O Santos, que acaba de cravar outra marca cintilante na coronha do revólver ao conquistar a Copa do Brasil, começa a se destacar como o clube que mais caça talentos país afora. E que ninguém critique o Peixe por essa obstinação em busca de craques ou simples promessas. Todos os grandes (e endinheirados) clubes do planeta agem assim. Afinal, quem tem sonhos de grandeza deve alimentar projetos grandiosos.
No Brasil, antes do Santos, somente o São Paulo se dedicava com afinco a descobrir bons e desconhecidos jogadores. Cumpria aquele receituário típico do bom comerciante: comprava mercadoria barata para, depois de investir no atleta, repassá-lo ao futebol europeu por um bom preço. Ganhou muito dinheiro fazendo isso. Foi assim com França, Breno, Cicinho, Kléber, Ilsinho, Hernanes e tantos outros que surgiram do nada e ganharam visibilidade com a camisa são-paulina.
Ressalte-se, porém, que o São Paulo não se contenta em fazer a garimpagem em outros clubes. Tenta atrair a molecada alheia, mas investe também nas divisões de base, com estrutura física e equipe qualificada para produzir seus próprios craques. Kaká é o melhor exemplo.
No outro extremo, localizam-se os clubes essencialmente formadores. São poucos, mas os resultados confirmam o acerto da estratégia. Grêmio, Internacional, Atlético-PR, Goiás e Cruzeiro empenham-se cada vez mais, gastando altas somas para descobrir novos valores.
De todos, contudo, o projeto mais certeiro e estruturado é do Vitória, vice-campeão da Copa do Brasil. Com um histórico de grandes revelações – Dida, Vampeta, Edilson, Felipe e tantos outros. A título de exemplo, vale dizer que, contra o Santos, anteontem, o rubro-negro baiano alinhou nada menos que seis titulares provenientes de sua escolinha. Não levou o caneco, mas apresentou um time digno, de bom nível e que pode vir a representar lucros excepcionais no futuro. Renovação ainda é o melhor caminho.
Remo e Paissandu, que têm posses e histórias mais ou menos parecidas com as do Vitória, bem que podiam enveredar por esse caminho. Talentos não faltam por aqui. Ganso, Pará e Tiago Alves são provas concretas disso, além de Moisés e Héliton. Para lucrarem com isso, porém, algumas providências são obrigatórias: investimento nas divisões de base e profissionalização da gestão. O problema é que os atuais donos do poder talvez não aceitem desafio tão óbvio.
Os números são incontestáveis. O time liderado pelo paraense Paulo Henrique Ganso fechou a Copa do Brasil com o melhor ataque (39 gols em 11 jogos) e tem a ofensiva mais poderosa do país. São 134 gols em 48 partidas, desde janeiro. É, sem dúvida, uma máquina de fazer gols e tem a menor média de idade (22,8 anos) da Primeira Divisão.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 6)