre.
No Brasil pentacampeão do mundo, sempre foi de bom-tom passar ao largo dos calotes e malandragens que fazem parte da rotina dos clubes. Desde os pioneiros, passando depois pela geração de Garrincha, o país do futebol sempre produziu dúzias de Macunaímas em proporção e velocidade só inferiores ao surgimento de cartolas metidos a espertos.
Como o ex-volante falastrão, cuja verborragia sempre foi superior ao futebol de módicos recursos, craques indiscutíveis também se sobressaíram pelo talento para driblar as regras rígidas que a carreira impõe. Paulo César Lima, Romário, Renato Gaúcho, Edmundo, Éder e Ronaldinho Gaúcho são alguns expoentes desse numeroso elenco.
Quase sempre simpática e popular, a turma do chinelinho foi responsável até por uma inversão de perspectiva em relação a jogadores considerados caretas. Pelé, Zico, Falcão, Bebeto e Kaká integram a confraria dos cumpridores de obrigação. Viraram até, em muitos momentos, CDF’s estigmatizados por se dedicarem de corpo e alma à profissão, como se isso fosse um pecado.
Nem sempre, porém, as coisas funcionam como na sentença de Vampeta. A imensa maioria dos atletas cumpre dignamente suas obrigações, embora nem sempre receba a devida contrapartida salarial. Há até conhecidas exceções, mesmo no futebol paraense, de malandros que conseguiram fingir jogar e ainda foram muito bem pagos por isso.
Hamilton Pinheiro, 63 anos, jornalista forjado na dureza das redações, remista, botafoguense, nos deixou ontem. Quando as pessoas morrem, a tradição às vezes força homenagens e falseia verdades. No caso de HP, amigo com quem tive a honra de trabalhar por duas ocasiões (na TV Cultura e na RBA, ali pelos anos 90), os elogios brotam naturalmente.
Além da competência profissional demonstrada em décadas de jornalismo radiofônico, era um boa-praça, com a incrível capacidade de colecionar amizades. Um grande homem bom, essencialmente. Espirituoso, costumava saudar a todos com a frase clássica: “Prossiga, comandante…”. Na verdade, era a senha para engrenar um papo sempre agradável sobre qualquer assunto. HP, craque na arte de viver, deixa incontáveis saudades e amigos.
Direto do blog
“Fugindo das observações técnicas, mas provocando outras também importantes, pergunto: essa garotada (Remo sub-18) passa por preparação psicológica? Vejo acanhamento no comportamento dos garotos em competições dessa natureza. Isso se faz notar principalmente nos minutos iniciais dos jogos. Quando resolvem ‘acordar’, o jogo já lhes é adverso e aí tudo se complica. Com a palavra, os apedeutas do futebol paraense”.
De Tavernard Neves, opinando ainda sobre a campanha remista na Copa SP.
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