O Paissandu é líder do Brasileiro da Série C na classificação geral entre os 20 participantes. Nunca tinha feito campanha desse nível na competição, muito pelo contrário até. Em 2008, sob o comando de Dario Lourenço, terminou em 63º lugar e só não despencou para a Série D porque esta ainda não existia. No ano passado, deu com os burros n’água a partir de um erro de avaliação de Edson Gaúcho e depois afundou de vez sob o comando de Valter Lima.
Com Charles, que contraria a velha mania de recorrer aos técnicos importados, o Paissandu tem conduta irretocável na competição. Para começar, ganha seus jogos em casa com autoridade, buscando fazer o máximo de gols. O efeito é duplamente positivo: melhora o saldo e atemoriza os adversários. Quando sai da Curuzu, abraça o futebol pragmático. Encolhe-se para dar o bote no momento certo.
A estratégia, porém, só é bem-sucedida em função da qualidade do atual time do Paissandu. Começa pelo meio-de-campo, que foi testado (e aprovado com louvor) durante o campeonato estadual. Tácio, Sandro, Fabrício e Tiago Potiguar se entendem por música e, aproveitando esse entrosamento, Charles foi ajustando os demais setores. Até a defesa, sempre sujeita a sobressaltos com a dupla Leandro Camilo-Paulão, dá sinais de estabilidade.
Diante da necessidade de manter um atacante veloz ao lado de Bruno Rangel, a partir do afastamento de Moisés, Charles não teve dúvidas: lançou mão de Tiago Potiguar, meia de bons recursos técnicos e que é a peça de referência no plano ofensivo.
Multifuncional, Potiguar encaixou bem na função, embora sem a mesma produção apresentada quando se dedica à criação de jogadas no meio-campo. Mas, enquanto outro jogador não aparece para compor o ataque, o Paissandu vai se mantendo invicto no torneio, sem acusar qualquer queda de rendimento.
O triunfo de domingo em Santarém atestou a maturidade tática da equipe, que repetiu um procedimento empregado contra o Fortaleza, na capital cearense. Fechado no setor defensivo, com Tácio e Sandro guarnecendo os zagueiros, o Paissandu espera pelo avanço inimigo e procura recuperar a posse da bola. Feito isso, parte para o ataque, explorando Potiguar, normalmente pelo lado esquerdo – missão facilitada pela entrada do lateral Aldivan, de características bastante ofensivas.
Os números atestam a funcionalidade do esquema empregado e o nível do atual grupo, que se beneficia também da excepcional forma do goleiro Alexandre Fávaro, que tem se transformado em barreira quase inexpugnável, fonte de segurança para toda a retaguarda bicolor.
O trabalho de Charles – que poucos reconhecem publicamente –, traduzido na invicta campanha, faz crer que o Paissandu está no rumo certo para atingir a meta estabelecida para a temporada, que é o acesso à Série B.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta terça-feira, 17)
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