Meu amigo Cosme Rímoli, dono de pena afiada, não deixou por menos: Paulo Henrique Ganso teve uma atuação contra os Estados Unidos de fazer Dunga chorar. De raiva, certamente. Parece exagero, mas o comportamento do paraense bom de bola no gramado do New Meadowlands Stadium, na noite de terça-feira, foi irrepreensível. Jogou como gente grande, craque feito. Parecia inteiramente à vontade, senhor absoluto da meia cancha, como se estivesse desfilando sua arte no campinho de Francisco Vasques ou na Curuzu, nos tempos em que ainda roía a pupunha do anonimato.
Concentro-me em Ganso por razões mais do que óbvias, embora tenhamos que, por justiça, aplaudir todos os que participaram deste jogo histórico, que marcou a reconciliação do Brasil com o futebol bem jogado. Foram quatro anos de trevas, dentro e fora das quatro linhas. Um tempo que os brasileiros, acostumados com o alto padrão de nossos boleiros, não se reconheciam naquela seleção chinfrim levada à África do Sul para fazer grosserias com e sem bola.
A vitória sobre os Estados Unidos, que jogaram com a força máxima, foi redentora. Não pelo placar, pois foi 2 a 0 como podia ter sido 5 ou até 6, tamanha a profusão de chances criadas pelas triangulações e lançamentos em profundidade. A redenção está no compromisso público assumido de respeitar as origens do nosso futebol. O resgate do drible e do passe inteligente é dessas contribuições inestimáveis, que nos animam a ter esperanças nesses meninos, que começam a pôr as unhas de fora.
Comentei o jogo para a Rádio Clube, ao lado de Valmir Rodrigues e Giuseppe Tomazo, e me flagrei torcendo nervosamente pela Seleção como se o jogo valesse uma taça ou classificação. Nem lembro mais quando tive a pachorra de torcer de tal modo pelo escrete, feito um pacheco ensandecido, num mero amistoso. Talvez quando ainda garoto – e a identificação com esse grupo de moleques não podia ser mais natural.
Outro amigo, o poeta Ronaldo Franco, telefona para relatar sua emoção ao ver o time de Mano Menezes tocar a bola com a autoridade dos que dominam o ofício. Que as lágrimas do bardo da Mangueirosa sejam prenúncio de um futuro majestoso para a geração de Ganso, Neymar, André, Carlos Eduardo, Lucas e David Luiz – este, então, um beque como há muito não se via por aqui.
Um dos clubes mais gloriosos do mundo, dono de história singular, festeja hoje 106 anos de existência. Campeão desde 1907, como diz a letra atualizada do hino, o Botafogo é grande pela própria natureza. Tem 19 títulos cariocas, um brasileiro e um da Conmebol. É, com orgulho, o clube que mais cedeu jogadores à Seleção Brasileira em Copas, pelo que se pode concluir que as maiores glórias do nosso futebol estão intimamente associadas à Estrela Solitária. Lembrete oportuno enviado pelo engenheiro agrônomo Pedro Paulo da Costa Mota, obviamente botafoguense, como este escriba baionense.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quinta-feira, 12)